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Mário Pádua: na morte de um «homem bom»

Médico, comunista, desertor de uma guerra injusta e construtor de mundos novos. A denúncia dos crimes do colonialismo é apenas uma parte da história de um «imprescindível» que lutou toda a vida.

Mário Moutinho de Pádua (1936-2023)
Créditos / PCP

Pepetela, o escritor angolano, terá feito uma das mais completas descrições da humanidade de Mário Pádua: «antes de ser um combatente corajoso e de ideias firmes, alguém que sempre se bateu pelos seus ideais, é um homem bom, um homem que conhece as fraquezas dos outros e procura ajudá-los, que percebe as tibiezas e as traições, mas não se vinga delas, apenas desejando a justiça para os injustiçados de todas as sociedades, indiferentemente da cor da pele, do sexo, ou classe social».

Nascido em 1936, Mário Moutinho de Pádua formou-se em medicina pela Universidade de Coimbra, tendo aderido ao PCP durante os seus estudos (1959). Integra a primeira leva de combatentes a participar na Guerra Colonial (1961), sendo destacado em Angola.

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Colonialismo e guerra colonial – reflexão de um combatente

Foi a guerra colonial e a miséria em que vivia o povo português que levou os militares a posicionarem-se contra a guerra e a derrubar o regime que a alimentava e promovia.

Soldados do exército português durante a guerra colonial. Foto de arquivo
Créditos / Newsmuseum, Lisboa-Sintra

É conhecido o poder que a comunicação social tem sobre a consciência das pessoas e na interpretação dos factos. Nas mãos da classe dominante e dos grandes interesses económicos esse poder serve também para distorcer ou de caixa de ressonância a grupos de pressão, sem qualquer representatividade na sociedade portuguesa.

«do debate estiveram ausentes os verdadeiros protagonistas, os que sentiram na pele a tragédia da guerra colonial e a participação numa das páginas mais brilhantes da Revolução de Abril – o processo de descolonização»

Neste quadro, está um dos programas da RTP da série «É Ou Não É? O Grande Debate», que decorreu sob o tema «Como lidar com a nossa herança histórica» e abriu com a afirmação de que «Os últimos dias mostraram que o colonialismo e as memórias da ditadura estão ainda presentes e condicionam o debate político».

Partindo desta categórica afirmação, o debate decorreu em torno do falecimento de Marcelino da Mata, dos Brasões da Praça do Império, do Padrão dos Descobrimentos, do monumento aos Combatentes do Ultramar e até a Ponte 25 de Abril veio à baila.

Para analisar esta amálgama de símbolos e identidades foi constituído um painel de investigadores, especialistas e colunistas.

Como quase sempre, porém, do debate estiveram ausentes os verdadeiros protagonistas, os que sentiram na pele a tragédia da guerra colonial e a participação numa das páginas mais brilhantes da Revolução de Abril – o processo de descolonização.

Um debate preparado política e ideologicamente para chegar a uma conclusão: existem feridas abertas na sociedade portuguesa que ainda não foram saradas e que ciclicamente vêm ao de cima.

Num debate que se baseou em pressupostos errados, as conclusões não podiam estar certas. Tratou-se de pura guerra psicológica para desenterrar o passado de Portugal colonial, teimar «na ficção» de que existem feridas abertas, dando alimento para o imaginário de ressentimentos e ódios de uma míngua de saudosistas, defensores do salazarismo e da continuidade do Império.

No entanto, é justo salientar que houve intervenções, feitas on-line, com seriedade quanto à matéria que estava em debate, mas que acabaram por ficar diluídas face à mediocridade evidenciada por intervenientes em estúdio, a qual rondou o patético e o absurdo.

Uma guerra inútil

Mas é importante esclarecer, em nome do rigor, que a guerra colonial era uma guerra de um regime. Um regime que perfilhava a ideologia fascista e de pilhagem das colónias ao serviço dos grandes interesses capitalistas. Foram guerras nas várias colónias, com as quais o povo português nunca se identificou e sempre repudiou, porque os soldados que a combatiam, numa guerra inútil e contra o sentido da História, eram os seus filhos, maridos e pais.

As tais feridas abertas na sociedade, se as há, são pela dor e memória dos que tombaram na guerra colonial.

«a guerra colonial era uma guerra de um regime [...] que perfilhava a ideologia fascista e de pilhagem das colónias ao serviço dos grandes interesses capitalistas»

Uma guerra que durou 14 longos anos e mobilizou mais de um milhão de jovens, três teatros de operações e várias frentes de combate. Delas resultaram 10 mil mortos, 45 mil estropiados, 140 mil com «stress de guerra». Cifras negras a que há que chamar o «morticínio dos povos africanos das colónias». Não há números exactos, mas fala-se em mais de 1 milhão de africanos que morreram nas suas terras, em resultado da política criminosa da ditadura fascista.

Espírito libertador

Foi a guerra colonial e a miséria em que vivia o povo português que levou os militares a posicionarem-se contra a guerra e a derrubar o regime que a alimentava e promovia. Militares que, antes de o serem, eram trabalhadores, camponeses, estudantes.

Não existia tarefa mais importante, após o derrube da ditadura, do que pôr fim à guerra e defender a paz. Para que isso acontecesse impunha-se descolonizar, uma tarefa de grande complexidade e dimensão, já que o problema não podia ser resolvido com recurso à experiência de outros países, muito menos segundo qualquer esquema pré-estabelecido.

«manifestações esporádicas de um núcleo duro de saudosistas da submissão colonial e do salazarismo [...] não têm expressão na sociedade portuguesa que, maioritariamente, assume sentimentos democráticos, anti-coloniais e anti-racistas»

A fórmula encontrada foi transportar o espírito libertador do 25 de Abril para as colónias, onde esteve presente a solidariedade e a acção concertada com os representantes legítimos dos povos colonizados, a qual permitiu, por um lado, o fim da guerra e a autodeterminação e independência desses territórios; e, por outro, defender a integridade das Forças Armadas e salvaguardar a paz e cooperação com os novos países independentes. Muitos falam da descolonização descontextualizando-a, como forma de atingir os seus objectivos.

A dimensão do conflito guerra colonial/descolonização, e o que resta destes dois acontecimentos na consciência e memória do povo português, é de uma grande elevação e serenidade, de solidariedade e amizade com as ex-colónias, hoje países independentes. O resto, são manifestações esporádicas de um núcleo duro de saudosistas da submissão colonial e do salazarismo que não têm expressão na sociedade portuguesa que, maioritariamente, assume sentimentos democráticos, anti-coloniais e anti-racistas.

Valores constitucionais

É fundamental que todo o acervo relativo ao colonialismo, salazarismo e fascismo, pela complexidade de que se reveste, seja enquadrado pelos princípios e valores democráticos e constitucionais, elementos decisivos para a formação de uma cultura e mentalidade antifascista, anti-colonialista e anti-racista, capaz de resistir às conjunturas de momento e às tentativas de branqueamento do fascismo.

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José Martins

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Torna-se, então, o primeiro oficial português a desertar de Angola, em Outubro de 1961, acompanhado pelo cabo Alberto Pinto, também militante do PCP. Ao cumprir esse valoroso acto de valentia e coragem, Pádua «seguiu disciplinadamente a orientação partidária», abandonando o projecto inicial de deserção individual, e integrando-se «no contingente para que foi mobilizado com a tarefa de realizar trabalho de esclarecimento político e fomentar a deserção colectiva». «Cumpriu com honra», considera o resistente antifascista Albano Nunes, numa recente edição do livro Guerra em Angola. Diário de Um Médico em Campanha.

À experiência da violência do fascismo português, Mário Pádua acrescenta um conhecimento em primeira mão da brutalidade da criminosa guerra colonial: Era «um regime político sustentado na tortura, no medo de exprimir o pensamento e, naturalmente, na corrupção mais ou menos oculta», descreve nesse livro. Em Angola e nos restantes países vítimas, a arbitrariedade de um governo fascista, «que alguns procuram suavizar com a designação de autoritário», juntou-se, inevitavelmenta, ao «racismo inerente ao colonialismo para produzir a crueldade normalizada a que assisti».

No Congo Zaire, para onde fugiu, conhece os cárceres do regime controlado pelos assassinos do líder da resistência anti-colonial Patrice Lumumba, onde é exposto a enormes violências e privações dos quais é resgatado pela «acção solidária de militantes do MPLA», refere a nota de pesar do PCP. No ano seguinte, 1962, envia um relatório à ONU onde denuncia os inúmeros crimes cometidos pela fascismo português em África.

Mário Pádua, ressalva Pepetela, ao longo da sua vida e nos seus livros, «não insiste em queixas contra os maus tratos e as injustiças sofridas, não só por parte dos congoleses mas também dos angolanos, militantes ou refugiados. Ele compreende a razão de muita desconfiança, pois conhecia como o colonialismo (português, belga, francês ou inglês) rachava a humanidade em partes com ressentimentos quase impossíveis de ultrapassar».

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Nos 50 anos do assassinato de Amílcar Cabral

Lembrar um dos principais dirigentes e ideólogos do movimento anticolonial africano, no dia em que se assinalam 50 anos do seu assassinato, é um gesto imprescindível para que seja convocada a reflexão sobre um passado colonial que ainda deixa demasiados e dolorosos vestígios em Portugal.

Amílcar Cabral
Créditos

Um dos fundadores do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), em 1956, Amílcar Cabral estudava muitos anos antes os problemas respeitantes ao colonialismo português e participara em diversas actividades na defesa da emancipação dos povos coloniais.

Da necessidade de se criar o PAIGC, diz-nos Amílcar Cabral: «Em África não houve tais fenómenos que engendrassem partidos. Podemos pois dizer que trouxemos qualquer coisa de estranho introduzindo na nossa terra um partido, mas isto era necessário, assim como é necessária a charrua que não existe na nossa terra ou o tractor que não resultou do desenvolvimento económico do nosso país.»1

Amílcar Cabral e Aristides Pereira serão apresentados por Sofia Pomba Guerra, farmacêutica e militante do PCP a cumprir degredo em Bissau.2 Era em sua casa que estes dois e muitos outros cabo-verdianos se encontravam para ouvir as emissões em português do serviço da Rádio Moscovo, ou ainda para ler romances e jornais proibidos, como o Avante!, órgão central do PCP.3 E nestes encontros irão desenvolver paulatinamente o seu método de conspiração: formam pequenos grupos para discutir diversos assuntos culturais, e vão destacando os elementos considerados mais conscientes para com eles desenvolver posteriormente um trabalho político mais arriscado.

Amílcar Cabral, nascido na Guiné-Bissau a 12 de Setembro de 1924, de pais cabo-verdianos, tinha passado a infância em São Vicente e viria a prosseguir os seus estudos no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, onde chega em 1945. Na altura em que se inicia a Guerra Colonial, Cabral tinha um conhecimento sobre a geografia, a economia e a sociologia dos povos do seu país comparativamente superior ao de muitos nacionalistas em fases similares noutras regiões. Uma das razões foi o facto de ter realizado o primeiro recenseamento agrícola do território. Este trabalho dar-lhe-ia a oportunidade de conhecer a estrutura agrária da Guiné profunda e pô-lo-ia em contacto directo com as pessoas mais influentes dos vários grupos étnicos.4

É no seguimento desse conhecimento que o PAIGC vai fixar como objectivos políticos do partido a liquidação da dominação colonial portuguesa, a criação das bases indispensáveis para a construção de uma vida nova para o povo da Guiné e Cabo Verde, a construção da paz, do bem-estar e do progresso contínuo. Define-se como partido democrático, progressista, anticolonialista e anti-imperialista. Estas posições são reveladoras, indiscutivelmente, do carácter antifascista do PAIGC e do movimento de emancipação que este dirigia. Num apelo aos portugueses feito num artigo na revista Partisans em 1962, Amílcar Cabral explica como encaram o regime fascista português: «É preciso reafirmar claramente que, embora sendo contra toda a espécie de fascismo, os nossos povos não lutam especificamente contra o fascismo português: nós lutamos contra o colonialismo português. A destruição do fascismo em Portugal deverá ser obra do próprio povo português, a destruição do colonialismo português será obra dos nossos próprios povos.»5 A realidade de outras guerras coloniais, nomeadamente a guerra na Argélia, não podia fazê-lo chegar a outra conclusão. Os regimes democráticos das potências ocidentais estavam longe de garantir por princípio a independência das respectivas colónias.

Tendo como prioridade política a libertação do território do domínio colonial português, Cabral deixará pistas em vários momentos sobre o tipo de sociedade que deve ser construída quando alcançado esse objectivo, que reflectem a sua proximidade a convicções socialistas: «Na base da vida do nosso Partido, queremos destruir toda a possibilidade de aqueles que libertam a terra ou outros, que venham abusar do nosso povo amanhã. [sic] O nosso objectivo não pode ser o de ir tomar conta do palácio do governador para fazer na nossa terra o que aquele governador queria fazer.»6 Basil Davidson, citando Cabral, dá-nos mais um elemento sobre a posição deste em relação ao caminho a seguir: [construir uma nova sociedade], «nestas circunstâncias será necessariamente por meios socialistas, pois só existem dois caminhos abertos para uma nação se tornar independente agora: voltar à dominação imperialista (via neocolonialismo, capitalismo, capitalismo de Estado) ou mover-se rumo ao socialismo.»7

A partir de 1961, o partido decide instalar o seu secretariado-geral em Conacri, capital da República da Guiné. Entre outros, praticará uma política de estreitas relações internacionais com a Argélia e com a República Árabe Unida, inscrevendo-se num movimento mais amplo do que apenas o da luta contra o colonialismo português.

«Tendo como prioridade política a libertação do território do domínio colonial português, Cabral deixará pistas em vários momentos sobre o tipo de sociedade que deve ser construída quando alcançado esse objectivo, que reflectem a sua proximidade a convicções socialistas (...)»

Também a aliança com os países socialistas era estreita e o contributo em meios técnicos, humanos, e em apoio para a formação nos seus países foi significativo. O discurso em relação ao sistema socialista era claro: «Como toda a gente sabe, os países socialistas têm uma clara posição anticolonialista e anti-imperialista. Tal não acontece por acaso. Os partidos políticos que dirigiram a conquista do poder pelo povo nos países que hoje são socialistas eram partidos comunistas, cuja ideologia consistia na defesa intransigente dos interesses das massas exploradas – operários, camponeses e outros trabalhadores explorados – e que preconizavam a luta política, através da organização dessas massas exploradas, para acabar definitivamente com a sociedade capitalista e, em consequência, com a exploração do homem pelo homem.»8 Mas a política de não-alinhamento era considerada fundamental para alargar ao máximo uma base de apoio internacional que contribuísse para a conquista da independência: «É esta política que é a mais conveniente aos interesses dos nossos povos na etapa actual da nossa história. Estamos convencidos disso. Mas, para nós, não-alinhamento não quer dizer voltar as costas aos problemas fundamentais da humanidade, à justiça. Não-alinhamento para nós é não se comprometer com blocos, não alinharmos pelas decisões dos outros.»9

A escolha pela luta armada vai em grande medida depender dessa rede de solidariedade internacional, e a decisão só será tomada quando se consideram esgotadas as tentativas de acção legal dos grupos nacionalistas, que chocaram sempre com a barreira levantada pelas autoridades colonialistas portuguesas. É só após o massacre dos marinheiros do cais de Pidjiguiti, que exigiam direitos laborais, a 3 de Agosto de 1959, que o partido declarará a luta armada como única via possível para a independência. Os acontecimentos convencem Cabral da impossibilidade de desenvolver uma contestação baseada em métodos pacíficos.

Numa acção de formação de quadros em 1965, Cabral apresentará a luta armada como o prolongamento da luta política, como último recurso: «O povo em armas. Essa deve ser a característica fundamental duma resistência armada, dum povo que luta pela sua liberdade. (…) Nunca é demais repetirmos que o objectivo fundamental da nossa resistência armada é realizar aquilo que não conseguimos só com política.»10

Mas não podemos desvalorizar o peso e a eficácia da acção diplomática levada a cabo por Amílcar Cabral durante os anos da Guerra Colonial, que seriam também os últimos anos da sua vida. O seu tempo era passado entre Conacri e as múltiplas viagens onde dinamizava conferências de imprensa, dava entrevistas sobre a situação da Guiné e realizava reuniões para motivar o apoio de outros países e instituições.

Em Junho de 1962, Cabral representa pela primeira vez o PAIGC perante a ONU, através de um documento intitulado «O povo da Guiné perante as Nações Unidas».

Em Janeiro de 1966, será em Havana, no decorrer da Tricontinental – Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia, África e América Latina, que fará a intervenção considerada como uma contribuição teórica original no plano historico-filosófico, desenvolvendo a análise da marcha da luta dos movimentos de libertação nacional. 

«Não podemos desvalorizar o peso e a eficácia da acção diplomática levada a cabo por Amílcar Cabral durante os anos da Guerra Colonial, que seriam também os últimos anos da sua vida.»

«Se é verdade que uma revolução pode falhar mesmo alimentada por teorias perfeitamente concebidas, ainda ninguém realizou uma revolução vitoriosa sem teoria revolucionária. Os que afirmam – e com razão – que a força motora da história é a luta de classes estariam certamente de acordo para rever esta afirmação, a fim de a precisar e de lhe dar um campo de aplicação ainda mais vasto, se conhecessem mais profundamente as características essenciais de certos povos colonizados, quer dizer dominados pelo imperialismo. Com efeito, na evolução geral da humanidade e de cada um dos povos que a compõem, as classes não aparecem nem como fenómeno generalizado e simultâneo na totalidade destes grupos, nem como um todo acabado, perfeito, uniforme e espontâneo. A definição de classes, no seio de um ou vários grupos humanos, é uma consequência fundamental do desenvolvimento progressivo das forças produtivas e das características da distribuição das riquezas produzidas por este grupo ou confiscadas a outros grupos. (…) Tudo isto permite levantar a seguinte questão: será que a história só começa a partir do momento em que se desenvolve o fenómeno «classe» e por consequência a luta de classes?

«Se é verdade que uma revolução pode falhar mesmo alimentada por teorias perfeitamente concebidas, ainda ninguém realizou uma revolução vitoriosa sem teoria revolucionária.»

Amílcar cabral

Responder afirmativamente seria situar fora da história todo o período de vida dos grupos humanos que vai da descoberta da caça, e posteriormente da agricultura nómada e sedentária, até à criação dos rebanhos e à apropriação privada da terra. Seria então também – o que nos recusamos a aceitar – considerar que muitos grupos humanos da África, da Ásia e da América Latina, viviam sem história, no momento em que foram submetidos ao jugo do imperialismo. (…) Admitimos sem custo que este factor da história de cada grupo humano é o modo de produção – o nível das forças produtivas e o regime de propriedade – que caracteriza esse agrupamento. Mais ainda, como se viu, a definição de classe e a luta de classes são elas próprias o efeito do desenvolvimento das forças produtivas conjugadas com o regime de propriedade dos meios de produção.

