|Cibersegurança

Profetas do vírus anunciam a próxima pandemia

O exercício Ciber Polygon tem a participação de dezenas de países e funciona como uma resposta «em tempo real a um ataque direccionado contra a cadeia de suprimentos num ecossistema corporativo».

Créditos / WallPaperMaiden

Esta sexta-feira, 9 de Julho, entidades que integram a comunidade dos profetas do vírus que anunciaram o SARS-CoV-2 em Outubro de 2019, cerca de dois meses antes de ser detectado na China, realizam uma simulação designada Cyber Polygon do que consideram ser a próxima pandemia, uma ciberpandemia com tal dimensão que, comparativamente, faria a crise da Covid-19 parecer um «pequeno distúrbio». Quem o diz é o chefe do Fórum Económico Mundial (WEF na sigla inglesa), Klaus Schwab, ardente defensor do aproveitamento destas convulsões como «janelas de oportunidade» para proceder ao «novo reinício», o Great Reset do capitalismo.

Escassos dias antes desta operação Cyber Polygon, isto é, no fim-de-semana de 4 de Julho, aconteceu o «maior ciberataque de sempre», segundo numerosas fontes e analistas: hackers supostamente de um gangue conhecido como REvil piratearam os sistemas informáticos de mais de mil empresas e individualidades em pelo menos 17 países do mundo, atingindo áreas como os serviços financeiros, de abastecimento, de viagens e lazer, sectores públicos, comerciais e energéticos. Estamos então perante uma curiosa coincidência astral, que permite aos participantes na magna simulação desta sexta-feira trabalharem a «quente», beneficiando de um oportuno exercício de «fogos reais» em curso.

«Escassos dias antes desta operação Cyber Polygon, isto é, no fim-de-semana de 4 de Julho, aconteceu o 2maior ciberataque de sempre” […] Estamos então perante uma curiosa coincidência astral, que permite aos participantes na magna simulação desta sexta-feira trabalharem a «quente», beneficiando de um oportuno exercício de “fogos reais” em curso»

As coincidências não ficam por aqui. Há um ano, a 8 de Julho de 2020, o Fórum Económico Mundial e respectivos associados na arte de anteciparem catástrofes virais que deixam o mundo literalmente em estado de sítio promoveram um outro exercício de ciberpandemia. Nessa altura, como veio a perceber-se pouco tempo depois, estava em andamento outro ciberataque transnacional que teve como epicentro a empresa norte-americana de tecnologia de informação SolarWinds, gestora de redes de alguns dos principais grupos mundiais, e atingiu, segundo os queixosos, gigantes empresariais como a Microsoft e a Cisco e os Departamentos de Segurança Interna, do Tesouro e áreas da Defesa dos Estados Unidos. E também, muito significativamente, a USAID, a «agência de desenvolvimento internacional» teleguiada pela CIA em processos de golpes brandos praticados a partir de Washington.

Na ocasião, o Cyber Command norte-americano confessou-se «apanhado de surpresa». Igualmente surpreendente é o facto de o grande ataque de há dias não ter gerado qualquer incómodo nos mercados globais, uma vez que as principais praças financeiras do mundo e também o ouro, o petróleo e o dólar registaram serenas subidas entre 0,45 e 1,85% na segunda-feira. Estarão os grandes santuários do capitalismo global imunes aos «maiores ciberataques de sempre»?

Existe neste contexto, porém, uma certeza nada intrigante para porta-vozes oficiais, analistas e especialistas, jornalistas e outros agentes da comunicação social corporativa: os autores das malfeitorias que fazem convergir os profetas dos vírus, sejam eles biológicos ou informáticos, nos exercícios que antecipam catástrofes são «os russos». Para todos os efeitos, os serviços de inteligência externa, SVR, por conta própria ou através de hackers arregimentados sob as suas ordens. Escasseiam as provas mas abundam as certezas, como é próprio dos dogmas. O CEO da Fire Eye, uma das empresas que se dizem atingidas, garante que os indícios «são mais consistentes com a espionagem e comportamentos próprios da Rússia».

Donald Trump ainda culpou a China, mas o seu sucessor, Joseph Biden, está tão seguro das responsabilidades de Moscovo que expulsou diplomatas russos e impôs novas sanções ao país como resposta ao ataque de 2020 à SolarWinds.

Foto de arquivo CréditosEPA/RALF HIRSCHBERGER / LUSA

Pandemias à saúde do capitalismo

Na exposição em que apresenta a simulação do Cyber Polygon deste dia 9 de Julho o Fórum Económico Mundial adverte que «um ataque cibernético com características semelhantes às da Covid-19 expandir-se-ia mais rapidamente e mais amplamente do que o vírus biológico, com uma taxa de reprodução cerca de dez vezes maior do que a do coronavírus».

O exercício, segundo a explicação oficial, terá a participação de dezenas de países e funcionará como uma resposta «em tempo real a um ataque direccionado contra a cadeia de suprimentos num ecossistema corporativo».

«Os trabalhos convergiram em três grandes tendências a adoptar para derrotar uma ciberpandemia:[…] identificação digital dos cidadãos de todo o mundo, delegação de funções dos Estados nos grandes gigantes privados transnacionais, articulação com as agências de aplicação da lei à escala global num ambiente de partilha de informações e de relações de confiança. O admirável mundo novo do Great Reset, o futuro do capitalismo e do mundo policial global»

Na comunicação de abertura que fez aos participantes no Cyber Polygon de 2020, o presidente do WEF, Klaus Schwab, afirmou que «ainda não prestámos atenção suficiente ao cenário assustador de um ataque cibernético abrangente, que interromperia completamente o fornecimento de energia, os transportes, os serviços hospitalares e a nossa sociedade como um todo. Neste quadro, a crise da Covid-19 seria um pequeno distúrbio em comparação com um grande ataque cibernético».

Que nos dizem então os exercícios e as simulações sobre as medidas a tomar para combater a tal ciberpandemia?

Recorramos à operação promovida em 8 de Julho de 2020, subordinada ao tema «Pandemia digital: como prevenir uma crise e reforçar a segurança cibernética a todos os níveis». Nela participaram 120 organizações de 29 países, 20 oradores e cinco milhões de espectadores por streaming em 57 países.

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Vírus, futurologia e horror à democracia

Para a generalidade das pessoas, a pandemia de Covid-19 é uma fonte de legítima insegurança. Para os que sonham com o «governo global», a Covid-19 é a «janela de oportunidade» mesmo a propósito para reforçar o fascismo neoliberal.

Créditos / CNBC

Tal como se previu ainda antes de o autoritarismo começar a cavalgar a pandemia, a Covid-19 tem as costas muito largas e nelas cabem todos os pretextos imagináveis para usar discricionariamente as alavancas dos poderes, sejam eles nacionais e, sobretudo, globais. Não existe nada tão sensível como a saúde, de cada um e de todos; nada é tão manipulável como uma sociedade reduzida ao medo, agravado através de campanhas de pânico; poucas coisas condicionam tanto os comportamentos humanos como a incerteza. E os que não convivem bem com a democracia aproveitam.

O caldo de cultura está pronto: basta mexê-lo. E para isso há mestres em acção e com receitas bem programadas que já perderam há muito, nas ânsias de aproveitar «esta rara mas estreita janela de oportunidade», as originais e alegadas preocupações com a saúde pública. Em boa verdade, é «do futuro dos negócios que se trata», como agendou o Fórum Económico Mundial para o seu próximo conclave em Davos, que decorrerá ainda em pleno «Inverno negro» pandémico.

«poucas coisas condicionam tanto os comportamentos humanos como a incerteza. E os que não convivem bem com a democracia aproveitam»

Recuemos dez anos no tempo e recordemos o cenário imaginado pela globalista Fundação Rockefeller, uma das principais patrocinadoras do fórum de Davos, ao antecipar o aparecimento de «uma nova estirpe de gripe extremamente virulenta e mortal». Estávamos em 2010 e no capítulo «Lock Step» da sua antevisão, designada «Cenários para o Futuro da Tecnologia e do Desenvolvimento Internacional», a citada fundação projectava uma situação em que, perante a pandemia, «dirigentes nacionais em todo o mundo reforçam a sua autoridade e impõem regras e restrições herméticas, desde o uso obrigatório de máscaras até à verificação da temperatura temporal».

A Fundação Rockefeller, além de reconhecidamente «filantrópica», como as comunicações mundana e «de referência» nos lembram sem parar, é também visionária. E previu, como consequência da pandemia, «um apertado controlo governamental de cima para baixo e uma liderança mais autoritária», com «crescente pressão sobre os cidadãos».

Se recordo estes dotes de adivinhação manifestados pelos mais acérrimos defensores da globalização neoliberal, também exibidos durante o «Evento 201» ocorrido em Outubro de 2019, dois meses e meio antes de conhecido o SARS-CoV-2, é para os podermos ler e interpretar de acordo com a realidade que vivemos nos dias de hoje.

E podermos partir daí para antevermos o que nos espera, com ou sem Covid-19, cingindo-nos ainda às antevisões feitas em 2010.

«a nova e "virulenta estirpe de gripe" trouxe o poder autoritário; depois, o vírus vai-se mas o autoritarismo fica. Não se trata, pois, de saúde pública mas, sim, de poder; e de poder cada vez mais global e antidemocrático»

«Mesmo depois de a pandemia ter sido ultrapassada», lê-se no «Lock Step» da Fundação Rockefeller, «o controlo e supervisão mais autoritários das cidades continuaram e intensificaram-se» e, como «protecção contra a disseminação de problemas cada vez mais globais – de pandemias ao terrorismo internacional, a crises ambientais e ao aumento da pobreza –, os dirigentes mundiais apoderaram-se de maneira mais firme do poder».

Isto é, a nova e «virulenta estirpe de gripe» trouxe o poder autoritário; depois, o vírus vai-se mas o autoritarismo fica. Não se trata, pois, de saúde pública mas, sim, de poder; e de poder cada vez mais global e antidemocrático.

Porque – e recorrendo ainda à receita programática da Fundação Rockefeller – a imposição desse autoritarismo será facilitada «por cidadãos assustados que voluntariamente abandonam parte da sua soberania – e privacidade – a Estados mais paternalistas, em troca de maior segurança e estabilidade».

Agora, entre as previsões e a realidade por nós vivida tente o leitor situar-se.

