«A escolha dos nomes dos acampamentos, das escolas e demais estruturas do movimento [sem terra] devem levar em consideração a marca e simbologia das histórias de lutas pela transformação social no mundo», explica Fábio Nunes, morador no Assentamento Ho Chi Minh e membro da direcção regional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) da região metropolitana em Minas Gerais.
Tendo em conta que o assentamento foi fundado a 16 de Setembro (de 2005) e «tendo como referência o legado do grande lutador vietnamita e a marca do mês de Setembro (mês da sua morte) nas ocupações que marcaram a vida das famílias», a comunidade escolheu o nome de Ho Chi Minh, acrescenta o texto, publicado no portal do MST, onde se faz ainda uma breve apresentação da figura daquele que nasceu como Nguyen Sinh Cung e ficou conhecido para o mundo como Ho Chi Minh, «aquele que ilumina».
O processo de luta até à conquista da terra
A primeira ocupação ocorreu na madrugada de 23 de Setembro de 2002, com a participação de aproximadamente 150 famílias, no município de Pará de Minas, mas, no início do ano seguinte, a Justiça decretou que as famílias deveriam abandonar a área ocupada.
Continuando em busca de terra, as famílias realizaram duas novas ocupações nesse mesmo ano, mas acabariam por ser despejadas novamente de latifúndios improdutivos nos municípios de Juatuba e Esmeraldas. Estas acções, explica o texto, marcam o início do governo Aécio Neves no estado de Minas Gerais (2003-2010), um período «em que aumentaram as acções de despejo com emprego de força pela Polícia Militar e os conflitos no campo».
Com o desgaste, muitas famílias desistiram do sonho de conquista da terra, que parecia mais distante. No entanto, os anos seguintes ficaram marcados pela intensificação das lutas do MST na região para que «essas famílias fossem assentadas» e, nesse âmbito, houve negociações com o INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] com vista à desapropriação da Fazenda Belo Horizonte, localizada em Nova União.
Como o processo não andava nem desatava, na madrugada de 16 de Setembro de 2005, para «pressionar o governo a fazer o primeiro assentamento de reforma agrária no município», as famílias ocuparam a zona. Então, as negociações avançaram e 37 famílias «foram homologadas na terra» em Dezembro desse ano.
Foi então criado o Assentamento Ho Chi Minh, que possui uma área de 786 hectares, 40% da qual é destinada à preservação e recuperação dos recursos naturais, com grande diversidade de fauna e flora.
Assentamento com muita e variada produção
Desde então, grande parte das famílias dedicou-se à produção de banana-caturra, seguindo a cadeia produtiva já estruturada no município, que é actualmente um dos maiores fornecedores de fruta da Central de Abastecimento de Belo Horizonte.
Outras famílias dedicaram-se à produção de cana-de-açúcar, que se transforma em vários produtos na agro-indústria. O elemento com maior destaque é a cachaça de qualidade «Coração», «conhecida como a melhor cachaça produzida pelo MST no estado».
Além de apresentar uma grande variedade de produtos – hortaliças agroecológicas, mel, própolis, farinhas de mandioca e banana, colorau, açafrão, etc. –, o Assentamento Ho Chi Minh possui um viveiro florestal, construído no contexto do Programa Ambiental do Movimento em Minas Gerais e que visa a produção de mudas nativas para a recuperação de áreas degradadas nos acampamentos e assentamentos.
Extensa área verde e ecoturismo
«Prática da reforma agrária pensada pelo MST, com a memória do lutador Ho Chi Minh e a vida de gerações de famílias sem terra, que vivem e produzem de maneira saudável, e continuam a luta na região», o território possui uma extensa área verde, muitas nascentes e quedas de água, e, em períodos de calor mais intenso, é muito visitado por pessoas do município e de toda a região metropolitana.
Num território onde é possível encontrar construções que caracterizam o período de escravidão vivido pela população negra, os visitantes fazem ainda caminhadas em trilhos, passeios de bicicleta e apreciam pratos tradicionais mineiros juntamente com as famílias assentadas.
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