Parece-nos pois correcto concluir que o nível das forças produtivas, elemento determinante essencial do conteúdo e da fórmula da luta de classes, é a verdadeira e permanente força motora da história. Se aceitarmos esta conclusão, desfazem-se as dúvidas que perturbaram o nosso espírito. Porque, se de um lado verificamos que está garantida a existência da história antes da luta de classes e evitamos assim reduzir alguns grupos humanos dos nossos países – e talvez do nosso continente – à triste condição de povo sem história; por outro lado, pomos a claro a continuidade da história, mesmo após o desaparecimento da luta de classes ou das próprias classes. (…) A eternidade não é deste mundo, mas o homem sobreviverá às classes e continuará a produzir e a fazer a história, já que não se pode libertar do fardo das suas necessidades, das suas mãos e do seu cérebro, que estão na base do desenvolvimento das forças produtivas».11

Em Fevereiro de 1972, desloca-se a Addis Abeba para prestar depoimento perante a 163.ª Sessão do Conselho de Segurança. No final da sua intervenção, Cabral convida o organismo a enviar uma comissão ao interior da Guiné para confirmar a existência das zonas já libertadas pelo PAIGC. A visita terá lugar de 18 de Março a 9 de Abril de 1972. Por razões de segurança, os observadores são forçados a ficar mais tempo no terreno, o que constituirá uma importante vitória política. 

Este esforço diplomático será, desta forma, acompanhado da criação de uma organização económica e política nas zonas libertadas. Toda a orientação económica do PAIGC tem por preocupação a gradual melhoria do nível de vida das populações destas zonas. Aumentam-se as produções e diversificam-se as culturas, criam-se os Armazéns do Povo para fornecer à população artigos de primeira necessidade. O governo das regiões libertadas efectua-se através de vários órgãos, desde o Congresso, ao Conselho Superior da Luta, o Comité Executivo da Luta, o Comité Nacional das regiões libertadas. O trabalho político continua intimamente ligado à acção militar, já que corresponde às condições de clandestinidade a que o partido é forçado. 

O reconhecimento internacional da independência da Guiné deveria seguir o processo de eleição da primeira Assembleia Nacional Popular nas zonas libertadas, que se realizaria por sufrágio directo e universal, dando prova do controlo de território em certas zonas do país: o PAIGC mostrava uma máquina administrativa capaz de realizar um processo eleitoral em tempo de guerra, num território delimitado, e com uma população específica. A independência será proclamada unilateralmente a 24 de Setembro de 1973 e será consagrada a 10 de Setembro de 1974, após a revolução de 25 de Abril em Portugal. Amílcar Cabral já não assistiria ao desfecho da luta à qual tinha dedicado a sua vida, tendo sido assassinado a 20 de Janeiro de 1973.

Estas são algumas notas de um percurso singular e que, por si só, impõe respeito. Pela inteligência com que articulou politicamente as posições de um povo em luta pela sua libertação, sem cedências de princípio, mas sem multiplicar trincheiras que poderiam ser contraproducentes, Amílcar Cabral foi capaz de propor, junto das reivindicações de uma luta anticolonial, um projecto de país que se transformaria muito para além da independência formal.

  • 1. s.a., Manual Político, p. 10
  • 2. PEREIRA, Aristides, Uma Luta, um Partido, dois Países, Guiné-Bissau e Cabo Verde, p.85
  • 3. TOMÁS, António, O Fazedor de Utopias, uma biografia de Amílcar Cabral, p. 88
  • 4. SOUSA, Julião Soares, Os movimentos unitários anti-colonialistas (1954-1960), o contributo de Amílcar Cabral in Estudos do século XX, p.336
  • 5. CABRAL, Amílcar, Textos políticos de Amílcar Cabral, p. 64 «Se a queda do fascismo em Portugal poderia não conduzir ao fim do colonialismo – hipótese aliás admitida por alguns dos líderes da oposição portuguesa – nós estamos certos de que a liquidação do colonialismo português arrastará a destruição do fascismo em Portugal. Através da nossa luta de libertação, nós contribuímos eficazmente para a queda do fascismo português e damos ao povo de Portugal a melhor prova da nossa solidariedade.»
  • 6. CABRAL, Amílcar, Análise dos tipos de resistência: resistência política, pp. 3-4
  • 7. DAVIDSON, Basil, The Liberation of Guiné, aspects of an African Revolution, p.78
  • 8. s.a., Manual Político, pp. 65-66.
  • 9. idem, p. 96 (intervenção na 2.ª Conferência da C.O.N.C.P. em 1965).
  • 10. CABRAL, Amílcar, Análise dos tipos de resistência: resistência armada, pp. 16, 23.
  • 11. CABRAL, Amílcar, Textos políticos de Amílcar Cabral, pp. 35-39
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A sua vida aventurosa e solidária leva-o, anos depois, à recém-independente Argélia, integrando a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN). Em 1966, a convite de Amílcar Cabral, parte para a Guiné, para dar o seu apoio ao PAIGC enquanto médico, onde pode conviver com os solidários médicos  cubanos e vietnamitas, companheiros na luta contra o colonialismo e imperialismo.

