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Isto não vai lá com caridade

O novo líder do PSD tenta captar o País, voltando-se para temas fundamentais como o do combate à carestia de vida, mas depois vai-se a ver… e nada. 

CréditosEstela Silva / Agência Lusa

No discurso de encerramento do congresso que o entronizou líder do PSD, este domingo, Luís Montenegro falou do tema que entrou na bolsa dos portugueses, mas sem medidas que lhe façam frente. Conhecendo-se a governação do PSD em matéria de trabalho e rendimentos, não ficamos surpreendidos. Mas já chega de tentarem impingir fórmulas que mais não são do que o perpetuar dos problemas que os portugueses vivem na pele. 

Num país onde, há várias décadas, os trabalhadores empobrecem a trabalhar, estando confrontados agora com uma inflação galopante, que lhes retira ainda mais salário, o novo presidente dos social-democratas passa ao lado das soluções e propõe assistencialismo. Oferecer vales alimentares às famílias de mais baixos rendimentos, como ontem fez Luís Montenegro, acusando o Governo de «insensibilidade social», não interrompe a espiral de empobrecimento e decadência a que vimos assistindo.

Trabalhar deve ser quanto basta para se ter uma vida digna e satisfazer as necessidades mais elementares. Num país que se quer desenvolvido, é inaceitável que assim não seja. Os trabalhadores e pensionistas não precisam que o Estado lhes dê um vale mensal para compensar as despesas do supermercado, necessitam somente que os «baixos rendimentos» (expressão com que tentam habituar-nos à realidade da pobreza) deixem de o ser.

Mas não foi isso que Montenegro propôs este domingo. Da boca do sucessor de Rui Rio, fiel seguidor de um Passos Coelho que enquanto primeiro-ministro se encarregou de rapar a conta a trabalhadores e pensionistas, não saiu uma palavra para falar de mais salário nem de mais direitos laborais. Tal como não se ouviu falar na necessidade de reforçar os serviços públicos. O novo líder do PSD falou da saúde e percebemos ao que vem. Falou de «sistema», e não de serviço, insistindo na retórica demagógica de que é por não haver mais intervenção privada (que vive de sugar dinheiro público) que o Serviço Nacional de Saúde não se tem desenvolvido. 

Em vez de um «programa social de emergência», que despudoradamente apresenta no rol das «ideias de futuro», Montenegro devia ter falado da necessidade de se valorizar o trabalho e quem produz a riqueza, de aumentar salários e assim conseguir pensões dignas, de pôr fim ao flagelo dos vínculos precários e alimentar de esperança quem carrega o futuro. Mas não o fez.

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