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Díaz-Canel: Pelo povo de Cuba, estamos dispostos a lutar até às últimas consequências

Numa entrevista divulgada esta terça-feira por vários canais, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, classificou como heróico o povo da Ilha e declarou estar disposto a morrer na defesa dos seus direitos.

Créditos / PL

«É uma convicção que se reforça a cada encontro que temos com este povo. Devemos morrer por este povo heróico. Porque todos os dias nos dá lições de conduta exemplar e de heroísmo», declarou o chefe de Estado.

As afirmações foram proferidas no âmbito de uma entrevista que Díaz-Canel concedeu a quatro jornalistas e investigadores sediados em Espanha – Pascual Serrano, Javier Couso, José Manzaneda e Carlos González Penalva – e que, em Março último, participaram no IV Colóquio Internacional «Patria», realizado em Havana.

A entrevista foi transmitida esta terça-feira à noite, de forma conjunta, pela Cubavisión, Cubavisión Internacional, Canal Caribe, Radio Rebelde e Radio Habana Cuba, de acordo com uma nota divulgada pela Presidência da República.

No diálogo com os jornalistas, que foi também transmitido por vários canais de YouTube, páginas de Facebook e portais, como Cubadebate, Cubainformación ou Venezuela News, o presidente de Cuba abordou diversos temas, nomeadamente os relacionados com a política hostil dos EUA, o estado do sistema eléctrico-energético, a colaboração médica, a importância das relações com a Rússia e a China, a actualidade internacional, entre outras questões.

Díaz-Canel deu natural destaque às circunstâncias complicadas e adversas que o seu país enfrenta, e ao modo como o povo cubano não se poupa a esforços para as ultrapassar.

«Em vez de ver desânimo, em vez de ver frustração, está sempre em movimento, sempre à procura de formas de seguir em frente, sempre à procura de formas de lutar e de como ter êxito», disse, mesmo reconhecendo que «temos tendências negativas, que se tornam mais agudas e se manifestam em tempos de crise», mas que se enfrentam «discutindo os nossos problemas honestamente».

Na entrevista, Díaz-Canel disse ainda que «o heroísmo do povo se alimenta muito da solidariedade que recebe dos seus amigos em todo o mundo». «Sabemos o quanto custa defender Cuba e como se pressiona, como se tenta impedir que indivíduos, grupos, países, organizações e partidos a defendam. Portanto, não vamos baixar os braços», afirmou.

«O povo cubano resiste pela sua própria vontade, pela sua própria convicção, pela sua capacidade; mas também porque sabe o que significa a revolução cubana para o mundo», apontou.

Neste sentido, esclareceu que «não queremos ser vistos como uma sociedade perfeita, mas aspiramos a construir uma sociedade melhor e queremos trabalhar com aqueles que querem um mundo melhor, o que não só é possível, como é necessário que seja possível».

O bloqueio, hoje, é de uma nova qualidade: mais duro

O presidente de Cuba reafirmou que a lista de alegados patrocinadores do terrorismo, criada unilateralmente pelos Estados Unidos, é «espúria e ilegal».

«Essa lista não é reconhecida legalmente por nenhum instrumento das Nações Unidas», nem por «nenhuma instituição dos Estados Unidos», afirmou Díaz-Canel, frisando que a Casa Branca utilizou essa lista «como um mecanismo de máxima pressão aos países, aos governos que não se deixam intimidar».

Embora se trate de uma lista «espúria e ilegal», quando um país é incluído nela, «de imediato a maioria das instituições bancárias que têm relações com os Estados Unidos e as agências financeiras cortam todos os serviços», explicou.

«Isto é muito difícil para um país como o nosso, que está sob bloqueio há 65 anos, e que tem agora um bloqueio com uma nova qualidade: é um bloqueio mais duro», sublinhou, para afirmar que Cuba não só não apoia o terrorismo, como foi vítima do terrorismo.

«Os Estados Unidos sempre acolheram terroristas que actuaram contra Cuba, como Posada Carriles e o próprio Bosch. São inumeráveis os actos de terrorismo que o governo dos EUA patrocinou contra Cuba», denunciou, para enaltecer o apoio que o mundo tem dado à Ilha no que toca à inclusão na referida lista unilateral.

