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Repressão em Buenos Aires sobre quem «mostrava a miséria» e pedia ajudas

Milhares de pessoas manifestaram-se esta quarta-feira, na capital argentina, para reivindicar maiores apoios sociais e exigir que se declare a situação de «emergência alimentar». A Polícia da Cidade respondeu com grande violência, havendo a registar vários feridos e detidos.

A Polícia da Cidade de Buenos Aires reprimiu com violência a mobilização em que se reclamava maiores apoios sociais
Créditos / DyN

Uma das reivindicações das associações integradas na Frente por Trabajo y Dignidad Milagro Sala diz respeito à recuperação de 40 mil postos de trabalho perdidos no último ano e meio no sector cooperativo. Neste contexto, pediam também ao governo que declarasse a situação de «emergência laboral» e de «emergência alimentar», porque, «se há miséria, é preciso mostrá-la», referia, ontem, o periódico argentino Página/12.

Em declarações a este jornal, um dos organizadores da mobilização, Fernando Gómez, disse que «todos os dias abrem novos refeitórios sociais» na região de Buenos Aires. «Os miúdos não podem comer nem beber leite em suas casas. Os seus pais e mães não conseguem ir aos supermercados e nós não vamos comprar ossos de frango», sublinhou, acrescentando que, se não tiverem uma resposta do governo, vão acampar, mesmo com o frio que faz, porque é preciso «mostrar a miséria que as pessoas estão a viver nos bairros».

Estas reivindicações dão-se num contexto em que o desemprego e a miséria aumentam no país, em particular na região de Buenos Aires, como consequências das políticas de austeridade impostas pelo governo de Mauricio Macri. Os indicadores económicos são reveladores das dificuldades que a Argentina atravessa: inflação de 10,5% nos primeiros cinco meses de 2017 e taxa de desemprego de 9,2% no primeiro trimestre deste ano, segundo indica a TeleSur.

Mobilização pacífica e forte repressão

Milhares de pessoas percorreram, ontem, o centro da capital argentina, deslocando-se até ao Ministério do Trabalho e do Desenvolvimento Social, na Avenida 9 de Julho, para reclamar também maiores apoios sociais para os refeitórios e as colectividades de bairro.

Ali, efectivos policiais, fardados e à paisana, recorreram a grande violência para dispersar a mobilização, por ordem de Mauricio Macri, indica a TeleSur. Eduardo Montes, dirigente da cooperativa Gráfica Patricios, disse que «estiveram mobilizados mais de quatro horas pelas suas reivindicações» e que, numa primeira reunião no ministério, as «autoridades disseram "não" a cada uma delas».

Decidiram acampar e voltaram a ser chamados ao ministério. «Entrámos e, quando nos estávamos a sentar, a polícia avançou e começou a reprimir», disse à TeleSur. A partir desse momento, a Polícia da Cidade disparou balas de borracha, jactos de água e gases lacrimogéneos contra os manifestantes.

Alguns, foram perseguidos, espancados e arrastados pelas ruas adjacentes – com as televisões e muitos telemóveis a gravarem. Há vários feridos registados, mas o número não foi especificado; pelo menos sete pessoas foram presas.

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