«Tempos duros, em que lutou para salvar as vítimas da guerra colonial, guineenses de todas as idades, mas, também, soldados portugueses feridos  que os guerrilheiros do PAIGC transportavam, percorrendo longas distâncias até ao posto médico na fronteira com o Senegal», informa o PCP. 

Posteriormente, e até ao 25 de Abril, Mário Moutinho de Pádua especializa-se na área Hematologia Clínica em Paris, prestando apoio médico a inúmeros militantes do PCP no exílio. Retornado ao seu país, derrotada a longa noite fascista, exerce funções no Grupo de Apoio à Reforma Agrária, uma organização de médicos que, todos os fins-de-semana, se deslocavam ao Alentejo para prestar cuidados de saúde aos trabalhadores rurais e às suas famílias.

Mário Pádua acreditava, afirma Pepetela, «que o ser humano era generoso por natureza e portanto capaz de se erguer acima de todas as divisões e ódios, causados por razões objectivas de domínio e exploração», tendo-o demonstrado, humildemente, sem esforços ao longo de uma vida aventurosa e totalmente dedicada à solidariedade do homem pelo homem, afirmando a sua dignidade.

Décadas após estas experiências junto dos movimentos de libertação africanos, o médico e revolucionários recusou sempre qualquer pretensão de julgar e condenar a evolução destes processos: «quem tem de corrigir os desacertos das novas nações e decerto tarde ou cedo o farão, são os africanos na sua terra». O nosso papel, dos portugueses, deve, sim, ser o de «uma ajuda desinteressada e fraterna que decorre das responsabilidades que a Portugal, ou melhor, a alguns portugueses, compete assumir no colonialismo e na guerra colonial».

Luanda revisitada

Lutávamos todos por um mundo melhor, com liberdade e sem fome nem exploração do homem pelo homem. Os angolanos, pela libertação da sua pátria do jugo do colonialismo português. Os portugueses, pelo fim da ditadura de Salazar e Caetano e da guerra colonial.

Vida quotidiana num bairro de Luanda, Angola
CréditosManuel Almeida / Agência Lusa

Vivi quase uma década da minha vida de estudante universitário e de jovem médico numa «República» de Coimbra fundada por estudantes africanos maioritariamente de Angola e por isso chamada «Kimbo dos Sobas» (Aldeia dos Chefes).

Fui o primeiro português «da metrópole» a ser aí aceite, num reconhecimento implícito da unidade da luta anticolonial e de oposição ao fascismo.

No «Kimbo», criei cumplicidades fraternas que só o convívio diário de uma casa colectiva e a generosidade da juventude propiciam, laços que nos passaram a unir para toda a vida.

Lutávamos todos por um mundo melhor, com liberdade e sem fome nem exploração do homem pelo homem. Os angolanos, pela libertação da sua pátria do jugo do colonialismo português. Os portugueses (nascidos na «metrópole» ou no «ultramar»), pelo fim da ditadura de Salazar e Caetano e da guerra colonial.

À sombra das paredes do nosso «Kimbo» passavam decisões duras que iriam condicionar o futuro de cada um:

Aproveitar o treino militar, desertar e ir para a guerrilha, para os angolanos. Para os portugueses lutar contra a guerra e a ditadura, na legalidade ou na clandestinidade e, quando no exército, esclarecer soldados e oficiais para «virar o bico ao prego» e tentar organizar deserções colectivas.

Cada um junto do seu povo na mesma luta. Nenhuma contradição. Combater em frentes diferentes pelos mesmos objectivos.

Nessas voltas do destino, houve despedidas festejadas sem delas falarmos, com abraços apertados em silêncio pelo receio da denúncia, sem saber se algum dia nos voltaríamos a ver.

Nada disto foi fácil para a pequena irmandade dessas gerações de «Sobas», parte da qual ainda participou na Crise Estudantil de 69.

Alguns conheceram a tortura e a prisão em Caxias, Peniche, na Trafaria, no Tarrafal (reaberto por Adriano Moreira para os militantes dos movimentos de libertação das colónias), na prisão de S. Nicolau, em Luanda, outros emboscados na guerrilha ou assassinados nas convulsões da cisão de 77 do MPLA, que tantas feridas abriu.

Mas, nesses verdes anos do «Kimbo», antes de mergulharmos pelos diversos caminhos, passei os dias a ouvir falar de Angola e Luanda, das suas ruas, dos seus cinemas, dos seus restaurantes, da sua baía, da marginal, da «ilha», da Maianga, do Cacuaco, das praias da Cazanga e do Mossulo.

