O número de pessoas que vivem em situação de pobreza extrema aumentou 48,2% em 2021 relativamente ao ano anterior. Isto significa que 5,8 milhões de pessoas passaram a viver com um rendimento mensal per capita até 168 reais (30,6 euros) por mês.
Os dados do IBGE, divulgados ontem, mostram ainda que o número de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza aumentou 22,7% no mesmo período, isto é, mais 11,6 milhões de brasileiros passaram a viver com 486 reais (88,5 euros) mensais per capita.
Com este crescimento, o Brasil passou a ter 62,5 milhões de pessoas (29,4% da população) abaixo do limiar da pobreza, dos quais 17,9 milhões são extremamente pobres. Ou seja, de acordo com os dados agora revelados pelo IBGE, aproximadamente um em cada três brasileiros é pobre e 8,4% extremamente pobre.
Quando o governo brasileiro anuncia menos Estado e mais cortes na despesa pública, um estudo revela que, em 2018, a pobreza extrema no Brasil atingiu o nível mais elevado desde 2012. De acordo com os dados ontem divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país sul-americano tinha, em 2018, 13,5 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, o que representa 6,5% da população do país e constitui um nível recorde desde 2012. O instituto adoptou o critério do Banco Mundial, segundo o qual as pessoas em situação de extrema pobreza têm rendimentos inferiores a 1,9 dólares por dia (1,7 euros). O estudo realizado pelo IBGE apresenta outros elementos negativos, como sejam a desigualdade no mercado de trabalho e a chamada geração «nem-nem» – nem estuda, nem trabalha –, realça a Rede Brasil Atual. Outro dado que ressalta da pesquisa é que «a miséria atinge principalmente estados do Norte e Nordeste do Brasil, em especial a população preta e parda [negra e mulata], sem instrução ou com formação fundamental incompleta», afirma o El País Brasil. Além disso, o Brasil conta com 52,5 milhões de pessoas a viver no limiar da pobreza, com menos de 420 reais [92,8 euros] per capita por mês. O índice de pobreza caiu de 26,5%, em 2017, para 25,3% da população, em 2018; no entanto, fica longe do melhor resultado da série, alcançado em 2014, quando a pobreza atingia 22,8% da população brasileira. «Em 2012, foi registado o maior nível da série para a pobreza, 26,5%, seguido de queda de quatro pontos percentuais em 2014. A partir de 2015, com a crise económica e política e a redução do mercado de trabalho, os percentuais de pobreza passaram a subir com pequena queda em 2018, que não chega a ser uma mudança de tendência», disse o analista do IBGE, Pedro Rocha de Moraes, à Rede Brasil Atual. Numa altura que se o governo brasileiro leva a efeito cortes na despesa pública, o director do estudo, André Simões, sublinha a necessidade de políticas públicas centradas na camada mais vulnerável da população. «É fundamental que as pessoas tenham acesso aos programas sociais e que tenham condições de se inserir no mercado de trabalho para terem acesso a um rendimento que as tire da situação de extrema pobreza», afirma o IBGE. Uma das grandes críticas feitas ao governo de Jair Bolsonaro e à política económica neoliberal que adoptou é a falta de investimento nos programas sociais. Em Julho deste ano, o presidente brasileiro foi criticado por não ter reconhecido que o país apresentava um quadro preocupante de crescimento da pobreza, no qual se incluía uma população aproximada de cinco milhões que passava fome um dia inteiro. Bolsonaro respondeu, entre outras coisas, que «falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira, é um discurso populista» e que «o que faz tirar o homem da miséria é o conhecimento». Numa outra parte da pesquisa, o IBGE mostra que a população negra e mulata correspondia a dois terços (66%) dos chamados subocupados por insuficiência de horas. As mulheres, que são 43,7% dos ocupados, correspondem a 54,6% dos subocupados. Relativamente à taxa de desemprego registado, foi de 14,1% para a população negra e mulata e de 9,5% entre a branca, que, em média, ganhava 73,9% a mais. A mesma fonte revela que o nível de informalidade laboral entre negros e mulatos (47,3%) é superior à dos brancos (34,6%). Ainda de acordo com o estudo do IBGE, 2,4 milhões de jovens na faixa etária entre os 15 e os 29 anos não estudavam nem trabalhavam em 2018 – a chamada geração «nem-nem» –, o que corresponde a 23% das pessoas dessa faixa estária no Brasil. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Pobreza extrema aumentou no Brasil, atingindo 13,5 milhões de pessoas
Brancos ganham 74% a mais que negros
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Ambos os aumentos registados foram recordes, segundo o IBGE, uma vez que, desde 2012, o país sul-americano nunca tinha conhecido um avanço tão grande da pobreza e, sobretudo, da pobreza extrema.
Os dados do IBGE mostram igualmente que a pobreza atinge de forma desproporcional crianças e jovens: 46,2% das crianças até 14 anos viviam abaixo do limiar da pobreza em 2021, recorde da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012; entre os jovens de 15 a 29 anos, a percentagem era de 33,2%, o triplo dos idosos (10,4%).
Outro elemento apontado é que a proporção de negros abaixo do limiar da pobreza foi de 37,7%, mais do dobro da de brancos (18,6%).
«A recuperação do mercado de trabalho em 2021 não foi suficiente para reverter as perdas de 2020. Isso e a redução dos valores do Auxílio Emergencial podem ajudar a explicar esse resultado», disse André Simões, analista da pesquisa, ao Brasil de Fato.
A nível regional, Nordeste (48,7%) e Norte (44,9%) apresentavam as maiores percentagens de pessoas pobres na sua população. Essa percentagem cai para 20,6% no Sudeste e no Centro-Oeste, e 14,2% no Sul.
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