Keir Starmer, já tinha anunciado no final do mês passado a intenção de, até 2027, aumentar os gastos com defesa. Ora, como o dinheiro não cai do céu, há que ir buscá-lo a algum lado.
O primeiro-ministro britânico surge assim na linha da frente, no que respeita ao cumprimento das orientações de Mark Rutte, quando este veio propor que os países membros da Aliança Atlântica utilizem «uma fracção» dos seus orçamentos da «saúde e das pensões de reforma» para investirem em defesa.
Disse ainda o secretário-geral da NATO que, «quando se observa o que os países gastam em pensões, no sistema de segurança social e na saúde, basta uma fracção desse gasto» para garantir que o orçamento de defesa atinja um valor superior a 2%.
Esta proposta de corte de apoios sociais do Governo do Partido Trabalhista de Keir Starmer, que pode levar cerca de um milhão de pessoas com maiores dificuldades a perder os respectivos subsídios e apoios, enfrenta uma onda de críticas, não só da oposição, mas também de deputados trabalhistas, que se opõem a estes cortes nos subsídios, e que sublinham o facto de o Governo de Starmer desejar equilibrar as contas à custa das pessoas mais vulneráveis e mais pobres.
A opção por uma política de apoio ao desenvolvimento da guerra, em vez da procura de um caminho que promova a negociação e uma solução política garante da paz, começa a fazer estragos no Reino Unido, nomeadamente nos planos social e político.
Entretanto, a Comissão Europeia dedica-se à realização de cimeiras – parece mesmo estar em «cimeira permanente» – que têm servido para muito pouco, a não ser para, repetidamente, anunciarem a possibilidade de envio de uma força de segurança para a Ucrânia em caso de paz. Um processo de paz para o qual não deram qualquer contributo e que lhes está a passar completamente ao lado. Pelo contrário, os «líderes europeus», tomados pela psicose da guerra, continuam a verbalizar a sua política de escalada da guerra, Aliás, depreende-se das afirmações dos presidentes da Comissão e do Conselho que consideram o eventual cessar-fogo um empecilho.
«O primeiro-ministro britânico surge assim na linha da frente, no que respeita ao cumprimento das orientações de Mark Rutte, quando este veio propor que os países membros da Aliança Atlântica utilizem "uma fracção" dos seus orçamentos da "saúde e das pensões de reforma" para investirem em defesa.»
Nesse sentido, procuram agora tocar a rebate ao promover um plano que visa preparar os cidadãos da União Europeia para eventuais crises/guerras, incentivando-os a guardar em casa um conjunto mínimo de bens essenciais, correspondendo a uma reserva de emergência para três dias. Mas, não é para criar alarme, dizem pateticamente. Não, não, estas alarvidades não criam alarme nenhum nas populações, são mesmo muito tranquilizadoras…
Estes planos de preparação da guerra são alimentados pela insensatez, mas também pela ignorância. Ainda esta quarta-feira, num dos canais noticiosos da cabo, o antigo director do Instituto de Defesa Nacional (IDN) falava de uma parceria estratégica Rússia/China assente «numa base ideológica clara e interesses estratégicos comuns», esquecendo-se que já não existe União Soviética e que, no plano ideológico, não há nada de comum entre os dois países. Como não há nenhuma base ideológica comum entre os países que formam os BRICS (África do Sul, Brasil, China, Rússia, Índia, Irão, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Arábia Saudita e Egipto), que funciona como um espaço de diálogo e concertação no cenário internacional. Em ambos os casos, o que funciona, no essencial, é uma base anti-imperialista que se procura libertar da hegemonia dos EUA, cujos dirigentes continuam a assumir-se como tutores do mundo.
O mundo, para os responsáveis da União Europeia e os seus acólitos, acaba na Ucrânia. Não há uma atitude, um gesto, uma palavra, por exemplo, para as atrocidades que vitimam o povo palestiniano ou para os cerca de 28 milhões de pessoas que enfrentam uma situação de fome aguda na República Democrática do Congo.
É urgente pôr fim à estratégia de instigação e prolongamento da guerra, que agrava problemas e se traduz em maior degradação da situação política, social e económica.
A construção de uma paz duradoura na Europa exige a abertura e consolidação de vias de negociação, visando alcançar uma solução política para o conflito da Ucrânia, e dar resposta aos problemas de segurança colectiva e do desarmamento.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui