No último dia de 2024, o responsável da tutela, Alberto Baños, decretou o encerramento (para já temporário) do Centro Cultural da Memória Haroldo Conti, que funciona no espaço da antiga ESMA (Escola de Mecânica da Armada), em Buenos Aires, e dispensou todos os seus trabalhadores, afirmando que o centro cultural iria ser reestruturado, para «abordar outras problemáticas de direitos humanos».
Segundo referiu a Associação Trabalhadores do Estado (ATE), os funcionários do centro receberam mensagens a informá-los de que não se deveriam apresentar no local de trabalho no primeiro dia útil de 2025.
Para denunciar estas decisões e as políticas de desmantelamento dos serviços públicos levadas a cabo pelo governo de Javier Milei, terá lugar em Buenos Aires este sábado, a partir das 18h, o festival «Uma memória que arde, o Conti em guarda». «Que a memória arda, que a história continue, que o Conti siga de pé», afirma-se num comunicado da ATE a propósito do festival.
A divulgação da iniciativa seguiu-se a um plenário amplamente participado, com a presença de trabalhadores de todas as áreas, bem como de dirigentes sindicais e personalidades ligadas à defesa dos direitos humanos, realizado esta quinta-feira na sede da Secretaria, indica o Tiempo Argentino.
Uma decisão que não é um acaso
A decisão de Baños de encerrar o Conti está em linha com a sua restante gestão à frente da Secretaria, marcada pelos despedimentos e pelo desinvestimento em vários programas que o organismo tutelava havia anos, refere a fonte.
Ao abordar os direitos humanos, Baños fê-lo questionando os organismos de defesa dos direitos humanos e sempre na linha de Villarruel, que diz defender a «memória total», que é como quem diz «relativizar» o terrorismo de Estado e os 30 mil desaparecidos da ditadura civil-militar.
Por isso, no que respeita ao centro criado em 2008 em homenagem ao escritor desaparecido Haroldo Conti, Baños afirma que, quando for reaberto, não se centrará exclusivamente nesse período, o da última ditadura militar e do terrorismo de Estado, mas que irá abordar outras problemáticas de direitos humanos em democracia.
Rescisões muito pouco voluntárias
A restruturação está há muito na calha, nomeadamente por via de um programa de «rescisões voluntárias», assim chamadas pelo titular da Secretaria, mas sobre as quais o Tiempo Argentino diz que «têm pouco de voluntário», uma vez que quase 3000 pessoas, contratadas pelo Ministério da Justiça por fora, foram pressionadas a sair.
Quem não aceitou a proposta de rescisão não pôde regressar ao posto de trabalho neste dia 2 de Janeiro.
ATE denuncia «militarização» da Secretaria dos Direitos Humanos
Esta quinta-feira, um grupo de polícias teve a seu cargo a tarefa de receber quem chegava à porta do edifício com uma lista, comunicando quem podia e não podia ali entrar. Da lista constavam cerca de mil nomes de trabalhadores de todo o Ministério da Justiça que não aderiram ao programa de rescisões ou que, tendo aceitado um acordo e o prolongamento do contrato por mais um ano, foram já despedidos.
O secretário-geral da ATE, Rodolfo Aguiar, criticou fortemente estas medidas, afirmando que neste início de ano «se aprofunda o desmantelamento de áreas-chave do Estado».
Além de denunciar a «crueldade, a perseguição e a violência do governo» com os funcionários públicos, Aguiar disse que este executivo quer «varrer a memória do nosso povo e destruir todas as políticas de direitos humanos». «Temos de o impedir. Temos de defender a nossa memória colectiva», defendeu.
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