«Isto é um crime e eu gostava muito de pedir pessoalmente ao primeiro-ministro que não faça o aeroporto aqui. Não quero que os meus netos sejam acordados de cinco em cinco minutos pelo ronco de quatro motores de grande capacidade. Cento e trinta decibéis já não é ruído, é dor e provoca a loucura», disse à Lusa o morador Lúcio Janeiro, 79 anos.
O residente foi mecânico de aviação e viu «gente a ficar louca devido ao ruído», apelando ao Governo que opte por construir o novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete (em grande parte localizado no concelho vizinho de Benavente, no distrito de Santarém), em oposição à Base Aérea n.º 6, situada entre o Montijo e Alcochete, no distrito de Setúbal.
Já Cristina, de 58 anos, mostrou uma grande preocupação não só em relação ao barulho dos aviões, mas também à poluição ambiental que a infra-estrutura poderá causar na região. «Toda a vida fomos carregados com décadas de poluição da Companhia União Fabril (CUF) e agora estamos a levar com mais isto», referiu.
O protesto começou às 9h30 e foi organizado pela Plataforma Cívica BA6-Montijo Não, aproveitando a visita do primeiro-ministro, António Costa, à cerimónia de inauguração de uma creche na Moita.
Recorde-se que, no mês de Janeiro, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) emitiu uma declaração de impacte ambiental favorável condicionada ao projecto do aeroporto do Montijo com cerca de 160 medidas de minimização e compensação a que a ANA – Aeroportos de Portugal «terá de dar cumprimento».
Segundo José Encarnação, a construção no Montijo é a «pior solução que se podia encontrar por todas as razões», sobretudo pelo ruído e por ser de curto prazo, com uma duração prevista de apenas «15 anos». «Tudo isto é um somatório de erros e de pressões inaceitáveis sobre as populações e é isso que viemos dizer ao senhor primeiro-ministro», afirmou.
A plataforma esperava que fosse possível um encontro com o governante, o que não aconteceu, mas entregou a um assessor de António Costa um dossiê informativo sobre a posição contra a infra-estrutura e solicitou uma reunião para discutir «as graves consequências que vão existir no Montijo».
Outro membro da plataforma, Vítor Silveira, que é piloto de aviação, frisou que «não é admissível nos dias de hoje construírem um aeroporto numa zona protegida ambientalmente, de alto teor sísmico e rodeada de povoações».
«É um perigo contra a saúde das pessoas, a qualidade de vida vai ser bastante afectada e é um perigo de afectação contra o ambiente, porque faz parte da Zona de Protecção do Estuário do Tejo. É uma área utilizada por milhões de aves todos os anos, o que implica perigos contra a operação aeronáutica. Vai acontecer de certeza o fenómeno do birdstrike [risco de colisão entre uma aeronave e uma ou mais aves]», sublinhou.
O Campo de Tiro de Alcochete tem aprovada uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) até Dezembro deste ano, sendo a opção mais defendida.
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