A «janela de oportunidade»

Foi no Verão deste ano, quando ainda os poderes nacionais e transnacionais não tinham retomado a vertigem dos estados de excepção, preparando assim os cidadãos para que a excepção venha a ser a regra, que o Fórum Económico Mundial anunciou o tema para a sua reunião em Janeiro de 2021: o «Futuro da Natureza e dos Negócios» no âmbito do «Great Reset», o «grande reinício» ou a «grande restauração» do capitalismo.

O Fórum Económico Mundial não é apenas mais um grupo de pressão e propaganda do neoliberalismo global como regime único. É, de facto, uma cimeira do neoliberalismo ao mais alto nível. Acolhe anualmente dezenas das grandes figuras da política e da economia globais, com destaque para os Estados Unidos da América – presidente incluído, seja ele qual for – e para a União Europeia, sem esquecer as presenças imprescindíveis dos expoentes do Banco Central Europeu, do Banco Mundial e do FMI.

«como explica o magnata alemão Klaus Schwab, presidente do Fórum Económico Mundial, "precisamos de renovar todos os aspectos da nossa sociedade, desde a educação aos contratos sociais e condições de trabalho"; isto é, "precisamos de um grande reinício do capitalismo"»

Recorda-se que, na mesma altura em que o fórum de Davos anunciou o seu «Great Reset», o FMI publicou um relatório intitulado «Da grande quarentena à grande transformação». Transformar, reiniciar, restaurar: da Fundação Rockefeller ao Fórum Económico Mundial e FMI, a orquestra neoliberal está perfeitamente afinada.

O que é o «Great Reset»? Segundo os promotores, uma resposta à pandemia de Covid-19 como «uma rara e estreita janela de oportunidade para reflectir, reimaginar e redefinir o nosso mundo de modo a criar um futuro mais saudável, mais justo, mais próspero». Ou, como explica o magnata alemão Klaus Schwab, presidente do Fórum Económico Mundial, «precisamos de renovar todos os aspectos da nossa sociedade, desde a educação aos contratos sociais e condições de trabalho»; isto é, «precisamos de um grande reinício do capitalismo».

Resta rematar que, na perspectiva da próxima reunião de Davos, a «Rede de Inteligência Estratégica» do Fórum Económico Mundial produziu uma Plataforma de Acção defendendo «um governo global para resposta à pandemia (…) moldando o futuro no século XXI desde os media às vacinas».

Governo global, isto é, uma entidade tecnocrática, sem rosto e à qual caberá, para gáudio dos fundamentalistas neoliberais, gerir o fascismo económico planetário sem os entraves da democracia à medida que os Estados nacionais se vão dissolvendo no tropel da submissão da política aos poderes financeiros e económicos transnacionais.

Futurologia? Não mais do que o cenário gerado pela pandemia de uma «virulenta estirpe de gripe» idealizado em 2010 pela Fundação Rockefeller.

De governo global já falava, há mais de 20 anos, o estratego Henry Kissinger, criminoso de guerra, um dos gurus da Fundação Rockefeller e do globalismo: quando colocadas perante o desconhecido, disse, «as pessoas renunciam de bom grado aos seus direitos individuais, trocando-os pela garantia do seu bem-estar assegurado pelo governo mundial».

Ou, como apregoa o presidente do Fórum Económico Mundial e pode ler-se como consigna no website desta entidade: «Bem-vindo a 2030! Não tem nada de seu, não tem privacidade mas a sua vida nunca foi melhor». Isto no reino comandado pela «Quarta Revolução Industrial», pela robotização e guiado pela inteligência artificial.

«De governo global já falava, há mais de 20 anos, o estratego Henry Kissinger, criminoso de guerra, um dos gurus da Fundação Rockefeller e do globalismo: quando colocadas perante o desconhecido, disse, "as pessoas renunciam de bom grado aos seus direitos individuais, trocando-os pela garantia do seu bem-estar assegurado pelo governo mundial"»

Continuamos na senda das elucubrações em torno do futuro, mas existe inegavelmente um fio condutor estratégico que pretende afastar-nos da situação em que vivíamos nos tempos pré-Covid em direcção ao tal «novo normal» no qual as excepções de antes se transformam em regras de agora. Como se lê a propósito da próxima reunião de Davos, a pandemia «é uma oportunidade para mudar a forma como comemos, crescemos, construímos e alimentamos as nossas vidas de modo a alcançar uma economia neutra em carbono, positiva para a natureza». O discurso não é de amanhã, como facilmente se identifica, mas de hoje – em torno, por exemplo, do capitalismo «verde», da «sustentabilidade» e de outras mais muletas propagandísticas do globalismo neoliberal. A propaganda está montada em função das teorias sobre o futuro criadas pelos fundamentalistas neoliberais de hoje. E que sabem, como ninguém, tirar o máximo proveito do vírus cujo aparecimento vaticinavam. Treinaram-se a contar com isso.

Para a generalidade das pessoas, a pandemia de Covid-19 é uma ameaça, um martírio, uma fonte de legítima e justificada insegurança; para os que a gerem, mexendo cordelinhos transnacionais ao alcance dos que sonham com o «governo global», a Covid-19 é o pretexto, a tal «janela de oportunidade» que vem mesmo a propósito para reforçar o fascismo neoliberal. Depois de tantas vezes previsto e encenado ao longo dos últimos anos, o vírus surgiu mesmo. Melhor só de encomenda.

Nos seus cenários o neoliberalismo estipula que o autoritarismo continuará e intensificar-se-á mesmo depois da pandemia. Cabe-nos combatê-lo democraticamente, desde logo em plena pandemia. Como muito bem provam os tempos em que vivemos, o neoliberalismo globalizante tem horror à democracia.

Tipo de Artigo: 
Opinião
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Os trabalhos convergiram em três grandes tendências a adoptar para derrotar uma ciberpandemia: impulsionar a identificação digital, combater as notícias falsas e fortalecer as parcerias público-privadas. «Num mundo altamente interconectado», lê-se nas conclusões da operação, «um único ataque cibernético pode expandir-se pela comunidade global, o que pode ser evitado promovendo a colaboração entre os sectores público e privado e as agências de aplicação da lei». Neste quadro, defende-se que «a interacção eficiente requer a implementação e a regulamentação de uma série de padrões, partilha de informações e o estabelecimento de relações de confiança».

Em resumo, identificação digital dos cidadãos de todo o mundo, delegação de funções dos Estados nos grandes gigantes privados transnacionais, articulação com as agências de aplicação da lei à escala global num ambiente de partilha de informações e de relações de confiança. O admirável mundo novo do Great Reset, o futuro do capitalismo e do mundo policial global.

«É importante», defende Klaus Schwab, «usar a crise do coronavírus como uma oportunidade candente para reflectir sobre as lições da comunidade de segurança cibernética de modo a estabelecer e melhorar a maneira de ultrapassar a nossa falta de preparação para uma potencial pandemia cibernética».

Os vírus massivos, biológicos ou informáticos, tornaram-se assim instrumentos fundamentais para o reforço do autoritarismo inerente ao aprofundamento e à globalização do capitalismo neoliberal.

CréditosBrian Snyders / Reuters

O reino do Big Brother

Falar apenas em «impulsionar a identificação digital» como tendência resultante do exercício Cyber Polygon de 2020 não reflecte a gravidade do que, na prática, está por detrás desse conceito.

Ficaremos um pouco mais familiarizados com a verdadeira intenção se soubermos que a apresentação do tema foi feita pelo criminoso de guerra e conspirador compulsivo Tony Blair. «Os governos encaminham-se inevitavelmente para a identificação digital que, para mim, é uma grande parte do futuro», profetizou.

«o Fórum Económico Mundial explica que “a identidade digital determina quais os produtos, serviços e informações a que cada um pode ter acesso – ou, inversamente – o que estará vedado a cada um”, níveis esses que serão “estabelecidos em função do comportamento online”. De onde se percebe que o exercício de uma fiscalização permanente – o Big Brother tornado realidade – determinará o que será permitido a cada pessoa fazer da sua própria vida»

A identidade digital é, de facto, um dos grandes pilares do Great Reset do Fórum Económico Mundial, entendida como a maneira de reunir o que cada cidadão faz online, os sites que visita, as participações nas redes sociais, a geolocalização do smartphone, além de armazenar os dados de identificação e os elementos que fazem hoje parte da carteira física – cartões de saúde, de seguros, bancários, por exemplo. Os organismos governamentais poderão assim, segundo a entidade que promove anualmente a cimeira do neoliberalismo em Davos (Suíça), usar as informações disponíveis, traçar perfis, partilhar dados, fiscalizar comportamentos; e a liberdade individual «depende do modo como a tecnologia é usada e dos padrões éticos de quem governa», podendo todos nós antever o cenário orwelliano que se aproxima ao ritmo da concentração do poder num todo-poderoso conglomerado público-privado, também conhecido como «governo mundial».

Não estamos perante um qualquer delírio de antecipação científica. O relatório de 2018 do Fórum Económico Mundial explica que «a identidade digital determina quais os produtos, serviços e informações a que cada um pode ter acesso – ou, inversamente – o que estará vedado a cada um», níveis esses que serão «estabelecidos em função do comportamento online». De onde se percebe que o exercício de uma fiscalização permanente – o Big Brother tornado realidade – determinará o que será permitido a cada pessoa fazer da sua própria vida.

Memória do «Event 201»

No ambiente esquizofrénico cultivado a propósito das antecipações de realidades de crise que são promovidas pelo Fórum Económico Mundial e afins não é difícil ter a noção de como é tratado o tema das fake news ou notícias falsas.

Os oradores que abordaram este assunto no exercício Cyber Polygon de 2020 partiram do princípio que a maioria das pessoas no mundo não têm condições de educação, cultura e discernimento crítico para distinguir o que é realidade do que é falso nas redes sociais e na comunicação social convencional. Na ocasião, expuseram o quadro mas não formalizaram conclusões.

No entanto, é possível extraí-las das recomendações resultantes do Event 201, a reunião dos profetas do vírus em Outubro de 2019 na qual foi simulada uma situação de pandemia provocada por um coronavírus, na altura designado SARS-CoV-2, e que pouco mais de dois meses depois viria a transformar-se, com essa mesma designação, na realidade em que vivemos.

Sugerem essas recomendações, em relação às notícias falsas, que «os governos necessitam de fazer parcerias com as empresas de redes sociais e de comunicação social tradicional para investigar e desenvolver abordagens ágeis de modo a combater a desinformação» – definição que cabe inteirinha na palavra censura.

«a sucessão de exercícios de simulações de pandemias […] converge em recomendações e práticas que têm em comum o reforço do autoritarismo, a crescente limitação de direitos e liberdades, o controlo da vida dos cidadãos e a indução de transformações económicas globais determinadas pelos interesses dos conglomerados económicos transnacionais e pelos objectivos de funcionamento de um “governo mundial”»

Constata-se que esta sucessão de exercícios de simulações de pandemias como o Clade X de 2018, o Event 201 de 2019 e as operações anuais designadas Cyber Polygon, desencadeadas por entidades de topo da ortodoxia neoliberal, converge em recomendações e práticas que têm em comum o reforço do autoritarismo, a crescente limitação de direitos e liberdades, o controlo da vida dos cidadãos e a indução de transformações económicas globais determinadas pelos interesses dos conglomerados económicos transnacionais e pelos objectivos de funcionamento de um «governo mundial». É um facto indesmentível que a Covid-19 está a provocar o descalabro das pequenas e médias empresas enquanto os grupos económicos com escala global e as grandes fortunas batem recordes de concentração de riqueza.

Os dons proféticos manifestados durante o Event 201 são admiráveis e simultaneamente aterradores quanto ao significado prático deste tipo de simulações.

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Os profetas do vírus

As pandemias têm as suas oportunidades de negócio. As entidades que montaram o Event 201 com um coronavírus inventado são as mesmas que se preparam para extrair avultados dividendos com o coronavírus verdadeiro.

CréditosJeff Pachoud / AFP via Getty Images

No dia 18 de Outubro de 2019, dezena e meia de tecnocratas de luxo ao serviço das mais altas esferas do regime neoliberal globalista reuniram-se num hotel de Nova York para realizar «um exercício pandémico de alto nível» designado Event 201; consistiu na «simulação de um surto de um novo coronavírus» de âmbito mundial no qual, «à medida que os casos e mortes se avolumam, as consequências tornam-se cada vez mais graves» devido «ao crescimento exponencial semana a semana». Ninguém ouvira falar ainda de qualquer caso de infecção: estávamos a 20 dias de o jornal britânico Guardian noticiar o aparecimento na China de uma nova doença respiratória provocada – soube-se só algumas semanas depois – por um novo coronavírus. Os dons proféticos dos expoentes do neoliberalismo são, sem dúvida, admiráveis.

Segundo os meios oficiais de divulgação do Event 201, partindo da constatação de que existem cerca de 200 situações de índole viral por ano bastaram apenas três horas e meia aos especialistas «para concordarem que é apenas uma questão de tempo até que uma dessas epidemias se torne global – uma pandemia com consequências potencialmente catastróficas». Na situação por eles idealizada à volta de uma mesa apuraram que a crise se prolongaria por 18 meses e provocaria «65 milhões de mortos» porque «embora no início alguns países possam conter o vírus ele continua a espalhar-se e a ser reintroduzido, pelo que eventualmente nenhum consegue manter o controlo».

Montou-se o exercício, explicam os responsáveis, para avaliar «áreas em que as parcerias público-privadas serão necessárias durante a resposta a uma pandemia severa para diminuir as consequências económicas e sociais em grande escala». Por exemplo, como pode ler-se nas sete medidas recomendadas ao cabo da simulação, «uma pandemia grave interferiria muito na saúde da força de trabalho, nas operações comerciais e no movimento de bens e serviços». Em pessoas raramente se fala, ao longo das explicações relacionadas com o exercício, mas também não foi disso que trataram os 15 participantes, «associados a negócios à escala global, governos e saúde pública». Como disse um deles, Ryan Morhard, entrevistado pela agência financeira Bloomberg a propósito da montagem da simulação, «foi mais de um ano de investigação, um investimento de centenas de milhares de dólares, mas os ensinamentos extraídos são incalculáveis».

O que terá acontecido em Fort Detrick?

Morhard representou, no exercício, o Fórum Económico Mundial (anualmente em Davos, Suíça), cenáculo da banca privada transnacional e do capitalismo selvagem, um dos organizadores do Event 201 juntamente com a Fundação John Hopkins e a Fundação Bill e Melinda Gates, entidade que se dedica simultaneamente à «campanha mundial de vacinação», à travagem do crescimento da população mundial e à promoção dos interesses dos grandes impérios farmacêuticos mundiais.

À volta da mesa do hotel de Nova York sentaram-se também representantes oficiais e oficiosos da ONU, do Banco Mundial, do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de grandes empresas, designadamente da área de produção e distribuição de instrumentos clínicos e medicamentos e do marketing empresarial, além da banca. Presença especial foi a de Avril Haynes, directora-adjunta da CIA durante a administração Obama e também ex-consultora jurídica da agência. Haynes parece especialmente dotada para as profecias no âmbito da epidemiologia, pois já em 2018, num discurso proferido na Camden Conference, anteviu «uma doença infecciosa provocada por um patógeno facilmente transmissível através das vias respiratórias» e que «em seis meses afectará todos os cantos do mundo».

18 de Outubro, o dia do Event 201, foi também a data de início dos Jogos Mundiais Militares em Wuhan, na China. O que terá este facto de especial, além da coincidência?

Veremos que, no mínimo, a coincidência dá que pensar. Wuhan é a cidade do centro da China onde deflagrou, em Dezembro de 2019, o surto de um novo coronavírus, entretanto designado SARS 2019-nCov, causador da doença designada por COVID-19. O ponto de emanação terá sido, segundo fica a saber-se através da comunicação social corporativa – e sem objecções levantadas pelos novos donos da verdade, os fact-checkers – o mercado de frutos do mar da cidade. No entanto, entre os primeiros 41 doentes tratados com o novo vírus nos hospitais de Wuhan, 13 não tiveram qualquer relação com o mercado de peixe e mariscos. O surto, portanto, não teve origem num só lugar.

Além disso, um porta-voz oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, fez uma declaração que implica outros caminhos na procura do «paciente zero» da pandemia. «Pode ter sido o Exército dos Estados Unidos que trouxe o surto para Wuhan», disse perante a teimosia provocatória do presidente norte-americano em qualificar o COVID-19 como um «vírus chinês». «Sejam transparentes, tornem os vossos dados públicos, devem-nos explicações», desafiou Zhao Lijian.

A alusão ao Exército dos Estados Unidos e o pedido «de explicações» remetem-nos precisamente para os Jogos Mundiais Militares em Wuhan, nos quais participou uma delegação norte-americana de aproximadamente 300 pessoas. E precisamente durante esses jogos, segundo Larry Romanoff, professor da Universidade de Xangai, cinco participantes – cuja nacionalidade não foi revelada pelos organizadores – foram hospitalizados com uma «infecção desconhecida». Isto aconteceu entre 18 e 29 de Outubro, cerca de oito semanas antes de ser revelada a existência do surto de novo coronavírus em Wuhan.

A militarização da narrativa aconselha-nos a recuar um pouco mais no tempo, para Julho e Agosto de 2019, altura em que foi encerrado subitamente o principal laboratório de guerra biológica dos Estados Unidos em Fort Detrick, Maryland. A decisão foi tomada pelo CDC invocando falhas em «descontaminar águas residuais» e deficiências na formação e certificação de pessoal dos laboratórios de biocontenção. Contudo, esclarece o insuspeito New York Times, o CDC não teve a possibilidade de fornecer dados mais específicos «por razões de segurança nacional». Não é top secret, porém, que entre 2005 e 2012 foram elencados mais de mil casos de roubos ou fuga de organismos patogénicos de laboratórios biológicos norte-americanos – mais de dois por dia.

Estamos perante elementos circunstanciais e factuais, nada mais do que isso. Mas por que será que a comunicação social dominante os esconde do grande público e insiste em amarrar a origem do COVID-19 à cidade de Wuhan?

Como disse o clínico Zhong Nanshan, conselheiro médico chefe da China no combate ao coronavírus: «Na verdade, a epidemia do novo coronavírus teve origem em Wuhan (…). Mas isso não quer dizer que a sua fonte esteja em Wuhan». Ou, parafraseando outro porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, trata-se «de um assunto científico, que requer opiniões científicas e profissionais». Portanto, no mínimo, a situação merece o benefício da dúvida.

Há muitos obstáculos a remover para se tirar a limpo estas histórias virais.

Medo e pânico

O profético ensaio realizado em 18 de Outubro num hotel de Nova York insere-se neste contexto. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) esteve representado na reunião na pessoa do director adjunto do Serviço de Saúde Pública e Desenvolvimento da Ciência, Stephen Redd.

Redd não precisaria de ter dons sobrenaturais para saber duas coisas: as razões do encerramento do laboratório de guerra biológica de Fort Detrick; e os problemas registados com a elevada taxa de mortalidade de surto de gripe comum (influenza) na altura registado nos Estados Unidos. Robert Redfield, o director do CDC, viria a admitir, aliás, que muitas dessas vítimas morreram afinal por acção do novo coronavírus, o que foi apurado através de exames póstumos. Ficando no ar a possibilidade de existirem casos letais de COVID-19 nos Estados Unidos antes de se ter desencadeado o surto em Wuhan.

O aparecimento da epidemia pouco tempo depois do Event 201 levantou algumas perplexidades quanto às circunstâncias temporais em que este aconteceu. Há sempre quem seja céptico quando se trata de adivinhações ou poderes sobrenaturais.

Tanto bastou para que as dúvidas e as interrogações fossem cilindradas pelos fact-checkers de serviço em vários azimutes, que as declararam sumariamente como fake news e mais uma manifestação da irredutível tendência para a «teoria da conspiração».

Segundo essas almas censórias, os participantes na simulação não fizeram qualquer previsão relacionada com aquilo que previram e o número de mortes calculado – 65 milhões em 18 meses – prova que as suas estimativas não dizem respeito à pandemia de COVID-19, apesar se relacionarem com um novo coronavírus. O exercício poderia, em boa verdade, ter decorrido com base num surto de ébola, de gripe suína H1N1 mas não: os promotores escolheram um coronavírus, nada mais, nada menos. E os censores não se interrogaram sobre a coincidência desta opção.

Aos fact-checkers bastou a garantia dada pelos organizadores da simulação numa declaração divulgada através dos seus órgãos oficiais já em plena pandemia real: «Embora o exercício tenha sido realizado com um novo coronavírus fictício, as entradas que usámos para estabelecer o modelo do impacto não são semelhantes ao COVID-19». A previsão de 65 milhões de mortes não vale para o vírus real, podemos ficar descansados. Aliás, neste processo parece que ninguém tentou lançar o medo e mesmo o pânico entre as instituições e a população.

Cronologias surpreendentes

O que não pode ser posto em causa, porque está escrito pelos representantes da nata do capitalismo selvagem na simulação de Nova York, é que «a próxima pandemia grave provocará muita doença e perda de vidas mas também poderá desencadear importantes consequências económicas em torrente (…) Os esforços para evitar tais consequências ou para lhes responder à medida que se desenvolvem exigirão níveis sem precedentes de colaboração entre governos, organizações internacionais e o sector privado».

Estas considerações servem de introdução às sete medidas aconselhadas pelos participantes no Event 201 – e começamos assim a chegar ao coração do negócio – porque é de grande negócio que se trata. Como, noutro plano, grande é o negócio da geoengenharia e mais formas de «adaptação» às alterações climáticas que tanto motivam igualmente a Fundação Bill e Melinda Gates e o Fórum Económico Mundial, promotores das adivinhações de Nova York. As quais «demonstraram vivamente algumas importantes lacunas nos preparativos para o combate à pandemia» e permitiram encarar «soluções entre os sectores público e privado que será necessário preencher».

Revelando a existência de uma grande e oportuna capacidade de resposta, no último Fórum Económico Mundial, realizado em Davos entre 21 e 24 de Janeiro, foi logo apresentado um programa de vacinação contra o coronavírus – apenas duas semanas depois de o COVID-19 ter sido identificado, em 7 de Janeiro. E ainda uma semana antes de a OMS ter lançado, a 30 de Janeiro, uma «emergência mundial de saúde pública» – a declaração de pandemia só aconteceu tempos depois. O tiro de partida da corrida às vacinas foi dado, portanto, quando havia somente 150 casos de COVID-19 oficialmente detectados no exterior da China, seis deles nos Estados Unidos.

Mais vale prevenir que remediar, dir-se-á. Ou o conhecimento de situações que ainda não são do domínio do grande público permite marcar posições de vantagem – esse é o poder da informação privilegiada, ou inside information.

O certo é que ainda em 23 de Janeiro, último dia do Fórum de Davos deste ano, a CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) entrou decididamente em campo para tentar tomar conta do processo de criação de vacinas contra o COVID-19. A CEPI, comissão que centraliza as inovações para o combate a epidemias, é patrocinada precisamente pelo Fórum Económico Global e pela Fundação Bill e Melinda Gates e, por essas vias, tem grande peso na Organização Mundial de Saúde.

A CEPI lida, em modo tendencialmente monopolista, com vários gigantes da indústria farmacêutica e, neste âmbito, accionou em primeiro lugar a empresa norte-americana Moderna Inc. e o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID), chefiado pelo dr. Anthony Fauci, que se distinguiu pelas suas declarações atemorizadoras do impacto do novo coronavírus quando ele praticamente ainda mal se manifestara, em termos de reconhecimento oficial, no exterior da China. Depois a CEPI contactou a CureVac alemã, a mesma empresa à qual Donald Trump, aconselhado pelo NIAID, ofereceu secretamente mil milhões de dólares para ceder aos Estados Unidos os direitos de uma eventual vacina para o COVID-19.

A Moderna é hoje a empresa mais bem posicionada na corrida à vacina do COVID-19: iniciou testes em seres humanos em 16 de Março mesmo sem ter feito experiências em outros animais; ao contrário do que aconteceu com a chinesa Canssino Biologic’s, também a realizar ensaios em seres humanos mas depois de ter obtido resultados encorajadores em outros animais.

A CureVac alemã parece estar igualmente numa fase avançada da investigação da vacina, o que significa, de facto, um grande controlo dos trabalhos em curso por parte da CEPI.

Richard Hackett, o presidente desta comissão, confessou em 3 de Fevereiro que «conversamos com ampla variedade de parceiros para produzir grande quantidade de vacinas para uma pandemia» – que então ainda não fora declarada.

Também Hackett manifesta dons proféticos: «o projecto começou antes de ser descoberto e identificado o novo coronavírus», disse durante uma entrevista; «fizemos isso no ano passado ou antes e usámos a informação que reunimos para ir encarando a preparação de vacinas de diferentes tipos». A estratégia, explicou o presidente da CEPI, «é ter grande número de candidatos».

Há claramente um grande esforço das elites neoliberais para não perderem o controlo da produção de vacinas para o novo coronavírus e tirar proveito da situação; bem basta terem de contar com a concorrência chinesa.

«Os governos devem…»

Feita a simulação catastrófica, que medidas recomendaram os iluminados de Nova York para fazer frente às consequências?

Ao longo dessa espécie de sete mandamentos a expressão que pode ler-se mais é «os governos devem…»

«Os governos nacionais devem», juntamente com as organizações internacionais e a indústria privada, «reforçar os stocks mundiais de contra-medidas médicas (…) expandir o stock de vacinas (…) doar parte das suas reservas de vacinação (…) fornecer financiamento substancial». É oportuno notar que o reforço e centralização de instrumentos médicos foi a única medida tomada até agora pela União Europeia no âmbito do combate à pandemia de COVID-19.

«Os governos nacionais devem fornecer mais recursos e apoio ao desenvolvimento e fabrico de vacinas, ao desenvolvimento, abastecimento e distribuição rápida e em grandes quantidades de contra-medidas médicas»; além disso, os países «com recursos suficientes devem aumentar bastante essa capacidade».

«Os governos nacionais devem»… ajudar as grandes empresas do sector privado «a encarar os riscos comerciais representados por doenças infecciosas e a caminhar para atenuar esses riscos através da cooperação público-privada».

Mas «também será necessário identificar» os problemas «mais críticos do sistema bancário e das economias globais necessárias e demasiado importantes para fracassar», aconselham. Por isso, «o Banco Mundial, o FMI, os bancos de desenvolvimento regional, os governos nacionais e fundações devem explorar as maneiras de aumentar a quantidade e a disponibilidade de fundos e garantir que possam ser utilizados com flexibilidade». E o Grupo dos 20 (G20) acaba de prometer mundos e fundos para injectar na economia global.

«Os governos devem», «os governos devem», «os governos devem» é o mote.

Porém, advertem os profetas da simulação, «uma pandemia particularmente veloz e letal poderia resultar em decisões políticas para retardar ou interromper o movimento de pessoas e bens, prejudicando potencialmente as economias já vulneráveis perante um surto». Daí «a necessidade de mitigar os danos económicos mantendo-se as principais rotas de viagem e comércio durante uma pandemia de grande escala», até porque grande parte dos danos «devem-se a comportamentos contraproducentes de indivíduos, empresas e países».

Esta recomendação não parece ter sido ouvida ou então a pandemia real surgiu demasiado em cima da pandemia ficcionada. «Não agimos de maneira suficientemente rápida», lamentou muito recentemente o próprio Bill Gates.

Mas parece haver quem esteja disponível para emendar o «erro» e a estratégia: o presidente dos Estados Unidos pediu o regresso ao trabalho exactamente no momento em que o ataque do COVID-19 começa a ter repercussões trágicas no seu país. Wall Street agradeceu e logo começou a compensar as perdas vultuosas sofridas nas últimas semanas.

Porque as pandemias, verdade seja dita, têm as suas oportunidades de negócio. Por isso, as entidades que montaram o Event 201 com o coronavírus inventado são as mesmas que, a jusante, se preparam para extrair avultados dividendos com o coronavírus verdadeiro – juntando a ficção à realidade.

Enquanto as pessoas morrem.

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«Embora no início alguns países possam conter o vírus ele continua a espalhar-se e a ser reintroduzido, pelo que eventualmente nenhum consegue manter o controlo», lê-se na descrição oficial do Event 201, redigida há mais de 20 meses. Recorde-se que a operação decorreu em Nova York em 18 de Outubro de 2019 e o coronavírus só foi identificado em Wuhan, China, em finais de Dezembro. A semelhança da narrativa supostamente ficcional com a realidade actual é flagrante, o que faz pensar. «Foi mais de um ano de investigação, um investimento de centenas de milhares de dólares, mas os ensinamentos extraídos são incalculáveis», confessou Ryan Morhard, representante do Fórum Económico Mundial, a propósito da montagem da simulação. Entre esses «ensinamentos incalculáveis» estão as previsões de resposta ao vírus segundo as quais os governos iriam decretar bloqueios e confinamentos em todo o mundo, a razia nos pequenos e médios negócios, o desemprego em massa, a «maior adopção de tecnologia de vigilância biométrica», o controlo das redes sociais para supostamente combater as notícias falsas, a inundação dos canais de comunicação com estudos, informações, relatórios, projectos, modelos matemáticos, dados sobre a eficácia das vacinas a cargo de «fontes especializadas e autorizadas».

Se o grau de acerto de uma simulação da pandemia de coronavírus foi assim tão elevado, o que esperar agora do Cyber Polygon prometendo-nos uma ciberpandemia que «será mais rápida que a Covid, com uma taxa de crescimento exponencial, um impacto ainda maior e implicações económicas e sociais mais significativas», segundo Jeremy Jurgens, director de negócios do WEF?

Há razões para ficarmos alarmados. Diz a apresentação do exercício Cyber Polygon deste ano feita pelo Fórum Económico Mundial: «A única maneira de impedir a propagação exponencial» da ciberpandemia será «desconectar totalmente entre si os milhões de dispositivos vulneráveis»; mas «um único dia sem internet custaria mais de 50 mil milhões de dólares, sem ter em conta os danos económicos e sociais no caso de dispositivos ligados a serviços essenciais como transportes e saúde», plataformas financeiras globais, redes de energia e tratamento de águas, sistemas de «internet das coisas» e «internet dos corpos», áreas de tecnologia de informação dos governos, infraestruturas militares e de guerra.

Certamente algo de muito grande está na mente de quem promove profecias de pandemias. A experiência já vivida permite-nos conhecer parcialmente o grau de cumprimento das previsões. Assim sendo, nada de bom para as pessoas será de esperar da simulação de uma ciberpandemia; pelo contrário, ficam latentes muitas e graves ameaças de continuação e agudização das situações altamente traumáticas, invasivas e até despóticas suscitadas a pretexto de um vírus biológico, agora previsivelmente reforçadas por um vírus cibernético.

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