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Gestor de banco japonês revela estratégia dos especuladores face à dívida pública portuguesa

A verdadeira face da especulação: dívida pública fora do «lixo» perde interesse

O Nomura, um banco de investimento japonês, deve vender os mais de 400 milhões de euros em dívida pública portuguesa quando a Fitch a retirar do «lixo». À Bloomberg, um gestor do banco explica como se comportam os investidores especulativos.

CréditosJustrader / CC BY-SA 3.0

Richard Hodges, gestor do banco de investimento nipónico Nomura, falou à agência Bloomberg, citado pelo jornal digital ECO, na passada sexta-feira sobre a dívida pública portuguesa pela segunda vez este ano. A primeira foi em Julho, quando afirmou que o Nomura ia aumentar «significativamente» a exposição à dívida pública portuguesa – que estará ligeiramente acima dos 400 milhões de euros.

Agora, quando se aguarda que a agência de rating Fitch aumente a notação da dívida pública portuguesa, a 15 de Dezembro, para acima do «lixo», como fez a Standard & Poor's em Setembro, Hodges diz que é tempo de o Nomura despachar a sua posição.

As declarações do banqueiro permitem entender o modus operandi dos especuladores financeiros em relação à dívida pública portuguesa.

Em Julho, Hodges revelava que todas as previsões que tinham feito falharam, mas a verdade é que lucraram com o negócio. Neste momento, a Nomura prepara-se para largar a dívida pública portuguesa: deixando de estar no «lixo» e com os valores pelos quais é transaccionada estabilizados, deixa de ter interesse para quem quer fazer dinheiro rápido.

Em Março, um porta-voz de um grupo de fundos especulativos explicou ao Expresso a estratégia para pressionar o serviço da dívida pública portuguesa. Vinte fundos especulativos, como a Blackrock ou a PIMCO, iniciaram um processo de chantagem com as autoridades portuguesas por terem sofrido perdas de 1,9 mil milhões de euros com a resolução do BES.

O banco nipónico conhece bem os meandros da especulação ao mais alto nível. Em 2008, no rescaldo da falência do Lehman Brothers, o Nomura comprou as suas operações na Ásia e na Europa, absorvendo alguns dos seus quadros. O Lehman era, até então, um dos maiores bancos de investimento do mundo – que caiu precisamente pela sua apetência para a especulação financeira.

Portugal paga anualmente cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), ou 8 mil milhões de euros, em juros da dívida pública, que vão directamente para o bolso de instituições como o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, ou de especuladores financeiros.

No Orçamento do Estado para 2018, o Governo prevê que a dívida pública se mantenha acima dos 120% do PIB no próximo ano, o que, apesar de representar uma redução, a mantém num dos níveis mais elevados de toda a União Europeia.

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