«Comparado com o que as pessoas têm vivido na Palestina às mãos dos seus colonizadores», o acto extremo de protesto levado a cabo por Aaron Bushnell, militar norte-americano no activo, membro da Força Aérea, não é «nada extremo». «Isto é o que a nossa classe dominante decidiu que seria normal», afirmou num livestream (transmissão em directo) na plataforma Twitch, segundos antes de se cobrir com um líquido inflamável e atear fogo ao seu próprio corpo (imagens gráficas).
Dezenas de pessoas foram mortas, nas últimas horas, em resultado de intensos ataques israelitas contra vários pontos da Faixa de Gaza, entre alertas para a situação em Rafah e no Norte do enclave. Segundo refere a agência Wafa, os ataques aéreos e de artilharia das forças de ocupação prosseguiram, esta noite e madrugada, no bairro de al-Zaytoun, nas imediações da Cidade de Gaza, em Deir al-Balah e Khan Younis, provocando dezenas de mortos e um número indeterminado de feridos. Em al-Fokhari, na zona costeira de Khan Younis, dois pescadores palestinianos perderam a vida quando barcos de guerra abriram fogo contra eles. Em Khan Younis, fontes médicas deram conta de vítimas nas imediações do Hospital Europeu e do Hospital Nasser, que continuam a ser intensamente bombardeadas pelas forças de ocupação. Ainda de acordo com a agência estatal, pelo menos sete pessoas morreram na sequência de ataques israelitas nas redondezas de Rafah, no extremo Sul do enclave, onde se encontram refugiadas cerca de 1,4 milhões de pessoas, na sua maioria deslocadas à força. Dados oficiais divulgados pelo Ministério palestiniano da Saúde apontam para 29 782 mortos e 70 043 feridos desde o início da mais recente agressão israelita à Faixa de Gaza, desde 7 de Outubro de 2023. Entretanto, o Ministério palestiniano da Saúde alertou, este domingo, para a situação sanitária «extremamente catastrófica e indescritível» no Norte de Gaza. Também a UNRWA (agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos) sublinhou que as condições sanitárias no território são «insustentáveis», alertando para a falta de água potável, para o lixo a acumular-se e para o aumento da disseminação de doenças. Segundo referem diversas agências noticiosas, o gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que insiste em levar a cabo uma operação terrestre contra Rafah, terá anunciado um plano de evacuação da população civil palestiniana, num contexto de alertas e críticas internacionais. Esta segunda-feira, Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da Presidência da Palestina, rejeitou e condenou tal plano porque tem como objectivo correr com os palestinianos da Faixa de Gaza e instalar ali a ocupação. Sublinhando que o povo palestiniano está a ser alvo de um genocídio na Faixa de Gaza, Rudeineh afirmou que a administração norte-americana tem de «agir seriamente para travar a loucura israelita […] antes que seja demasiado tarde». «O apoio continuado dos EUA é o que encoraja as autoridades da ocupação a intensificar a sua agressão e os crimes contra o nosso povo», acrescentou, citado pela Wafa. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Aumenta o número de vítimas pelos bombardeamentos israelitas em Gaza
Situação «catastrófica» no Norte de Gaza
Presidência palestiniana rejeita plano israelita para «evacuar civis» de Rafah
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Enquanto ardia, à porta da Embaixada de Israel em Washington, D.C., Bushnell gritou ainda, seis vezes, «Free Palestine» (Palestina Livre), antes de sucumbir. O militar de 25 anos morreu poucas horas depois, no hospital, ao final do dia 25 de Fevereiro de 2024.
Poucas horas antes do seu último acto de protesto, Aaron Bushnell publicou um comentário a reforçar a sua posição nas suas redes sociais: «Muitos de nós gostamos de nos perguntar: "O que é que eu faria se estivesse vivo durante a escravatura? Ou no Sul de Jim Crow [leis de segregação racial nos EUA]? Ou no apartheid? O que faria se o meu país estivesse a cometer um genocídio? A resposta é: está a fazê-lo. Agora mesmo».
Depois de ter colapsado, ainda em chamas, as forças policiais norte-americanas chegaram ao local e, apontado as suas armas para o corpo inerte de Bushnell, exigiram que o militar se «deitasse no chão». Um dos polícias, eventualmente, gritou para os colegas: «não precisamos de armas, precisamos de extintores de incêndio».
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