E se a cidade passou a integrar o meu imaginário, a verdade é que só a conheci em 2006, quase quatro décadas mais tarde, ao participar num Curso de Ortopedia Infantil no Hospital Pediátrico David Bernardino, uma unidade hospitalar em muitos aspectos exemplar, reflexo do impoluto e extraordinário empenho do seu «histórico» director de muitos anos, Dr. Luís Bernardino, e dos seus colaboradores mais próximos.

Lembrar-me-ei sempre da viagem nocturna no pequeno Fiat que me transportou do aeroporto ao hospital onde ficaria hospedado, com os máximos a iluminarem a carrinha em frente e o anúncio da firma e da rua onde se situava, descobrindo, emocionado até às lágrimas, que esta tinha o nome de um dos meus companheiros do Kimbo, tragicamente desaparecido.

A paz era ainda então quase uma novidade numa cidade degradada que transbordava de gente fugida dos campos, dos combates e das minas, uma urbe pobre e insegura, com «musseques» miseráveis e crianças de rua, desmesuradamente cara no limitado circuito «civilizado» frequentado por gente do petróleo e pela burguesia abastada.

Só quatro anos antes, com a morte de Savimbi e a paz com a Unita, Angola tinha fechado o longo ciclo de quarenta anos de guerra começado com a luta de libertação do jugo colonial, logo seguido pela heróica resistência à ofensiva da FNLA de Holden Roberto e dos mercenários da CIA, com portugueses da extrema-direita do ELP (Exército de Libertação de Portugal) e tropas do Zaire de Mobutu e da África do Sul, que, deixando um rasto de morte e destruição, chegaram às portas da capital querendo invadi-la no próprio dia da declaração de Independência (11 de Novembro).

«Afinal, a brutal censura angolana apregoada pela nossa comunicação social parece não ser bem como dizem. Para mais, quando o entrevistado ingenuamente confessa que iniciou a sua vida de "activista" depois de um curso patrocinado pelo "National Institute for International Affairs", organização criada pelo Congresso americano e presidida por Madelaine Albright»

É difícil imaginar um ambiente mais dramático do que o da cerimónia onde chegava o difuso ressoar dos tiros da batalha de Kifangongo travada a poucos quilómetros dali, onde se decidia o futuro do país e da própria população de Luanda, salva da chacina anunciada pelo exército zairense, com a derrota da FLNA e dos seus ferozes aliados.

Mas a guerra continuaria durante mais de duas décadas, imposta pela Unita de Savimbi com o continuado apoio dos estados do «apartheid», dos USA e de toda a direita Ocidental, combatidos com a ajuda solidária de soviéticos e cubanos, tendo tido o seu auge na famosa batalha de Cuíto-Canavale.

Todo esse longo período de destruição e sacrifício, que cruzou o próprio nascimento de Angola como nação soberana, é hoje por muitos esquecido ou menorizado, como se esses anos de guerra, com todo o cortejo de carências, projectos suspensos, tráfico de armas, mercado negro, corrupção e miséria, pouco contassem nas dificuldades e desequilíbrios ainda sentidos na ancoragem do aparelho de estado e na normalização do seu enquadramento e práticas institucionais.

A recusa da ditadura de Salazar de proceder em tempo oportuno a um processo pacífico de descolonização assegurando a continuidade de muitos portugueses que, em Angola, viviam honestamente garantindo serviços essenciais, desembocou numa guerra prolongada e criminosa que obrigou ao forçado «retorno» de muitos milhares em condições dramáticas, deixando Angola despida de quadros e técnicos que os poucos existentes não podiam suprir, aumentando as dificuldades, o divisionismo e o prolongar dos conflitos.

E essa continua a ser uma pesada responsabilidade da direita portuguesa que ainda hoje procura capitalizar o capital de descontentamento dos «retornados» e as memórias distorcidas da realidade colonial em seu favor, trocando descaradamente culpas e culpados.

Desde essa primeira visita, em 2006, voltei quase todos os anos a Luanda por razões profissionais («pro bono»), aproveitando para estar como os meus amigos do Kimbo. E lá voltei, há uma semana, já depois de terminado o processo eleitoral.

Em apenas década e meia de paz, dificilmente se pode ignorar a espantosa melhoria observada em todos as frentes, sem com isso menorizar os problemas que ainda existem e os evidentes contrastes sociais.

Mas sobre isso há sempre, nos media dominantes em Portugal, um interesse falsamente paternalista para com Angola, por onde perpassa um odor de neocolonialismo e de indisfarçada hostilidade, reduzindo a realidade plural e dinâmica da sua sociedade, a uma redutora avaliação cheia de rótulos estereotipados de «estado corrupto», «pobreza e fortunas obscenas», «censura» e «falta de liberdade».

