O ciclismo português volta a ter razões para se orgulhar dos feitos de um dos seus. João Almeida escreveu história no Giro de Itália, uma das três grandes competições do ciclismo mundial, ao vencer uma etapa, terminar como líder da classificação da juventude e, acima de tudo, garantindo um lugar no pódio da competição, apenas superado por dois nomes bem experientes, como Primoz Roglic e Geraint Thomas. O terceiro lugar faz de João Almeida apenas o segundo português a ter esse feito no seu currículo, depois de Joaquim Agostinho o ter alcançado por três vezes nos anos 70. Foram quarenta e quatro anos de espera até se voltar a viver um feito desta dimensão.
O percurso de João Almeida na competição revelou, finalmente, a aposta feita no potencial do ciclista natural de A-dos-Francos. A sua equipa organizou-se para o empurrar para o topo da classificação, mas a chuva e as quedas das etapas inaugurais fizeram com que a entrada fosse um pouco a medo. Rapidamente, no entanto, João Almeida começou a dar sinais de tentar chegar mais na frente, até que na 16ª etapa, com chegada em Monte Bondone, registou a sua primeira vitória de sempre em grandes provas.
A ponta final do Giro de Itália revelou dois dos seus rivais como estando mais fortes. Mas o exemplo de João Almeida regista a sua evolução. Com 24 anos, apresentou-se como candidato, deu luta e termina com um resultado histórico para o ciclismo português. Num país onde se atenta sobretudo à vitória, não por acaso se repetir tanto em Portugal que o segundo lugar é «o primeiro dos últimos», a ignorância do processo desportivo terá feito com que o alcance do rendimento de João Almeida não fosse observado com toda a justeza. No entanto, é mesmo de percurso e carreira que esta prova se revela quanto ao seu crescimento.
«Num país onde se atenta sobretudo à vitória, não por acaso se repetir tanto em Portugal que o segundo lugar é "o primeiro dos últimos", a ignorância do processo desportivo terá feito com que o alcance do rendimento de João Almeida não fosse observado com toda a justeza. No entanto, é mesmo de percurso e carreira que esta prova se revela quanto ao seu crescimento.»
Por outro lado, depois de um ano em que o ciclismo nacional foi notícia pela negativa, o exemplo de João Almeida mostra bem que o potencial dos ciclistas portugueses foi sendo desaproveitado ao longo de muitos anos. A história está, também, a mudar, pela maneira como tantos se afirmam no estrangeiro. Rúben Guerreiro tem hoje estatuto de corredor de grandes provas e uma nova geração com António Morgado e Iuri Leitão já a dar provas merece imensa atenção. É também uma grande oportunidade para um desporto que se construiu no imaginário popular dos portugueses.
Também ele tomado pelo predomínio da imagem televisiva e das grandes marcas internacionais, não perde o ciclismo parte da sua natureza, que coloca o atleta perante desafios extremos e repetidos ao longo de semanas, numa competição que acontece bem perto do público, que continua a preencher bermas de estradas em todas as grandes provas. Essa memória deve ser valorizada e respeitada por todos os que pretendem ver o ciclismo a continuar ter a evidência que merece. Também por isso o papel de João Almeida merece ser destacado. Na sua dedicação, profissionalismo e qualidade permite a Portugal voltar a sonhar em duas rodas.
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