O acordo entre as partes foi hoje anunciado por António Guterres na cidade sueca de Rimbo, ao cabo de uma semana de conversações de paz que visam por fim à guerra brutal que a aliança liderada pela Arábia Saudita impôs ao Iémen há quase quatro anos.
Nos termos do acordo alcançado entre a delegação do movimento Huti Ansarullah e os representantes do antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, apoiado por Riade, as partes beligerantes decretaram um cessar-fogo para toda a província de Hudaydah, bem como a retirada das tropas da cidade portuária com o mesmo nome, à beira do Mar Vermelho, reconhecendo que as Nações Unidas desempenham um «papel essencial» num porto de vital importância para o país – actualmente sob controlo dos Hutis.
Guterres, que agradeceu a ambas as delegações por «terem dado um passo importante» para permitir «um progresso real com vista a conversações futuras e pôr fim ao conflito», declarou que, após a retirada das forças, as Nações Unidas começarão a levar ajuda à população civil.
Mais de 70% das importações do Iémen passavam pelas docas de Hudaydah. No entanto, a cidade costeira tem estado sujeita, desde Junho, à intensa ofensiva lançada pelos sauditas, as tropas dos Emirados Árabes Unidos e as milícias fiéis a Abd Rabbuh Mansur Hadi.
António Guterres informou ainda que a próxima ronda de negociações está prevista para o final de Janeiro de 2019, altura em que deve ser discutida a reabertura do aeroporto da capital iemenita, Saná, a voos comercais.
Para já foi acordada a reabertura do aeroporto da capital a voos internos. No entanto, refere a HispanTV, a delegação do movimento Huti Ansarullah rejeitou uma proposta de «circulação de voos entre Adém e Saná», por considerar que o aeroporto de Adém (no Sudoeste do país) «está fora de controlo iemenita».
A mesma fonte refere que as negociações foram ensombradas pelos bombardeamentos da Arábia Saudita e dos seus aliados em território iemenita, ignorando tanto a crise humanitária que este tipo de ataques causou no país como a mediação internacional para acabar com a guerra.
Guerra de agressão desde Março de 2015
À frente de uma aliança que inclui países como os Emirados Árabes Unidos, o Egipto e o Sudão, a Arábia Saudita lançou, em Março de 2015, uma ofensiva militar contra o mais pobre dos países árabes, declarando serem seus objectivos esmagar a resistência do movimento popular Ansarullah e recolocar no poder o antigo presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Riade.
De acordo com as estimativas mais recentes, a guerra de agressão contra o Iémen provocou cerca de 56 mil mortos, e tanto o Comité Internacional da Cruz Vermelha como as Nações Unidas se têm referido à situação no país como «a maior crise humanitária do mundo».
As Nações Unidas sublinham que a campanha militar é responsável pela destruição de uma parte substancial das infra-estruturas do país árabe e está na origem de uma situação humanitária em que mais de 22 milhões de iemenitas necessitam de ajuda alimentar urgente, sendo que 8,4 milhões são «severamente afectados pela fome».
Tanto a Arábia Saudita como os Emirados Árabes Unidos têm sido frequentemente acusados de violações dos direitos humanos e de perpetrar acções que se configuram como crimes de guerra. Várias potências ocidentais, em que se incluem a França, a Alemanha e a Espanha, e em que assumem destaque os EUA e o Reino Unido, são acusados de cumplicidade activa nesta agressão, nomeadamente pela venda de armamento e equipamento militar de ponta aos sauditas.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui