O conflito que opõe a Rússia à Ucrânia tem na sua génese outros vectores estratégicos que não o estritamente militar, e de onde se destaca o apoio ou inércia das instâncias internacionais, ao golpe de estado de 2014, processo de fascização e nazificação da sociedade e genocídio das comunidades russas.
Os EUA, a NATO e a UE, desde logo, sempre preferiram o confronto e a acção directa, aos esforços diplomáticos e à negociação. O ódio ao povo russo e a sua caracterização como inimigo prevaleceu sobre a racionalidade e a paz.
Era evidente que a partir dos acontecimentos de 2014 e 2015, que a Ucrânia iria rasgar os Acordos de Minsk e não iria respeitar o estatuto de neutralidade a que estava obrigada.
Por detrás da Ucrânia esconde-se um estado colonizado pelos EUA e refém das manobras e conspirações, da NATO e da UE, contra a Federação Russa e as legítimas aspirações e interesses de regiões e povos que não se revêem histórica e culturalmente naquele espaço político e pretendem a separação daquele território.
Os territórios do Donbass e os seus povos, (maioritariamente russos), viveram durante oito anos num estado de guerra, sob a repressão policial e militar por parte das milícias fascistas e nazis, e que teve como consequência 15 mil mortos, segundo dados da própria ONU.
Estados e Instituições que hoje se arvoram em paladinos do povo ucraniano e contra este conflito de carácter preventivo nunca mexeram um dedo no que respeita à limpeza étnica, à violação dos direitos fundamentais destes povos e à autodeterminação destes territórios.
A situação que desde 2015 opôs a Ucrânia à Rússia foi sempre de crise. Um estado intermédio entre a paz e a guerra. A Ucrânia ao rasgar os Acordos de Misnk, ameaçar aderir à NATO e reprimir com todas as forças os povos russos, entrou numa escalada de provocação, que fez com que a paz se tornasse impossível e a guerra se tornasse provável.
A Federação Russa apostou na dissuasão, desde logo para evitar a guerra. À Ucrânia pedia-se que assumisse os Acordos de Minsk e adoptasse sem ambiguidades a neutralidade a que estava obrigada.
Mas o governo fantoche da Ucrânia, gozando do apoio dos EUA, NATO e da UE, preferiu jogar na roleta russa, apostando na provocação e intimidação e pondo em causa o equilíbrio de poder naquela zona sensível do leste europeu, ameaçando a paz e o bem estar de todo um povo.
A questão de fundo, é que a política de um dos lados (Ucrânia) deixou de ser clara e tornando-se imprevisível, ignorou os avisos que foram feitos pela Federação Russa, talvez julgando mal que estaria a fazer bluff ou que a intimidação e pressões por parte dos EUA, da NATO e da UE, teriam o efeito de contenção. O resultado está à vista.
Neste contexto, não deixará de ser oportuno lembrar (já que o objectivo permanente tem sido esbater a memória dos povos) a responsabilidade que os EUA, a NATO e a UE, tiveram no espoletar de situações de crises e de guerras, com todo o corolário de destruição e sofrimento, baseados em operações negras, assassinatos e distorção de factos.
Por exemplo:
- Os EUA (1945) foram o único país do mundo que utilizou a violência máxima na guerra, com a utilização da bomba atómica, sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, provocando 120 mil mortos e 100 mil feridos entre a população civil.
- Coreia (1951) – Força Expedicionária Americana, intervém na guerra civil que opôs as duas Coreias. Perante a sucessão de derrotas, o general Mac Artur considerou a realização de ataque com armas nucleares. 1,2 milhões de mortos.
- Vietnam (1965) - Intervenção dos EUA. 2 milhões de vietnamitas perderam a vida.
- Jugoslávia (1992) – Intervenção liderada pela NATO e EUA. Massacre de Svebrenica, valas comuns. Mito fabricado pela NATO e os serviços secretos ocidentais para culpar os Sérvios e levar ao desmantelamento da Jugoslávia. 140 mil mortes e 4 milhões de deslocados.
- Iraque (2003) – Invasão e ocupação por forças da coligação ocidental, liderada pelos EUA, com o pretexto falso de haver armas químicas de destruição em massa. 2 milhões de mortos. Assassinato do presidente Saddam Husseim sem julgamento prévio.
- Afeganistão (2001) – Coligação ocidental liderada pelos EUA, alegando represálias pelos atentados de 11 de Setembro. Esteve ocupado 20 anos pelas tropas americanas. 174 mil mortos, dos quais 47.245 eram civis.
- Líbia (2011) – Intervenção militar internacional liderada pelos EUA e NATO. Extrapolaram o Mandato de Resolução da ONU 1973, apoiando as forças da oposição e derrubando o líder líbio. Realizaram 20 mil incursões aéreas e 8 mil ataques armados. 70 mil mortes. Assassinato do presidente Muammad Gaddaffi sem julgamento prévio.
A este reduzido apontamento das intervenções dos EUA e da NATO, outros elementos podem ser adicionados, como a participação em 13 operações para mudanças de regimes, os bloqueios e a chantagem económica, assassinatos de presidentes de países soberanos, crimes contra a humanidade, operações encobertas ou negras e terrorismo, ataques cibernéticos, etc.
Uma panóplia de operações regulares e irregulares convencionais e não convencionais, responsáveis pela desestabilização a nível mundial, por milhões de mortos e destruição de cidades e países – tudo gozando do beneplácito ou da inércia das instituições internacionais.
A política dos EUA, da NATO e actualmente da UE, como os antecedentes evidenciam, continua a ser insistentemente baseada na confrontação, fomentando crises, conflitos e guerras.
Não existem dúvidas, de que toda esta operação na Ucrânia, nos últimos anos, foi preparada e planeada, a partir da zona de responsabilidade da NATO.
À NATO foi dado o encargo de concretizar um processo em escalada contra a Rússia, tendo a Ucrânia como cenário principal e campo de operações táctica.
As causas não são, de modo algum, as invocadas por parte da NATO, dos EUA e da UE. Elas residem na corrida armamentista desencadeada pela administração americana e pela NATO e na instabilidade e tensão que fomentam em todo o Planeta.
Tem sido o fornecimento de toneladas de armamento militar, armazenado nos países que fazem fronteira com a Ucrânia e distribuído sem qualquer controle e sabe-se lá a quem; mas que não é difícil adivinhar a que mãos vai parar.
Igualmente, no sentido de aumentar o potencial militar da NATO, são as propostas para os orçamentos elevarem os gastos com a defesa com 2% do PIB, o que, no caso português, representa cerca de 4 mil milhões de euros. (ou seja metade do que é gasto com o Serviço Nacional de Saúde), bem como as pressões e chantagem sobre países como a Suécia e a Finlândia no sentido de rápidas adesões a esta organização agressiva, como garantia contra um propalado expansionismo russo.
O caminho que a NATO está a percorrer é perigoso e aponta para uma guerra em larga escala.
As negociações entre as partes beligerantes estão num impasse. É nítido o objectivo da parte ucraniana, de as fazer arrastar e de sobrecarregá-las com elementos que estiveram na origem do conflito.
Trata-se de ganhar tempo e deixar que este conflito se prolongue.
O lobby do complexo-industrial militar americano não quer a paz. A paz é má para o negócio.
Um dos vectores, para prolongar esta guerra que opõe os EUA à Rússia – é disso que se trata –, é a manipulação política e ideológica. Regressou em força a «Congregação da Propaganda» e com ela, a descida ao «reino das trevas» na comunicação social. Todos alinhados e unidos e envolvendo todos os recursos, espalham pelo Ocidente o monumental embuste.
O fenómeno da guerra, considerando os conflitos na Jugoslávia, Iraque e Afeganistão, tem sido marcado pelo uso alargado de instrumentos e meios não militares para atingir determinados objectivos.
É o caso da propaganda falsa, com elevado grau de penetração na opinião pública, através da exploração das emoções e sentimentos, da chantagem, da dicotomia entre bons e maus, da ameaça e do legado do medo.
Com uma operação sistemática e intensiva de propaganda, procuram virar a opinião pública contra o povo russo, querendo fazer crer que o exército russ, não passa dum bando de selvagens sanguinários e assassinos (versão do Departamento de Estado dos EUA).
Para isso omitem de forma cínica e grosseira, que as Forças Armadas, sejam da Rússia ou de outro país, são instituições altamente hierarquizadas e submetidas a padrões rígidos de disciplina e éticos, incompatíveis com as acusações descritas.
É neste sentido que se enquadram as falsas e grosseiras acusações de massacres de civis, em Bucha e outros locais. Trata-se de cenários montados pela empresa «Kvartal 95 Studio», propriedade do auto-intitulado presidente da Ucrânia, e que teve o envolvimento dos serviços secretos ucranianos e ocidentais.
É um acto de distorção dos factos e da realidade, já fortemente atestado por especialistas da área militar e com referências a situações análogas, já experimentadas noutros teatros de operações, onde houve envolvimento da NATO e dos EUA.
São exploradas situações com forte impacto na opinião pública, na base de uma desinformação total e de ausência de análise crítica, ao mesmo tempo que se esconde o carácter fascista do regime de Kiev, os crimes de Odessa, o genocídio dos povos russófonos da região do Donbass, vários atentados às liberdades e uma repressão política generalizada.
Quem esteve em teatros de operações sabe, infelizmente, que Bucha foi o cenário escolhido para o embuste, bem como, agora, o descrito ataque com armas químicas, proveniente das agências de diversão ideológica e propaganda tóxica dos EUA.
Os mortos foram fotografados, todos alinhados, sem sangue, sem repasto de cães, sem moscas a zumbirem num ruído infernal. Nada disto.
Estavam limpinhos para a fotografia.
Os militares compreendem melhor que ninguém o que é a guerra que se está a travar na Ucrânia e têm tido um papel importante, (paciente, erudito e integro), na análise deste conflito, extrema complexidade.
Aquilo a que estamos a assistir, nos órgãos de comunicação social, é a mesma ruidosa publicidade, autêntico massacre, pelos expert em movimentos de tropas e operações, relatando de forma insistente «heróica ofensiva das tropas ucranianas» ou a «retirada forçada das tropas russas de Kiev e no norte da Ucrânia», «o presidente herói», e outras trapalhices do género.
Compreende-se que os jornalistas, na cobertura deste conflito, estejam praticamente reféns do fanatismo ideológico e das «verdades oficiais» que correspondem a directivas rígidas por parte dos patrões e dos «protectores» da ideologia do pensamento único.
O que se verifica na realidade é que as forças russas continuam a dispor da iniciativa e da capacidade de ofensiva militar, o que é o nítido e censurado, e em contraponto a fortíssima e falsa campanha que enaltece as forças da Ucrânia e que funciona como multiplicador desta força no conflito.
É conhecido, que os conflitos armados têm vindo a sofrer alterações no âmbito da sua conduta e do próprio carácter, como vimos nas guerras na Jugoslávia, no Iraque e no Afeganistão e, actualmente, na Ucrânia.
Trata-se de guerras híbridas, mais complexas e em que os objectivos por que se combate são múltiplos e sobrepostos, como aconteceu no início da invasão da Ucrânia, onde assistimos a um dispositivo descentralizado e onde se presumia que o objectivo vital (político) seria a cidade de Kiev.
Manobra essa que correspondeu, a forçar o adversário a responder ao longo de várias linhas de operação (dispersão), levando ao seu desgaste e saturação.
A saída das tropas russas de algumas cidades a norte de Kiev (considerada como retirada) teve o significado de reagrupar forças e ajustar o dispositivo, aos objectivos tácticos e estratégicos definidos politicamente como determinantes da operação em curso, ou seja regiões do leste e sul da Ucrânia.
Outra particularidade desta guerra, é a resultante da incorporação de milhares de civis, que participam nos combates e, como tal sujeitos, às leis de guerra, o que torna o conflito mais complexo e traz dificuldades acrescidas à sua compreensão pela opinião pública.
É mais que evidente que a elite corrupta e fascista Ucraniana não está disponível para ir contra os interesses dos seus protectores, nem tão pouco é sensível ao sacrifício e sofrimento do povo, o que significa que o conflito está para durar, ou até poderá entrar numa nova escalada e com outros protagonistas.
O cinismo é próprio desta gentalha que governa os EUA, a NATO e a UE.
Além disso, existe a suspeita de que os EUA (complexo industrial militar) querem instigar e forçar a Europa a envolver-se numa guerra com a Rússia e a China, bem longe das fronteiras norte-americanas, como reza a história.
A NATO e os EUA brincam com a guerra nuclear.
Triste e condenável é a posição do Estado Português, que em vez de intervir para o desanuviamento da tensão e facilitar uma solução negociada que leve à paz, alinha na dinamização para alimentar o clima de tensão, ditada pela estratégia dos EUA, da NATO e da União Europeia.
A sessão solene, na Assembleia da República, no sentido de dar voz a uma figura que protagoniza um regime de carácter fascista e que foi portador da sua retórica habitual de pura propaganda, explorando emoções e sentimentos, sem objectividade e credibilidade, e de forma afrontosa fazendo exigências descabidas… como se estivesse a dirigir-se a uma qualquer «república das bananas». Foi um dia triste e negro para a democracia portuguesa e para todos os que revêem nos princípios e valores do 25 de Abril.
Igualmente, no mesmo sentido, tudo parece indiciar que a Embaixada da Ucrânia em Portugal, em articulação com a Associação de Ucranianos em Portugal, andará a instigar correligionários seus a realizarem manifestações com carácter provocatório contra um partido político português com 100 anos de existência, lutador e fundador da democracia e das liberdades em Portugal.
É necessário lembrar, que os membros de missões diplomáticas acreditadas, deverão respeitar as leis e regulamentos do Estado onde estão instaladas. Tem também o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado.
Mas a resposta, sem qualquer margem para dúvida, foi dada por Abril e Maio e o Povo português, nas grandiosas manifestação que encheram as ruas, praças e cidades do País, fazendo cair por terra, as falsas e forçadas solidariedades, as insidiosas e ingratas mistificações e a estratégia terrorista do pensamento único.
A representante do regime ucraniano e os seus capangas, estiveram onde lhes pertencia estar, isolados e arrumadinhos no grupelho da extrema-direita, agora pomposamente designados por «liberais».
Não sou ucraniano, não sou russo. Sou português!
A paz não é só desejável, mas indispensável.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui