Convocadas por sindicatos, partidos políticos e organizações sociais, muitos milhares de pessoas vieram para as ruas, no Dia Internacional dos Trabalhadores, para continuarem a dizer «não» à Lei de Solidariedade Sustentável (reforma tributária) avançada pelo governo de Iván Duque e repudiar a forte repressão policial dos últimos dias.
Ao descontentamento e à revolta popular com o projecto de lei juntou-se o «mal-estar» provocado pelo apelo do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), expresso na sexta-feira, para que o Exército interviesse contra os manifestantes.
Apesar de o Twitter ter apagado, algumas horas depois, o apelo de Uribe às armas, nas ruas e nas redes sociais o repúdio fez ouvir: «O povo não te quer, assassino criminoso» foi uma de várias expressões sintomáticas veiculadas contra o uribista.
Ontem, Bogotá foi um dos palcos das mobilizações em defesa dos direitos dos trabalhadores, contra a reforma de Duque e a repressão policial. «Aqui está o povo nas ruas organizado, a lutar por uma vida digna», afirmaram na capital.
Na sua conta de Twitter, o Congresso de los Pueblos informou que, neste «Primeiro de Maio, no Sul de Bogotá o povo continua nas ruas, apesar da ameaça das forças de segurança e do governo nacional».
A organização denunciou a repressão exercida pela Polícia em vários pontos do país sul-americano, nomeadamente na cidade de Pereira, no departamento de Risaralda. «Fazemos um apelo para que sejam dadas garantias à mobilização social. Protestar é um direito», referiu.
A Central Unitária dos Trabalhadores anunciou o prosseguimento da Paralisação Nacional iniciada esta quarta-feira contra a proposta de legislação que visa aumentar impostos para «financiar a crise». «A greve desta quinta-feira insistirá na oposição à Reforma Tributária, prosseguirá dia 19 de Maio e continuará enquanto o governo persistir na proposta actual», disse Francisco Maltés, dirigente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT). Além de «marchas massivas, vigorosas e pacíficas» nesse âmbito, também em defesa de apoios sociais e às pequenas e médias empresas, estão igualmente previstas mobilizações para o Primeiro de Maio. Ontem, desde cedo, milhares de pessoas vieram para as ruas em diferentes cidades e em mais de 500 municípios do país sul-americano, em protesto contra a proposta do governo de Duque, que os manifestantes acusam de estar a passar aos trabalhadores a factura da crise sanitária e económica. A jornada de protesto, convocada pelo Comité Nacional de Greve, visava igualmente denunciar a violência no país, sobretudo os massacres e os assassinatos de dirigentes sociais, de defensores da paz e dos direitos humanos, bem como de ex-combatentes das FARC-EP signatários do acordo de paz de 2016. Bogotá, Medellín, Cáli, Barranquilla e Cartagena foram palco das maiores mobilizações, e ali foram reportados vários confrontos com as forças de segurança. De acordo com a Prensa Latina, o governo destacou mais de 47 mil agentes para as ruas. «A Colômbia está mergulhada numa crise económica muito profunda e propõe-se uma reforma tributária para acabar de empobrecer a classe média, encarecer os alimentos, quando 30% da população, segundo o Departamento Administrativo Nacional de Estatística, não está a fazer três refeições diárias», disse a vice-presidente da Federação Médica Colombiana, Carolina Corcho, citada pela Prensa Latina. Por seu lado, o presidente da CUT em Antioquia, Jaime Montoya, classificou a reforma como «a mais regressiva de todas», além de favorecer as grandes empresas e o capital financeiro. A reforma tributária, designada como Lei de Solidariedade Sustentável, contempla o aumento dos impostos sobre produtos e serviços, a instalação de portagens urbanas, e altera o regime de isenções fiscais, o que agravaria a situação de assalariados, pensionistas e população com baixos rendimentos. Em comunicado, o Comité Nacional de Greve, que integra várias organizações sindicais, movimentos sociais e partidos, sublinhou «a profunda rejeição da população pelas medidas neoliberais de Duque», apesar do «pico da pandemia, da estigmatização da greve promovida pelo governo e alguns órgãos de comunicação», informa a TeleSur. O Comité denunciou as medidas de recolher obrigatório e a ausência de transportes públicos, adoptadas por algumas autoridades locais para impedir o protesto, bem como as acções de repressão perpetradas por agentes da Polícia e do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) em várias cidades, que se saldaram com um morto, dezenas de feridos e de detidos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Prossegue na Colômbia a paralisação nacional contra a reforma tributária
Na crise sanitária, aprofundar o neoliberalismo
Denúncias de repressão
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Órgãos de comunicação locais e internautas deram conta de manifestações, este sábado, também em Barraquilla, Medellín, Bucamaranga, Cartagena e Cáli, com forte presença de forças policiais, militares e de agentes do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad), registando-se vários episódios de repressão sobre os manifestantes.
Houve igualmente mobilizações na região do Catatumbo e na cidade de Popayán, no Cauca. Nesta última, refere a TeleSur, a manifestação do Primeiro de Maio – contra a reforma tributária e a repressão do governo de Duque – é a primeira em mais de 80 anos.
Em Cáli, no departamento de Valle del Cauca, a manifestação do Dia do Trabalhador foi massiva, como resposta à grande repressão exercida sobre os manifestantes nos dias anteriores.
De acordo com um relatório divulgado pela Rede de Direitos Humanos Francisco Isaías Cifuentes na sexta-feira à noite, pelo menos oito pessoas foram mortas em Cáli durante as mobilizações. Além disso, o organismo registou a detenção de pelo menos 84 pessoas, 28 feridos, três manifestantes desaparecidos, três casos de pessoas que perderam um olho e o de uma mulher que foi abusada sexualmente por um agente do Esmad.
Duque move-se
Ainda na sexta-feira, confrontado com a grande oposição nas ruas ao polémico projecto para reajustar as contas em tempos de «crise», Iván Duque anunciou que ordenou ao Ministério das Finanças proceder à sua reformulação.
Já ontem, ao final do dia, na sequência de nova jornada de intensas mobilizações no país, o presidente colombiano anunciou que irá destacar o Exército e outros componentes das Forças Armadas para controlar os protestos nas principais cidades.
Para tal, explica a TeleSur, irá recorrer à figura da «assistência militar», que, disse, está contemplada na Constituição e que manterá, em coordenação com autarcas e governadores, até que as manifestações acabem.
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