O governo da Venezuela abandonou ontem o dólar americano. As transacções de divisas no Dicom – o sistema cambial venezuelano – «vão estar referenciadas ao euro, ao yuan ou a qualquer outra moeda convertível», anunciou ontem o ministro da Indústria e da Produção Nacional, Tareck El Aissami, acrescentando que «as sanções de Washington contra Caracas bloqueiam a possibilidade de continuar a usar o dólar americano no mercado cambial venezuelano».
A medida é válida para toda a banca privada na Venezuela, seja de capital nacional ou estrangeiro. O governo vai vender ao público, entre Novembro e Dezembro, a uma taxa de câmbio «real, não especulativa», 2 mil milhões de euros, reporta a Sputnik News, citando o ministro.
Já no que diz respeito especificamente ao petróleo – a maior fonte de receitas da Venezuela –, o preço do crude deixará de ser o dólar americano e será substituído pelo yuan chinês. Durante décadas, à semelhança de outros países petrolíferos, o país anunciou em dólares, semanalmente, a sua oferta de crude e produtos petrolíferos mas, na sexta-feira passada, o Ministério do Petróleo anunciou a oferta em moeda chinesa, refere o El Pais, citando o ministro do Petróleo como tendo afirmado que esta medida respondia ao anúncio de «novas estratégias para livrar a Nação da opressão do dólar» pronunciado «no passado dia 7 de Setembro pelo presidente [Nicolás Maduro]».
Outros países sofrendo um regime de sanções por parte dos EUA – como a Rússia ou o Irão – têm ameaçado deixar o dólar como divisa para as suas transacções comerciais, mas a Venezuela é o primeiro a pôr a medida em prática. Se o precedente funcionar, uma das maiores armas do poder imperial dos EUA pode ser posta em causa.
Bloqueio financeiro «ilegal» e «uma loucura»
El Aissami denunciou as restrições impostas pelos EUA como «ilegais e contra a lei internacional». Quanto ao «bloqueio financeiro» que afecta tanto o sector público como o sector privado da economia venezuelana, referiu que o mesmo mostra «quão longe o imperialismo pode ir na sua loucura».
Em 2017 os EUA impuseram sanções ao governo venezuelano e à companhia Petroleos de Venezuela (PdVsa), proibindo a emissão em dólares, respectivamente, de dívida pública venezuelana e de capital próprio dessas entidades.
Washington não tem escondido a sua vontade de derrubar, por quaisquer meios, o governo bolivariano e o seu presidente, Nicolás Maduro, chegando a colocar a hipótese de uma «intervenção humanitária» – o tradicional pretexto dos EUA para a invasão de um país. O governo da Venezuela acusou os EUA de estarem por detrás de acções terroristas da oposição, incluindo a tentativa de atentado contra Nicolás Maduro ocorrida em Agosto passado, em que também terá estado envolvida a secreta colombiana.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui