Segundo notícia divulgada pelo Diário de Notícias na passada quinta-feira, realizou-se no dia anterior uma reunião de trabalho via Zoom entre o novo ministro da Ciência e Tecnologia de Israel, Itzhar Shai, e o seu homólogo português, Manuel Heitor.
«Causa perplexidade a notícia da reunião entre os ministros da Ciência e Tecnologia de Portugal e de Israel (...) apontando para um estreitamento das relações entre as agências espaciais dos dois países», afirma o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) num comunicado hoje emitido.
«Entende-se que Israel, sujeito a uma generalizada condenação da comunidade internacional devido ao seu sistemático desrespeito do direito internacional e à anunciada anexação de vastas partes da Cisjordânia ocupada, acolha entusiasticamente todas as manifestações de "normalização" por parte de outros países», refere o texto.
«Já custa a entender que, a confirmar-se a notícia, Portugal se preste a esse papel», afirma o organismo português, sublinhando tratar-se de uma «iniciativa grave por parte de um governo que até hoje não tomou uma posição formal de condenação dos planos do governo de Israel relativos à anexação de quase um terço da Cisjordânia».
Sempre que se discute a cooperação científica e tecnológica com Israel, fica em causa «a linha invisível que, neste país, separa as aplicações para fins militares das aplicações para fins civis», frisa o MPPM. Essa dupla utilização – civil e militar – da tecnologia foi reconhecida inclusive pelo presidente da Agência Espacial de Israel (AEI), Isaac Ben-Israel, ao afirmar que «as actividades de defesa estão sob a tutela do Ministério da Defesa, não sob a tutela da AEI».
Indústria militar de Israel é cúmplice da brutal repressão colonial na Palestina
A cooperação agora anunciada entre as agências espaciais de Israel e de Portugal «vem na sequência de outras ligações, directas ou indirectas, do nosso país ao complexo industrial-militar de Israel», lê-se no documento.
O MPPM lembra que, em Novembro do ano passado, denunciou e condenou a aquisição, por Portugal, de equipamento de guerra electrónica à empresa israelita Elbit Systems, destinado aos aviões KC-390 da Força Aérea Portuguesa.
Mais recentemente, dezenas de organizações europeias lançaram uma petição, com mais de 10 mil assinaturas, para exigir o fim do acordo entre a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA) e a empresa militar israelita Elbit Systems, no âmbito do qual a EMSA aluga, através da empresa portuguesa CEiiA, dois «drones assassinos» Hermes 900 para vigilância da fronteira marítima.
«A indústria militar de Israel é cúmplice da brutal repressão colonial exercida por Israel – e vangloria-se disso, publicitando os seus equipamentos como "testados no terreno" – contra o povo da Palestina», denuncia o MPPM, que, tendo em conta a «gravidade» da notícia recente, reclama «uma explicação cabal da parte do governo» português e lhe exige que «cesse todas as relações, directas ou indirectas, com o complexo industrial-militar de Israel».
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