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O que disse o Papa Francisco sobre a paz na Palestina e que querem apagar

A cobertura mediática à morte do Papa Francisco está a ter o espaço esperado, no entanto, está em marcha um total apagamento da sua mensagem de paz relativamente à Palestina. O AbrilAbril compilou vários momentos em que o Papa falou sobre o assunto. 

CréditosMax Rossi / EPA

Após a morte do Papa Francisco vários foram os jornais e canais de notícias que colocaram em marcha a sua cobertura ao momento. Opinadores de circunstância tornaram-se especialistas de ocasião, fazendo análises ao pontificado e prognósticos relativamente ao futuro do Vaticano. As notícias vão do resumo do trabalho do Papa Francisco à cobertura dos acontecimentos na Praça de São Pedro. 

Em ambos os casos há um elemento comum: a palavra do Papa está a ser branqueada e a sua acção caracterizada de forma redonda. De um momento para o outro, a acção em torno da paz desapareceu, assim como o esforço do homem que ligou 563 vezes para Gaza e a quantidade de vezes que apelou ao fim do genocídio do povo palestiniano. 

O AbrilAbril fez um apanhado das declarações do Papa Francisco sobre o tema porque o que fica na internet, não sai da internet. 


8 de Outubro de 2023


Um dia após o 7 de Outubro de 2023, data usada por Israel para intensificar o massacre sob o povo palestiniano, na oração do Angelus, uma oração tradicional da Igreja Católica realizada três vezes ao dia, Francisco, apelando à paz, condenou os ataques verificados e a guerra, dizendo:

«Acompanho com apreensão e dor o que está a acontecer em Israel, onde a violência irrompeu ainda mais ferozmente, causando centenas de mortos e feridos. Expresso a minha proximidade às famílias das vítimas, rezo por elas e por todos aqueles que estão a viver horas de terror e de angústia. Por favor, parem com os ataques e com as armas, e compreendam que o terrorismo e a guerra não conduzem a nenhuma solução, mas apenas à morte e ao sofrimento de tantos inocentes. A guerra é uma derrota: todas as guerras são uma derrota! Rezemos pela paz em Israel e na Palestina!»

11 de Outubro de 2023


Na linha do que foi dito dias antes, dando uma visão contrária à narrativa dominante que estava a ser veiculada por vários canais de comunicação, o Papa Francisco deu também a visão do povo palestiniano e apelou a uma solução pacífica:

«Quem é atacado tem o direito de se defender, mas estou muito preocupado com o cerco total em que vivem os palestinianos em Gaza, onde também houve numerosas vítimas inocentes. O terrorismo e os extremismos não ajudam a alcançar uma solução para o conflito entre israelitas e palestinianos, mas alimentam o ódio, a violência, a vingança, e só fazem sofrer uns e outros. O Médio Oriente não precisa de guerra, mas de paz, de uma paz construída sobre a justiça, o diálogo e a coragem da fraternidade».

  
15 de Outubro de 2023


Vendo o drama que se abatia na Faixa de Gaza, Francisco avançou no trabalho humanitário, pediu a libertação de reféns, corredores humanitários e renovou o apelo já feito noutras outras ocasiões:

«Continuo a seguir com muita dor o que está a acontecer em Israel e na Palestina. Penso em muitos..., especialmente nas crianças e nos idosos. Renovo o apelo pela libertação dos reféns e peço vivamente que as crianças, os doentes, os idosos, as mulheres e todos os civis não sejam vítimas do conflito. O direito humanitário deve ser respeitado, especialmente em Gaza, onde é urgente e necessário garantir corredores humanitários e socorrer toda a população. Irmãos e irmãs, já morreram tantos. Por favor, que não se derrame mais sangue inocente, nem na Terra Santa, nem na Ucrânia, nem em lado nenhum! Basta! As guerras são sempre uma derrota, sempre!».


25 de Outubro de 2023

Num apelo após a oração do Angelus, o Papa reiterou numa curta mensagem o que já havia dito em mensagens anteriores:

«Penso sempre na grave situação na Palestina e em Israel: encorajo a libertação dos reféns e a entrada das ajudas humanitárias em Gaza. Continuo a rezar por aqueles que sofrem e a esperar em percursos de paz, no Médio Oriente, na martirizada Ucrânia e noutras regiões feridas pela guerra».

 

29 de Outubro de 2023

Mais uma vez, após a oração do Angelus, o Papa Francisco aproveitou o momento para lamentar as vítimas da guerra e apelar ao cessar-fogo, lembrando as palavras de um padre egípcio responsável por cuidar dos lugares sagrados na Terra Santa (especialmente em Israel, Palestina, Jordânia, Síria, Líbano e outros países do Oriente Médio):

«Não desistamos. Continuemos a rezar pela Ucrânia e também pela grave situação na Palestina e em Israel e pelas outras regiões em guerra. Em Gaza, em particular, que haja espaço para garantir a ajuda humanitária e que os reféns sejam imediatamente libertados. Que ninguém desista da possibilidade de parar as armas. Cessar-fogo! O Padre Ibrahim Faltas – ouvi-o agora mesmo no programa À Sua Imagem – o Padre Ibrahim disse: «Cessar-fogo! Cessar-fogo!». Ele é o Vigário da Terra Santa. Também nós, com o Padre Ibrahim, digamos: cessar fogo! Parai, irmãos e irmãs! A guerra é sempre uma derrota, sempre!»


1 de Novembro de 2023

Após o Encontro pela Paz, o Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornal da televisão italiana RAI, na qual apelou à solução dos dois Estados:

«Toda a guerra é uma derrota. Nada se resolve com a guerra. Nada. Tudo se vence com a paz, com o diálogo. Entraram nos kibutz, fizeram reféns. Mataram alguns. E então a reacção. Os israelitas vão então procurar os reféns, resgatam-nos. Na guerra, uma estalada provoca outra. Uma com força e a outra com mais força ainda, e assim por diante. A guerra é uma derrota. Eu senti isso como mais uma derrota. Dois povos que devem viver juntos. Com essa solução sábia: dois povos, dois Estados. O Acordo de Oslo: dois Estados bem delimitados e Jerusalém com um status especial».


13 de Dezembro de 2023

Novamente, depois de uma viagem ao Bahrain, o Papa Francisco insistiu no cessar-fogo e na necessidade de negociações, dando o mote para o que tem sido defendido em várias manifestações de solidariedade com a Palestina:

«Renovo o meu apelo por um cessar-fogo humanitário imediato e incentivo todas as partes envolvidas a retomarem as negociações, e peço a todos que se comprometam urgentemente a levar ajuda humanitária à população de Gaza, que está no limite. Há muito sofrimento ali! Que todos os reféns que viram esperança na trégua de alguns dias atrás sejam libertados: que esse grande sofrimento para israelenses e palestinos chegue ao fim. Por favor, não às armas, sim à paz».


8 de Janeiro de 2024

Numa audiência de Ano Novo com o Corpo Diplomático, condenado os ataques a civis em Gaza e na Ucrânia, classificando-os como crimes de guerra. Reiterou também o seu apelo por um cessar-fogo imediato e pela protecção de hospitais, escolas e locais de culto. Além disso, defendeu uma solução de dois Estados e um estatuto internacional para Jerusalém.

«Não devemos esquecer que as violações graves do direito internacional humanitário são crimes de guerra e que não basta identifica-las, é necessário também as preveni-las. O que é necessário, portanto, é um maior compromisso da comunidade internacional para salvaguardar e implementar o direito humanitário, que parece ser a única forma de proteger a dignidade humana em situações de guerra. Mesmo quando se trata de exercer o direito de legítima defesa, é essencial aderir ao uso proporcional da força».

«Peço que a população palestiniana receba ajuda humanitária e que os hospitais, escolas e locais de culto tenham toda a proteção necessária».

«Espero que a comunidade internacional procure resolutamente a solução de dois Estados, um israelita e um palestiniano, bem como um estatuto especial garantido internacionalmente para a cidade de Jerusalém, para que israelitas e palestinianos possam finalmente viver em paz e segurança».


31 de Março de 2024

Na missa de Páscoa, o Papa Francisco destacou que a guerra é sempre um absurdo e uma derrota, e pediu para não ceder à lógica das armas. 

«A guerra é sempre um absurdo e uma derrota. Não permitamos que ventos de guerra cada vez mais fortes soprem sobre a Europa e o Mediterrâneo. Não nos rendamos à lógica das armas e do rearmamento. A paz nunca é construída com armas, mas estendendo as nossas mãos e abrindo os nossos corações».


9 de Junho de 2024

Depois de celebrar a missa, o Papa Francisco aproveitou o momento para assinalar a Invocação da Paz no Vaticano em 2014 que juntou o presidente israelita e o presidente da Autoridade Palestiniana, procurando demonstrar que é possível estabelecer o diálogo em torno da Paz:

«Ontem foi o décimo aniversário da Invocação da Paz no Vaticano, que contou com a presença do Presidente israelita, o falecido Shimon Peres, e do Presidente palestiniano, Abu Mazen. Aquele encontro testemunha que é possível dar um aperto de mão e que fazer a paz exige coragem, muito mais coragem do que fazer a guerra. Portanto, encorajo as negociações em curso entre as partes, mesmo se não são fáceis, e espero que as propostas de paz, de cessar-fogo em todas as frentes e de libertação dos reféns, sejam imediatamente aceites, para o bem dos palestinianos e dos israelitas».


7 de Outubro de 2024

Numa carta enviada aos católicos no Médio Oriente, o Papa Francisco fez um resumo daquilo que vinha a apelar, lamentou a violência contínua e denunciou a indiferença da comunidade internacional:

«Desejo dirigir-me a vós neste dia triste. Há um ano, o pavio do ódio acendeu-se; não se apagou, mas deflagrou numa espiral de violência, na vergonhosa incapacidade da comunidade internacional e dos países mais poderosos de fazer silenciar as armas e pôr fim à tragédia da guerra. O sangue corre, as lágrimas também; a raiva aumenta, assim como o desejo de vingança, enquanto parece que poucos se preocupam com o que é mais necessário e o que as pessoas querem: o diálogo, a paz. Não me canso de repetir que a guerra é uma derrota, que as armas não constroem o futuro, mas destroem-no, que a violência nunca traz a paz. A história demonstra-o, mas anos e anos de conflitos parecem não nos ter ensinado nada».


19 de Janeiro de 2025

Quando se celebrou um acordo de cessar-fogo, Francisco aproveitou o após a oração do Angelus na janela do Palácio Apostólico, no Vaticano, para deixar uma mensagem de esperança:

«Espero que as autoridades políticas de ambos, com a ajuda da comunidade internacional, possam chegar a uma solução justa para os dois Estados, que todos possam dizer sim ao diálogo, sim à reconciliação e sim à paz. Rezemos por isso».

 

15 de Fevereiro de 2025

Já visivelmente debilitado, no seu discurso semanal às multidões na Praça de São Pedro, o Papa Francisco voltou a pedir a criação de corredores humanitários para ajudar as pessoas que estão na Faixa de Gaza e um ponto final nas guerras em redor do mundo:

«Apelo ao respeito do direito humanitário, especialmente em Gaza, onde há uma necessidade urgente de garantir corredores humanitários e de resgatar toda a população».

«Irmãos e irmãs, tantas pessoas já morreram. Por favor, não derramem mais sangue inocente, nem na Terra Santa, nem na Ucrânia ou em qualquer outro lugar. Chega!».

 

20 de Abril de 2025

Na sua última mensagem, na Páscoa, foi renovado o apelo à paz e ao cessar-fogo, condenando a intensificação da crise humanitária e expressando a solidariedade com os povos que sofrem com a guerra:

«Sinto-me próximo dos cristãos que sofrem na Palestina e em Israel, bem como do povo israelita e palestiniano. É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em particular, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil. Apelo às partes beligerantes que cheguem a um cessar-fogo, que se libertem os reféns e se preste assistência à população faminta, desejosa de um futuro de paz!».
 

 

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