Em conferência de imprensa realizada esta manhã na Casa Grande do Povo, perante jornalistas nacionais e correspondentes estrangeiros, o presidente Evo Morales mostrou-se confiante na vitória nas eleições gerais na Bolívia, realizadas domingo passado naquele país sul-americano, denunciou a violência desencadeada pela oposição como parte de uma tentativa de golpe de Estado e apelou ao povo boliviano para, de forma pacífica, se mobilizar em defesa da democracia.
Evo Morales agradeceu aos bolivianos por «este novo triunfo», sublinhando ser «a quarta eleição que ganhamos democraticamente». Tanto o candidato como os seus apoiantes, segundo o portal Brasil de Fato, confiam que os resultados das urnas que faltam apurar, provenientes dos sectores camponeses e indígenas que são seus partidários históricos, darão ao actual presidente a margem necessária para renovar o seu mandato.
Morales manifestou-se confiante de «que com o voto rural vamos ganhar à primeira volta» e indignou-se pelo desprezo «racista» da oposição conservadora pelos votos indígenas. «Compreendo o desespero da direita boliviana, que não quer reconhecer o voto indígena como nunca o reconheceu no passado». Os seus apoiantes «esperarão com respeito e paciência os resultados finais oficiais que emita o Órgão Eleitoral», afirmou, segundo a Telesur.
O ocupante da Casa Grande denunciou o comportamento dos partidos opositores por não quererem aceitar os resultados reais saídos das urnas e alertou o povo boliviano e a comunidade internacional de que se encontra em desenvolvimento uma tentativa de golpe de Estado que pode por fim à democracia duramente conquistada.
«Quero denunciar, perante o povo boliviano e o mundo inteiro, que está em curso um golpe de Estado. A direita prepara-se, com apoio internacional, para um golpe de Estado», anunciou o presidente boliviano que, segundo a Bolivia TV, apontou a acção de grupos organizados para a interrupção da contagem de votos, o incêndio e saqueio de instituições estatais e de sedes de campanha como expressão desse intento.
«A direita quer possuir um presidente», indignou-se Evo Morales, mas «não estamos nem no tempo da colónia nem em tempo de monarquias, para designar presidentes».
«Quero que o mundo inteiro saiba que, até agora, aguentámos com paciência para evitar a violência», disse Morales, garantindo que «não entrámos em confronto e nunca vamos entrar em confronto», mas que a democracia será defendida através de uma «mobilização pacífica e constitucional».
«Chamo o povo boliviano a organizar-se, a preparar-se para defender a democracia», afirmou Morales, lembrando que foi o povo o «protagonista da recuperação da democracia», que «resistiu às agressões, internas e externas, provenientes de ditaduras militares e de democracias “restritivas”» e saberá vencer os que «agora procuram desconhecer» os resultados das eleições gerais.
O presidente Morales apelou à comunidade internacional e às suas instâncias para que se pronunciem em defesa da democracia que custou sangue e luto ao povo boliviano.
Os resultados conhecidos mantêm expectativa até ao final
Evo Morales e o seu partido, o MAS (Movimiento al Socialismo), lideram tanto a contagem provisória (TREP, de Transmisión de Resultados Preliminares) como a contagem definitiva (Cómputo Oficial de Resultados), mas não atingiram os 50% de votos mais um necessários para evitar uma segunda volta, estando dependentes da segunda condição para uma eleição à primeira volta: o recebimento de mais de 40% votos e uma distância de pelo menos 10% sobre o segundo candidato mais votado.
Neste momento1, Evo Morales tem, segundo a contagem provisória, 46,85% dos votos, correspondendo a 34 178 das 34 555 (98,91%) actas eleitorais emitidas; segundo a contagem definitiva, com 33 442 (96,78) actas apuradas, tem 46,49% dos votos apurados. O mais directo rival de Morales é Carlos Mesa e o seu Comunidad Ciudadana (CC), que na contagem provisória, quando faltam apurar 377 actas, leva 36,74% (-10,11% que Morales), e na contagem oficial, em que existem 1113 actas por apurar, tem 37,01% (-9,48%).
A expectativa mantém-se, pois, até ao último voto apurado. Nas próximas horas, apesar da arremetida violenta da direita que, escreve a Telesur, «tentou travar a contagem dos votos», espera-se a conclusão do apuramento eleitoral e a publicação dos resultados finais e definitivos.
As circunscrições eleitorais que faltam contabilizar pertencem às zonas rurais do país, habitadas por povos indígenas que são dos mais firmes apoiantes de Evo Morales. Por isso mesmo o presidente está confiante que será reeleito para um quarto mandato à primeira volta.
A direita embandeirou em arco com os resultados provisórios anunciados no domingo, ainda com pouco mais de 80% dos votos considerados, que apontavam para a necessidade de uma segunda volta eleitoral. Na terça-feira foram anunciados os resultados provisórios, já com 95% de votos considerados, e estes faziam prever uma vitória de Morales à primeira volta, ainda que por margem mínima.
Carlos Mesa anunciou que não aceitaria os resultados – já antes do início do apuramento eleitoral o candidato afirmara não reconhecer fosse que resultado fosse que não o levasse à segunda volta – e a oposição desencadeou uma onda de violência que continua em curso e que já conduziu ao incêndio de salas de apuramento locais, à destruição de votos e de actas de apuramento, à agressão de militantes e ao incêndio de sedes de partidos democráticos, ao corte de estradas e a confrontos com as forças policiais.
Os indícios de interferência externa não foram descobertos depois das eleições. Na semana anterior ao encerramento da campanha eleitoral Evo Morales apresentou uma queixa formal ao encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em La Paz, Bruce Williamson, sobre a ingerência de Washington no país andino, nomeadamente em Los Yungas (La Paz), atestada com documentos, segundo noticiou a Prensa Latina.
Também o semanário La Época tinha alertado para a presença, no departamento de Santa Cruz, de uma equipa de especialistas civis e militares, liderada por George Eli Birnbaum, consultor político norte-americano de cujo repertório constam «missões cumpridas com êxito em mais de 15 oportunidades nos cinco continentes», tendo chegado a ser chefe de gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, além de ter trabalhado com Arthur Finkelstein, estratega dos republicanos nos Estados Unidos.
- 1. Os resultados mencionados foram obtidos em consulta feita às 19h15 GMT
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