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Dar o dito por não dito no Convento de São Francisco

Promessas leva-as o vento. A nomeação, a tempo indeterminado, de uma nova programadora para o convento, em Coimbra, parece indicar que o tão badalado novo modelo de gestão não está para breve.

Convento São Francisco, em Coimbra 
Créditos / NotíciasdeCoimbra

Foram várias as críticas dirigidas a José Manuel Silva, presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) que assume também a pasta da cultura, nos dias que se seguiram ao anúncio da nomeação de Celeste Amaro, antiga deputada do PSD. Por diferentes motivos, o PCP e o movimento Cidadãos por Coimbra já vieram a público contestar a decisão.

O PCP regista, em comunicado enviado à imprensa, «que a promessa (feita em campanha e reafirmada já em Outubro passado) de discussão e definição do modelo de gestão para o Convento de S. Francisco foi agora descartada», sem um «limite temporal pré-definido», como assumiu o presidente da autarquia, em declarações à Agência Lusa.

É ainda de salientar que, «na véspera de estas notícias se tornarem públicas, teve lugar a reunião do Executivo Municipal, assim como da Assembleia Municipal, não tendo a Presidência da Câmara entendido que qualquer destes espaços seria apropriado para dar conhecimento aos eleitos da referida decisão».

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Humilhados e mal pagos

O processo do apoio às artes foi tratado de forma humilhante, não apenas para quem trabalha nas artes, mas para a generalidade da população e até para os órgãos de soberania que estão a conduzi-lo. 

A 3 de Abril de 2018 o CENA-STE promoveu em Lisboa, no Porto e em Coimbra encontros com as estruturas artísticas, preparatórios do protesto que hoje decorrerá em seis cidades do país. O encontro preparatório de Coimbra decorreu nas instalações do SPRC (na foto) e a manifestação será junto à Direcção-Geral da Cultura do Centro, às 18h.
CréditosRita Namorado, Foto cedida por Pedro Rodrigues (escola da Noite)

O país acordou ontem com uma «resposta aberta à cultura» assinada por António Costa, em que se anuncia um reforço de 2,2 milhões de Euros no montante disponibilizado para o financiamento às artes, no quadro dos «apoios sustentados».

É cedo para perceber em que medida este reforço vai permitir atenuar os efeitos devastadores sobre a criação artística nacional para que apontam os resultados provisórios que foram sendo anunciados nas últimas semanas. Mas é muito claro que se trata de uma medida tardia e insuficiente. Chega demasiado tarde porque os concursos decorreram num quadro de miserabilismo orçamental (reiteradamente justificado pelo Governo com a insuficiência de meios) que obviamente condicionou quer a ambição das candidaturas, quer a avaliação que os júris delas fizeram. É insuficiente porque, mesmo após os três «reforços» sucessivamente anunciados pelo Governo (à medida da mobilização popular que não pára de crescer), o valor global aproxima-se do montante disponibilizado para o mesmo efeito há 10 anos, sem ter em conta nem o aumento do custo de vida nem (o que é mais importante) a evolução da dinâmica cultural e artística do país neste período e as expectativas dos cidadãos, legitimamente criadas.

Enquanto membro de uma das estruturas artísticas que foi a concurso, procurando assegurar as condições para continuar a prestar serviço público nesta área, não posso deixar de olhar para esta «resposta aberta» como mais um momento de um processo lamentável e particularmente humilhante, não apenas para quem trabalha nas artes, mas para a generalidade da população e até para os órgãos de soberania que estão a conduzi-lo.

Importa lembrar que, anunciando desde o início a intenção de reformar o modelo de apoio às artes, o actual Governo adiou para a segunda metade do mandato a sua aplicação, justificando a demora com uma suposta «discussão pública» que mais não foi do que um expediente para adiar o inevitável: a questão orçamental, por todos reconhecida como uma emergência.

Nessa discussão, em que o sector aceitou participar, foram ignorados (e em alguns casos ostensivamente contrariados) os principais contributos da sociedade civil. O montante global do financiamento, a aberração de continuar a colocar no mesmo concurso estruturas de criação e de programação e a necessidade de acautelar a qualificação e o reconhecimento público dos membros do júri (postos em causa pelo novo modelo de recrutamento, feito a partir de uma «bolsa de especialistas» em que os interessados se inscrevem) são apenas três dos muitos e graves exemplos de desrespeito do Governo pelas opiniões que afirma ter «ouvido».

A insistência – agora também do Primeiro-Ministro – em afirmar que este modelo «não foi definido unilateralmente» e «resulta de um processo que teve a participação da comunidade artística de todo o país» é portanto ridícula e soa a desculpa de mau pagador perante o comprovado descalabro da sua «invenção».

É igualmente humilhante todo o triste espectáculo à volta do orçamento e desta política de reforços «aos bocadinhos». Porque demonstram que a dotação inicial estava completamente desfasada da realidade e não foi pensada em função das necessidades do país; porque o Governo se fartou de justificar que não havia dinheiro, alimentando – directa ou indirectamente – a narrativa do «não há pão». Afinal havia, afinal há. Sempre o soubemos, mas o Governo obrigou-nos a vir gritá-lo para a rua, transformando em esmola o que é um direito, não dos artistas, mas da generalidade da população.

Esta inaceitável forma de fazer política produz efeitos muitíssimo perversos, à cabeça dos quais está a quebra de confiança entre governantes e governados e – no actual contexto – entre governantes e «parceiros» parlamentares. Esta humilhante forma de tratar a relação com os artistas com quem formalmente se contratualiza a prestação de um serviço público reproduz e amplifica a ideia da subsidio-dependência, numa altura em que era preciso erradicá-la de vez. Mais do que isso, ela comprova que há efectivamente quem seja subsidio-dependente. Mas não são os artistas: são os sucessivos governos (entre os quais, pelos vistos, o actual), que não conseguem conceber outra maneira de tratar do assunto que não seja a mera distribuição de dinheiro, à medida dos incómodos com que vão sendo confrontados.

Diz o Primeiro-Ministro na sua «resposta aberta», que está disponível para ponderar melhorias futuras e uma «eventual correcção» do modelo que, comprovadamente, não serve. É um sinal positivo que tem de ser seguido de passos concretos: o arranque de uma verdadeira discussão pública, que poderá começar, por exemplo, pela publicação das respostas integrais que os agentes culturais deram ao inquérito promovido pela DGArtes (e não apenas a criteriosa e instrumental selecção de respostas que foi difundida na altura); a garantia de um reforço consistente, já em 2019, da globalidade do orçamento para a Cultura (que inclui mas é muito mais amplo do que os «apoios às artes»), tendo como valor mínimo 1% do Orçamento Geral do Estado.

Sem estes passos concretos, e por mais simpática que seja a «admiração pessoal e institucional» do Primeiro-Ministro pelo nosso «valioso trabalho», continuaremos apenas humilhados e mal pagos. 

Mas a dizê-lo – nas ruas e nos palcos e onde mais for preciso.

Pedro Rodrigues
A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra

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No seguimento da tomada de posição assumida pela estrutura concelhia do PCP em Coimbra, José Manuel Silva comprometeu-se uma vez mais, desdizendo as afirmações de quarta-feira, a apresentar uma proposta de novo modelo de gestão para o Convento de São Francisco ao executivo camarário ainda durante o ano de 2022. 

Os comunistas defendem que, seja qual for o modelo de gestão que venha a ser encontrado para o Convento de S. Francisco, «tem de assegurar a natureza pública da gestão daquele espaço e, no imediato, proceder à regularização dos vínculos e condições de trabalho da equipa necessária ao seu funcionamento». Independentemente da falta de definição do modelo de gestão encontrado, não existe «pretexto para manter e perpetuar a precariedade destes trabalhadores».

A discussão acessória

As questões colocadas pelo movimento de cidadãos, apoiado formalmente pelo Bloco de Esquerda, prendem-se, no essencial, com a nomeação de um nome próximo da estrutura do Partido Social Democrata para a gestão da programação neste espaço cultural.

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Repúblicos estão «protegidos» durante posse administrativa da Câmara de Coimbra

Os estudantes despejados da república dos Açoreanos, esta segunda-feira, voltaram a casa depois de a Câmara de Coimbra ter avançado com a tomada de posse administrativa para a realização de obras.

Créditos / Diário de Coimbra

O auto de tomada de posse administrativa da república Solar Residência dos Estudantes Açoreanos decorreu esta quarta-feira, após proposta apresentada pelo eleito da CDU na Câmara Municipal de Coimbra, Francisco Queirós, e consequente deliberação do presidente do Município em finais de Dezembro. 

Em declarações ao AbrilAbril, o responsável pelo pelouro da Habitação fala de um «litígio grande» entre a senhoria e os repúblicos, mas assegura que, enquanto decorrerem as obras, os estudantes «estão protegidos». 

Não obstante a pandemia e as baixas temperaturas que se fazem sentir, os estudantes da república dos Açoreanos foram despejados sem aviso prévio, na passada segunda-feira, depois de a senhoria ter chegado a acordo para a entrega do imóvel com um dos inquilinos originais daquela casa, com contrato firmado na década de 1960.

Foi no final do mês de Outubro que os jovens tiveram conhecimento da intenção da senhoria de avançar para a rescisão do contrato de arrendamento. Entretanto, corria desde 2018 um processo para a tomada de posse administrativa da república, após uma vistoria em 2017 da Câmara de Coimbra que concluía que o edifício oferecia perigo à segurança e saúde das pessoas que lá moravam, ainda que sem necessitar que os habitantes fossem retirados.

Em Novembro de 2018, a autarquia notificou a proprietária sobre a necessidade de obras urgentes, sendo que no início de 2019 os repúblicos foram ameaçados de despejo por parte da senhoria, não tendo sido realizadas obras.

Em Novembro de 2020, Francisco Queirós assegurou que o processo estava a ser ultimado para se avançar com a posse administrativa da república, uma vez não terem sido realizadas as obras coercivas por parte da senhoria, após notificação camarária em 2019.

Em declarações à Lusa, uma das residentes na república dos Açoreanos adivinha ainda «muitas lutas jurídicas», mas reconhece que a posse administrativa pelo Município dá esperança aos estudantes.


Com agência Lusa

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Em comunicado, o movimento exige saber se a CMC «está a pagar favores ao PSD, se quer comandar pessoalmente a agenda do Convento, ou o que é que o fez mudar de ideias quanto à natureza jurídica futura do Convento São Francisco». O nome escolhido por José Manuel Silva, que contou com o apoio do PSD nas eleições autárquicas, é Celeste Amaro, antiga deputada desse partido e ex-directora regional da Cultura do Centro.

Numa nota publicada por José Manuel Silva, o presidente da CMC justifica a nomeação de Celeste Amaro por ser esta uma funcionária dos quadros do município de Coimbra sem «funções alocadas». A única alteração definida pelo executivo foi a não renovação da avença da antiga programadora, internalizando, por enquanto, este serviço, defende-se.

O Convento São Francisco é um equipamento da Câmara Municipal de Coimbra «cuja missão e objetivos concorrem para a concretização da estratégia definida pelo Município em três áreas estruturantes: a cultura, o turismo e o desenvolvimento económico do território», tendo-se tornado, desde a sua remodelação, uma dos mais importantes espaços culturais da cidade.

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