|Bolívia

«Hoje as Bartolinas são milhares»: Bolívia homenageou líder aymara supliciada

Em La Paz, a homenagem a Bartolina Sisa, executada a 5 de Setembro de 1782, teve lugar na Praça Murillo. Recordando o «cruel assassinato», a ministra boliviana das Culturas centrou-se nas lutas de hoje.

«Bartolinas» 
Créditos / Prensa Latina

No dia em que se cumpriram 241 anos do suplício da histórica dirigente aymara, que assumiu papel destacado na rebelião anticolonial de Túpac Katari, no Alto Peru, centenas de mulheres que integram a Confederación de Mujeres Campesinas Indígenas Originarias – Bartolina Sisa juntaram-se no Quilómetro Zero de La Paz, na Praça Murillo, ao concluir uma marcha.

Guillermina Kuno, secretária executiva da confederação nacional, liderou o acto, no qual participaram membros de movimentos sociais, as ministras das Culturas, Descolonização e Despatriarcalização, Sabina Orellana, e a do Trabalho, Verónica Navias, bem como outros representantes governamentais e eleitos a nível nacional, departamental e municipal.

«Recordamos hoje um cruel assassinato que esta praça testemunhou», afirmou Orellana em declarações à imprensa.

A responsável pela pasta das Culturas destacou que a intenção dos colonialistas espanhóis de «dar uma lição» acabou por ter um resultado oposto ao desejado, porque «hoje as Bartolinas são milhares».

«Continuarão a existir muitas mais, existem Bartolinas na Argentina, em Espanha e em muitos outros países», disse a ministra em jeito de conferência de imprensa improvisada.

O legado da «nossa avó Bartolina» não deve ser esquecido, indicou, sublinhando que o seu sangue corre nas veias das mulheres bolivianas da cidade e do campo.

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Evo Morales saúda a resistência dos povos indígenas

A propósito do Dia da Descolonização, na Bolívia, o ex-presidente saudou o movimento indígena e lembrou a criação do Estado Plurinacional, em 2010, que reivindicou os direitos dos povos originários.

População de El Alto com a wiphala, a bandeira índigena, que, com Evo Morales no poder, se tornou co-oficial, em 2008
População de El Alto com a wiphala, a bandeira índigena, que, com Evo Morales no poder, se tornou co-oficial, em 2008 (imagem de arquivo) Créditos / pagina12.com.ar

Na sua conta de Twitter, Evo Morales referiu-se à «dura resistência dos nossos antepassados contra o colonialismo interno e externo, e a sua defesa da diversidade e vivência em harmonia com a Mãe Terra».

Exilado na Argentina, na sequência do golpe de Estado de Novembro de 2019, o ex-governante aymara destacou os avanços económicos, políticos e sociais alcançados na Bolívia graças às políticas promovidas durante a sua governação (2006-2019), tendo prognosticado a recuperação da pátria, de modo pacífico e democrático, com as eleições gerais do próximo dia 18, indica a Prensa Latina.

«A 528 anos da invasão europeia, valorizamos enquanto movimento indígena na Bolívia os passos importantes que demos para nos governarmos a nós mesmos, com propostas a nível político (refundação da Bolívia); a nível económico (nacionalização); e a nível social (redistribuição da riqueza)», afirmou também no Twitter.

Em 2011, foi decretado que a 12 de Outubro se celebrasse o Dia da Descolonização no Estado Plurinacional da Bolívia, data que coincide com o início do domínio espanhol, em 1492, no continente que antigamente se designava AbyaYala.

A norma decretada no contexto do Dia Continental da Descolonização, aprovado pelos países membros da Comunidade Andina das Nações, institui o reconhecimento dos indígenas que faleceram durante a colonização e promove actividades destinadas a implementar políticas públicas de descolonização no país.

Dia da Resistência Indígena mais comedido na Venezuela

O Dia da Resistência Indígena – feriado nacional e jornada de grandes comemorações na Venezuela – fica este ano marcado pela pandemia, com o presidente da República, Nicolás Maduro, a pedir aos compatriotas que ficassem em casa.

No Twitter, Maduro lembrou que hoje se comemora o Dia da Resistência Indígena «para exaltar as lutas dos nossos povos originários, que há 528 anos foram invadidos pelo império espanhol, que durante 319 anos saqueou as nossas riquezas, provocando a maior violação de direitos humanos da história».

«O melhor tributo que podemos prestar-lhes neste dia é resistir estoicamente para consolidar a Pátria da igualdade, com resistência e dignidade», defendeu ainda na rede social.

Antes da Revolução Bolivariana, neste dia assinalava-se a chegada de Cristóvão Colombo ao continente americano – ou seja, o início da colonização espanhola destas terras e o extermínio da sua população indígena.

Vingava a noção de «descobrimento» ou «descoberta», e 12 de Outubro chegou a ser celebrado como «Dia da Raça». Contudo, na Venezuela revolucionária, um decreto do presidente Hugo Chávez, datado de 10 de Outubro de 2002, instaurou o Dia da Resistência Indígena. Desde então, a 12 de Outubro assinala-se a gesta heróica dos povos aborígenes da América e o reconhecimento da luta pela sua dignidade, diversidade cultural e humana.

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Destacou também o facto de ainda existirem muitos preconceitos e acções discriminatórias contra as mulheres, mas referindo que as indígenas, hoje, têm melhor preparação cultural e estão em melhores condições de desenvolver a luta pela igualdade, indica a Prensa Latina.

Ao lamentar que as mulheres, no campo ou na cidade, ainda sejam vítimas da marginalização e da violência, Orellana vincou a ideia de que o país sul-americano vive actualmente um processo de descolonização e despatriarcalização – um processo que é complexo, disse, devendo por isso as mulheres aproveitar as políticas públicas promovidas pelo executivo liderado por Luis Arce.

Reconheceu que as mulheres continuam em desvantagem em relação aos homens, apesar dos avanços realizados, e deu como exemplo a falta de autonomia política, que se evidencia na inexistência de uma única governadora, o que, no entender de Orellana, se deve àquilo que designou como «dedocracia».

Bartolina Sisa, que participou em diversas revoltas indígenas contra o colonialismo espanhol, foi declarada heroína nacional da Bolívia em 2005.

A data do seu esquartejamento (5 de Setembro) também passou a ser o Dia Internacional da Mulher Indígena, tendo sido instituído em 1983, durante o II Encontro de Organizações e Movimentos da América, em Tihuanacu (Bolívia).

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