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Heróis sem rosto

A missão dos agentes de socorro em teatros de guerra constitui um genuíno testemunho da luta pelos tão maltratados e hipocritamente propagandeados Direitos Humanos. 

Equipa médica operando no Iémen. Foto de arquivo.
Créditos / MSF

Existem várias regiões do mundo a viver as consequências dramáticas e devastadoras de conflitos armados, devido a agressões territoriais, posse de recursos naturais, apropriação do poder, questões étnicas e religiosas, entre outras causas e razões.

Todos os dias há imagens oriundas de múltiplas latitudes, onde se vivem conflitos armados de grande dimensão e impacto humano, que invadem as nossas casas através das televisões, perante a nossa perplexidade e resignada impotência.

Bloqueado pela indignação, face ao terror infligido a milhões de vítimas desta barbárie, raramente o cidadão comum se apercebe da atuação dos agentes de socorro, em plenos teatros de guerra, procurando com o seu labor humanitário responder ao sofrimento das populações, através da prestação de assistência às vítimas e da minimização dos efeitos das ações desencadeadas entre beligerantes.

Eles são Bombeiros, Médicos, Enfermeiros e outro pessoal de organizações humanitárias, correndo em socorro das vitimas, entre tiroteios, bombardeamentos, explosões, desabamentos, incêndios e outras ocorrências, em permanente risco de vida.

Apesar dos riscos a que se expõem, eles estão lá para responder aos apelos – sempre dramáticos – das populações flageladas pelos conflitos.

Frequentemente, os conflitos armados geram distúrbios colaterais, que produzem atos de violência criminosa e de puro banditismo, que agravam, por si só, os efeitos daqueles e criam situações adicionais de perigo, para as equipas de socorro no terreno.

Recentemente, no âmbito do trabalho de pesquisa e investigação que estou a desenvolver, tive oportunidade de ler alguns relatórios das missões de muitas equipas de socorro deslocadas para estes verdadeiros infernos. São relatos pungentes de um admirável espírito de missão e de capacidade de superação.

Ao tomar conhecimento destes documentos, sinto-me obrigado a prestar a minha admiração pela coragem e profissionalismo destes verdadeiros heróis sem rosto.

A missão destes homens e mulheres possui um significado muito especial. Para eles, o que tem de ser feito não é condicionado pela natureza política dos beligerantes.

Eles têm certamente as suas ideias, as suas escolhas, identidades e convicções, mas conseguem colocar o valor maior da vida humana, acima das suas opções políticas, religiosas ou identitárias.

Para além de técnicos com elevados padrões qualitativos de intervenção operacional, os agentes de socorro destacados em conflitos armados são uma vanguarda moral, que minimiza a imoralidade da esmagadora maioria dos teatros de operações em que intervêm.

Faltam trabalhos jornalísticos que deem expressão mediática a estes «soldados» que combatem armados de ambulâncias, macas, agulhetas, bisturis, malas de socorros e outros equipamentos, para salvar vidas.

Apesar do silêncio a que a dita comunidade internacional e os meios de comunicação social os remetem, a missão dos agentes de socorro em teatros de guerra constitui um genuíno testemunho da luta pelos tão maltratados e hipocritamente propagandeados Direitos Humanos.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)

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