Resistência a operação mediática de grande envergadura a partir dos EUA

Outro aspecto destacado na entrevista pelo presidente de Cuba foi o da resistência à «operação mediática de grande envergadura, intensa e multidimensional», a partir dos EUA, com o intuito de desprestigiar e desmobilizar.

Neste contexto, Díaz-Canel recordou que a política de máxima pressão implementada pela Casa Branca há 65 anos tem como objectivo a queda da revolução através da asfixia económica.

Também lembrou o facto de Cuba ter sempre qualificado como mercenários os chamados jornalistas independentes, financiados com fundos públicos e outros de agências da administração norte-americana.

Neste sentido, mencionou as revelações da actual administração sobre as actividades intervencionistas da Usaid (Agencia Internacional para o Desenvolvimento do Estados Unidos) e disse acreditar que vão surgir novas formas de financiamento à guerra contra Cuba, com base na mentira, na calúnia, no ódio e na manipulação.

EUA não gostam do exemplo dado pelas brigadas médicas

No que respeita à cooperação médica cubana no mundo, o chefe de Estado afirmou que a Casa Branca se sente incomodada com o exemplo de Cuba, que faz o oposto daquilo que os EUA fazem: leva médicos, enquanto os Estados Unidos intervêm nos países com forças militares.

Sobre as brigadas médicas da Ilha pelo mundo, Díaz-Canel disse aos jornalistas que são «humanistas e solidárias».

«Esses profissionais não são só médicos de profissão, são médicos da alma, porque se tornam amigos e conselheiros dos seus pacientes», defendeu e perguntou por que razão há tantos países a solicitar a presença deste pessoal.

Num contexto em que figuras da actual administração norte-americana procuram manipular a questão e exercer pressão, o presidente cubano reiterou o agradecimento aos países que recebem esta colaboração médica.

Relações sólidas com Rússia e China

Na entrevista com os quatro jornalistas, Miguel Díaz-Canel destacou também a força e a importância dos laços entre o seu país, a Rússia e a China, frisando que com ambos existem relações históricas.

Neste sentido, declarou que «a União Soviética apoiou Cuba no meio das situações mais complexas e favoreceu o desenvolvimento da Revolução Cubana. Isso jamais o esqueceremos».

Além disso, Cuba orgulha-se de ter sido o primeiro país do hemisfério ocidental a reconhecer a China e a iniciar relações com o país asiático.

Na actualidade, destacou, os presidentes da Rússia e da China, Vladimir Putin e Xi Jinping, respectivamente, «mostram sensibilidade com os problemas de Cuba e disposição para a apoiar».

No que respeita à Rússia, existe um elevado nível de diálogo político e «também existe um importante intercâmbio económico-comercial», referiu, destacando que uma parte significativa dos empresários russos e o governo do país euroasiático «apoiam programas fundamentais no plano de desenvolvimento cubano».

Referindo-se à guerra na Ucrânia, disse ser muito claro para si quem a alimentou e dela tirou o melhor partido. «Foi o governo dos Estados Unidos, exportando a guerra, como sempre o fez em mais de dois séculos», declarou.

No que toca à China, disse que existe um amplo diálogo político, «com respeito mútuo, admiração mútua, e somos excelentes amigos, irmãos».

«Temos laços interpartidários, parlamentares, de Estado, governamentais e também um vasto espectro de laços económicos, comerciais e de cooperação», disse, indicando que existem trocas de experiências sobre os processos de construção socialista, que respeitam as características de cada país.

«Respeitamos o princípio de uma só China e tanto o gigante asiático como a Rússia são países que apoiam Cuba na luta contra o bloqueio e na denúncia da inclusão de Cuba na lista de países que alegadamente apoiam o terrorismo», declarou.

Díaz-Canel insistiu que, em ambos os casos, as relações são de «muito respeito», acrescentando que, com a China, aspira a «ter uma relação que se torne um exemplo de como podem cooperar uma grande potência e uma pequena ilha».

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