Moscovo mostrou abertura para voltar à mesa das negociações, prometendo analisar a disponibilidade do presidente ucraniano para discutir a neutralidade do seu país, informou a agência Lusa.
Volodymyr Zelensky dirigiu-se ao presidente da Rússia durante uma mensagem televisiva, propondo que se sentassem à mesa de negociações «para acabar com a morte de seres humanos». Na véspera, num discurso à nação o presidente ucraniano afirmara não ter medo de «falar com a Rússia, de falar de tudo: garantias para o nosso Estado, o estatuto de neutralidade».
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, durante a sua conferência de imprensa diária, reagiu favoravelmente às declarações, embora de forma cautelosa: «É uma nova declaração. Demos-lhe atenção. É um passo para o lado positivo. Agora cabe-nos analisá-lo. Não posso dizer mais no momento».
Recorde-se que as principais exigências de segurança da Rússia passam pela desmilitarização da Ucrânia e pelo seu estatuto de país neutro, renunciando às suas aspirações de aderir à NATO.
Mais tarde, o porta-voz presidencial russo veio confirmar a disponibilidade de Vladimir Putin para enviar a Minsk, na Bielorrússia, uma delegação russa composta por «representantes do Ministério da Defesa, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Administração Presidencial, para as negociações com a delegação ucraniana».
Peskov confirmou ainda que o presidente Putin telefonou ao presidente biolurrusso, Alexandre Lukashenko, tendo este confirmado a sua disponibilidade para criar as condições necessárias à chegada das delegações – incluindo «a garantia da sua segurança e integridade» – e à celebração das negociações.
Escolha do local de encontro atrasa negociações
Já anoitecera quando o secretário de imprensa da presidência ucraniana, Sergei Nikiforov, no seu Facebook, confirmou estarem em curso conversações com a Rússia, informa o Ukrainskaya Pravda (Kiev).
Nikiforov afirmou que «as partes discutiram nas últimas horas o lugar e o calendário do processo de negociação» e que «quanto mais cedo comecem as negociações, maior oportunidade haveria para voltar à vida normal».
O secretário de imprensa afirmou que a parte ucraniana não aceitou Minsk como local para a negociação e propôs Varsóvia, que a parte russa por sua vez rejeitou.
Tanto o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, como Maria Zakharova, representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, segundo a agência Tass, contrariam esta versão, assegurando que a interrupção das conversações foi da responsabilidade de Kiev.
Peskov fez notar que o lado ucraniano «ofereceu Varsóvia [em vez de Minsk] e desligou» e Zakharova que «representantes do regime de Kiev propuseram adiar o assunto para amanhã [sábado].
Entretanto, também ao fim da noite de sexta-feira, surgiu no Times of Israel a informação de que Volodymyr Zelensky pediu ao primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, para ser o mediador das negociações com a Rússia e para acolher em Jerusalém a negociação entre os dois países.
O pedido terá ocorrido na manhã de sexta-feira de manhã – portanto, em paralelo às conversações que decorriam com a parte russa –, em telefonema de Zelensky para Bennett.
Segundo aquela fonte, o telefonema terá sido divulgado em primeira mão pela Kan News (Israel) e confirmado ao New York Times por uma fonte oficial israelita e pelo embaixador da Ucrânia em Israel, Yevgen Korniychuk.
Korniychuk afirmou ao NYT: «acreditamos que Israel é o único Estado democrático no mundo que mantém boas relações simultaneamente com a Rússia e a Ucrânia», acrescentando que Bennett não dera uma resposta imediata.
CPPC pede paz e desarmamento
Entretanto, em Portugal, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) lançou também hoje um apelo «à imediata cessação das operações militares, à adopção de gestos e ao avançar de propostas que permitam abrir caminho à resolução negociada do conflito, objectivo que deve ser preocupação de todos quantos verdadeiramente defendem a paz e o respeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas».
O CPPC sublinha que a guerra não é solução nem «serve os interesses dos povos, de todos os povos, que são dela sempre as primeiras vítimas» e entende que Portugal deve pautar a sua acção pelo respeito dos princípios da Constituição da República, «que preconiza a abolição de quaisquer formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado», com o objectivo de promover «uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos».
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