As Mães da Praça de Maio, organização de mães argentinas que durante a ditadura se manifestaram pelo desaparecimento dos seus filhos, organizaram a Marcha Anual da Resistência, que teve início sexta-feira e se prolongou por 24 horas.
O protesto realiza-se anualmente em frente à Casa Rosada, sede da presidência argentina, desde 1981, tendo sido interrompido em 2006, durante o governo de Néstor Kirchner, por a organização considerar que o inimigo «já não estava na casa do governo». Há um ano, após a vitória de Mauricio Macri nas eleições presidenciais de Novembro, a marcha voltou a realizar-se.
À Marcha Anual da Resistência juntou-se a Jornada Nacional de Luta pelos Direitos Humanos, com protestos por todo o país e, também, na simbólica praça da capital. Os manifestantes reclamavam por muitos dos responsáveis pela ditadura argentina, de 1976 a 1983, ainda não terem sido levados à justiça. Estima-se que o número de desaparecidos nesses sete anos supere as 30 mil pessoas.
Um ano de governo Macri
Os protestos coincidiram com o primeiro aniversário da tomada de posse do presidente da Argentina, cujas medidas nos planos político, social e económico não foram poupadas.
A organização da mobilização deste sábado lembrou a prisão de uma activista no Norte do país, episódio que é apontado como exemplo da «criminalização do protesto» e da «violência institucional levada a cabo pelas forças de segurança», refere a Telesur.
«Doze meses para deitar por terra as conquistas sociais de 12 anos»
Numa análise ao primeiro ano do mandato de Macri, a correspondente da Prensa Latina em Buenos Aires, Maylín Vidal, traça um retrato de retrocesso social face aos governos de Néstor e Cristina Kirchner.
«Em apenas 12 meses, o governante [Mauricio Macri] deitou por terra várias das conquistas sociais alcançadas durante os últimos 12 anos», refere a jornalista da agência noticiosa.
Vidal lembra o pagamento aos «fundos abutres», com quem a Argentina mantinha uma contenda há largos anos, com o endividamento público a alcançar os 9,3 mil milhões de dólares.
No último ano, «a taxa de inflação alcançou os 40%, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 3,4%, as tarifas de electricidade e gás aumentaram até 500% e houve despedimentos massivos em todos os sectores», prossegue.
De acordo com dados oficiais, o número de despedimentos desde que Macri tomou posse ronda os 200 mil, em claro contraste com a promessa eleitoral de criação de «milhões de postos de trabalho».
O número de argentinos que são pobres ultrapassa já os 32,2%, em grande parte como consequência dos cortes em numerosos programas sociais, de apoio a estudantes, jovens trabalhadores ou desempregados.
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