A análise dos elementos quantitativos e qualitativos registados na base de dados EM-DAT, criada em 1988 no âmbito do CRED-Centre for Research on the Epidemiology of Disasters, é fundamental para ajudar a compreender, com rigor estatístico, as reais relações entre as alterações climáticas e os desastres naturais.
O CRED, criado em 1973 no âmbito da Université Catholique de Louvain, alimenta e trata esta importante base de dados relativa a eventos de emergência. A EM-DAT contém, no presente, 26 202 casos registados sobre a ocorrência de desastres massivos naturais e tecnológicos em todo o mundo, desde 1900 até à actualidade, dos quais 16 807 correspondem a desastres naturais de variados tipos e subtipos.
A EM DAT é compilada a partir de várias fontes, incluindo agências da ONU, organizações não governamentais, companhias de seguros, institutos de pesquisa e agências de comunicação.
Para que um desastre seja inserido neste banco de dados é necessário que pelo menos um dos seguintes atributos esteja presente:
Dez (10) ou mais pessoas reportadas como mortas
Cem (100) ou mais pessoas relatadas como afectadas
Declaração de estado de emergência (ou similar)
Ter havido ligação à assistência internacional
Há a considerar que o vasto conjunto de critérios classificativos, não interessando agora aprofundar, permite compreender a tipologia dos fenómenos naturais, tecnológicos e complexos abrangidos, que são arrumados em grupos, tipos, sub e subsubtipos. A base de dados, que não inclui guerras e congéneres, fornece um vasto conjunto de informação, exigindo, contudo, trabalho aturado para produzir informação compreensível.
Há dois anos, devido a necessidade de trabalho de investigação específico, procedeu-se a uma primeira exploração da EM DAT. Embora o objectivo base não fosse esse, foi possível constatar alguns resultados surpreendentes já que não eram, pelo menos numa primeira leitura, coerentes com as narrativas massivamente difundidas sobre o aumento exponencial dos desastres naturais, em particular dos relacionáveis com as alterações climáticas.
De facto, foi então possível, analisando a evolução da frequência dos desastres naturais no mundo e na Europa, bem como a soma de óbitos em cada um dos períodos definidos, chegar a um conjunto de interessantes e surpreendentes constatações, desde logo a de que, a partir de 2010, houve uma notável redução das ocorrências, invertendo a tendência verificável nas quatro ou cinco décadas anteriores. Também quanto ao número de mortes humanas devido a desastres naturais a diminuição é muito notória, como se verá nas Figuras 1 e 2 seguintes.
No artigo então publicado em Academia, referiu-se que não se poderia deixar de colocar uma questão crucial: se as alterações climáticas, bem como os desastres naturais dados como correlacionados com elas, são cada vez mais intensas devido ao contínuo aumento da concentração de GEE [Gases de Efeito de Estufa] antropogénicos na atmosfera, o que terá ocorrido a partir de 2010, para que o número de desastres naturais passasse a uma tendencial diminuição? Tal tendência, como então se registou, era também verificável em todo o mundo e, portanto, também no espaço geográfico europeu.
Antes da publicação do mencionado artigo houve autores que se tinham debruçado sobre os dados da EM DAT. Porém, como se focaram em períodos anteriores à década 2010-2020, não detectaram a referida alteração de padrão. Outras abordagens realizadas sobre as alterações climáticas e os desastres naturais não estudaram os dados da EM DAT ou, então, não os mencionam.
Mais recentemente fez-se nova análise à base de dados do CRED e, de forma muito sintética, deixam-se aos leitores algumas figuras com dados actualizados. Sugere-se a uma leitura e reflexão.
Parece razoável afirmar que não se afigura adequado, num referencial de abordagem técnico-científica rigorosa e séria, ignorar a notada alteração de paradigma. E, esclarecer, com o que aqui se regista não há a pretensão de afirmar que a alteração de padrão seja definitiva. Contudo, ela exige avaliações aprofundadas e, sobretudo, muito maior prudência na forma como os desastres naturais e as alterações climáticas aparecem referidos massivamente nos órgãos de comunicação social.
Não é intelectualmente honesto fingir que está tudo demonstrado e sem haver aspectos por explicar nesta importante relação entre as alterações climáticas e os tipos e frequência dos desastres naturais.
Uma nota final para os desastres naturais de natureza geofísica registados no quadro abaixo, para referir que não parece ser plausível estabelecer uma correlação entre tais eventos e as alterações climáticas. Tal como, aliás, para os desastres naturais provocados por causas extraterrestres (impacto de meteoritos e clima espacial).
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