Na realidade, há em tudo isso muito de verdade e de mentira, e a Angola que existe, apesar de toda a evolução, está ainda longe da pátria idealizada pelos meus companheiros do Kimbo que passaram sacrifícios indescritíveis lutando por um país mais livre, independente e justo.

Ma também para os portugueses que combateram o fascismo e viveram a Revolução de Abril, o Portugal de hoje está longe do país que então imaginaram.

E lições de superioridade moral denunciando a corrupção e novo-riquismo das elites angolanas em contraste com a pobreza dos «musseques», são dificilmente aceites se, quem as dá, convive e defende, de forma cúmplice, o facilitismo e a promiscuidade corrupta que continuam a envolver dirigentes políticos portugueses e as velhas e novas elites da finança lusa, dos Espírito Santo aos Oliveira e Costa, de Armando Vara a Duarte Lima, do escândalo dos vistos Gold às equivalências de Relvas e dos chefes da Protecção Civil, justificando os estratosféricos salários de Zainel Bava e Granadeiro que levaram a PT à falência, saudando os cortes nos salários e pensões enquanto milhares de milhões foram gastos a tapar os buracos da especulação dos bancos, com mais um terço dos portugueses na pobreza.

Nisso, Portugal é um espelho um pouco mais embaciado e com menos contraste do que se pode ver em Angola, sem as atenuantes de ter tido uma guerra prolongada no seu território nem a justificação da verdura da estrutura social e política de uma «nova» nação.

De resto, muitos dos corruptos de um lado são sócios ou parceiros dos corruptos do outro, pelo que, também nesse campo, podemos pensar que temos muito a ligar-nos.

É nesse complexo contexto, que a forma pacífica, pluralista e organizada como decorreram as recentes eleições em Angola, elogiadas por todos com quem falei, constitui uma invulgar afirmação de maturidade política, que justifica a confiança com que os angolanos parecem encarar o futuro num país socialmente mais justo e coeso, apesar das dificuldades criadas pela baixa do petróleo e a falta de divisas.

Claro que o MPLA já não é o que era, e do antigo partido dos trabalhadores de inspiração marxista já pouco resta. Mas talvez essa seja apenas mais uma prova de que não basta o voluntarismo dos dirigentes para construir o socialismo num país quase sem proletariado e ainda com processos de produção pré-capitalista, embora isso não possa servir de justificação para o aprofundar das desigualdades e da exploração dos mais fracos, num território cheio de riquezas naturais.

De qualquer forma, depois de um passado tão conturbado como heróico, Angola parece ter dado mais um importante passo na consolidação da sua democracia.

E no Novo Jornal, que comprei já no aeroporto, em entrevista anunciada na primeira página, Nuno Álvaro Dala, um dos revoltados companheiros do tão badalado Luaty e Beirão, proclama: «O MPLA finge que Governa e os outros partidos fingem que fazem oposição» […] «a política feita em Angola nos últimos 15 anos tem sido uma monumental mentira».

Afinal, a brutal censura angolana apregoada pela nossa comunicação social parece não ser bem como dizem. Para mais, quando o entrevistado ingenuamente confessa que iniciou a sua vida de «activista» depois de um curso patrocinado pelo «National Institute for International Affairs», organização criada pelo Congresso americano e presidida por Madelaine Albright, ex-Secretária de Estado dos USA, patrocinadora da destruição da Jugoslávia, a «humanista» que, em 1996, numa entrevista ao «Sixty Minutes», considerou friamente que a morte de meio milhão de crianças causada pelas duras sanções então aplicadas ao Iraque «é um preço que vale a pena».

Como se vê, gente preocupada com a paz na Terra e a felicidade do petróleo. Talvez seja por isso que os árabes lhe chamam «a urina do Diabo».

E os angolanos também parecem saber isso…

Tipo de Artigo: 
Opinião
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«Alguns ex-colonos rejubilam-se com as dificuldades, as guerras civis, os erros, a corrupção, o enriquecimento súbito e descomunal de dirigentes e pretendem que nada de semelhante ocorria no tempo colonial» denunciou, numa recente edição de um dos seus livros (Edições Avante!). «Esquecem o baixíssimo nível da instrução antes de 1974, o acesso problemático da minoria dita assimilada às carreiras superiores, o enriquecimento de fazendeiros graças ao trabalho forçado, a desigualdade de oportunidades, as humilhações de base racial, a subalternização dos africanos no seu próprio país».

«Esteve sempre, até à sua morte, seguro que a luta por um mundo mais  justo vencerá, empenhado na luta pela construção de uma democracia avançada vinculada aos valores de Abril na luta pelo socialismo e o comunismo», salienta o PCP.

Mário Moutinho de Pádua morreu aos 87 anos de idade. Era, actualmente, membro da Presidência do Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC), membro da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) e pertencia ao Organismo de Direcção do Sector da Saúde da Organização Regional  de Lisboa do Partido Comunista Português (PCP).

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