Nos últimos dias, o debate em torno de se banirem canais russos do espaço europeu e de se encerrarem canais de informação na Rússia trouxe à ribalta a célebre frase: na guerra, a verdade é sempre a primeira vítima.
«Pode, ou não, a União Europeia decidir que canais devem ou não ser transmitidos no Velho Continente?», pergunta-se esta sexta-feira na edição do Jornal I. A resposta é simples. Não pode. Mas há quanto tempo os centros de decisão controlam o que querem mostrar-nos, a verdade que pretendem afirmar, o pensamento que desejam que tenhamos? Há muito. E voltam a tentar fazê-lo agora, aproveitando o conflito no Leste europeu.
Como refere Sun Tzu, em A Arte da Guerra, «se conheces o inimigo e te conheces a ti mesmo, não precisas de temer o resultado de cem batalhas», ou seja, nada melhor do que conhecer (e influenciar) a mente do adversário para vencer uma guerra. Também agora, mais do que perceber o que está por detrás do conflito na Ucrânia, e conhecer todos os intervenientes, importa moldar opiniões para um consenso fabricado em torno de quem são os «bons» e os «maus», numa só narrativa.
Ursula Von der Leyen argumentava há dias que o objectivo era impedir que se continuassem a espalhar mentiras e travar «desinformação tóxica». Ora, tamanho cuidado com a verdade, por parte da União Europeia, não se viu aquando da invasão do Iraque a pretexto das famosas armas químicas, que todos sabem agora terem sido fabricadas pela máquina de propaganda norte-americana.
Por outro lado, a avaliar pelo novo Regulamento do Conselho, resultante da proposta de resolução aprovada no Parlamento Europeu, esta terça-feira, a «verdade» para este directório pode ser muito desprovida de lógica. De acordo com o texto já publicado, «é necessário, compatível com os direitos e liberdades fundamentais reconhecidos na Carta dos Direitos Fundamentais, nomeadamente com o direito à liberdade de expressão e informação, [...], introduzir novas medidas restritivas a fim de suspender urgentemente as actividades de radiodifusão desses meios de comunicação social na União ou dirigidas à União».
Independentemente da informação veiculada por órgãos de informação russos ou de outra qualquer nacionalidade, e que devem ser os leitores a filtrar, a imposição da censura vai contra as práticas democráticas que a União Europeia alega defender. A «coisa certa e verdadeira» (Priberam) que é a verdade não pode ficar refém de estruturas de comando e de interesses contrários aos dos povos que dizem servir.
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