Os chamados «coletes amarelos» reocuparam as ruas e praças de França pela quinta vez em 15 de Dezembro. O movimento informal respondeu assim, pela negativa, às concessões anunciadas pelo presidente Emmanuel Macron e aos seus discursos de apaziguamento, demonstrando a permanência da insatisfação popular para com o seu governo.
Além de Paris, Bordeaux, Brest, Caen, Grenoble, Lyon, Nantes, Rennes, Rochefort, Toulouse, são algumas das cidades em que os «coletes amarelos» se manifestaram.
A mobilização foi consideravelmente inferior à da semana anterior: segundo o Ministério do Interior, em informação actualizada às 18h, segundo a LUSA, foram contabilizados 66 mil manifestantes em 15 de Dezembro, 3 mil dos quais em Paris. Em 8 de Dezembro tinham sido contabilizados pela mesma entidade 126 mil, dos quais 10 mil em Paris.
Diversos analistas atribuíram esta baixa sobretudo à influência do atentado em Estrasburgo, que dominou as atenções nos últimos dias, mas também ao elevado nível de confrontos na semana precedente, que pode ter afastado «coletes amarelos» que pretendiam manifestar-se de forma pacífica.
Segundo fontes oficiais, 69 mil polícias foram mobilizados no «hexágono», 8 mil dos quais para o centro de Paris, com a preocupação de evitar os confrontos mais violentos provocados, sobretudo, por grupos de extrema-direita, grupos anarquistas e mesmo por simples arruaceiros, responsáveis pela pilhagem de algumas lojas. As próprias autoridades reconheceram que a maioria dos manifestantes é alheia a estes confrontos e se manifestou pacificamente.
Os confrontos reduziram-se significativamente na capital, não só pela redução da mobilização mas, sobretudo, pela dimensão do dispositivo policial (8 mil polícias contra 3,5 mil manifestantes) e pelas medidas tomadas para desarmar, antes da sua chegada ao centro da cidade, grupos mais radicais.
Em Paris a manifestação não teve a dimensão das jornadas anteriores. Procurando diferenciar-se dos grupos que promoveram distúrbios, os «coletes amarelos» convocaram a concentração não para os Campos Elíseos mas para a Praça da Ópera, onde se viria a realizar um comício onde dois dos seus dirigentes – Priscillia Ludosky e Maxime Nicolle – leram um documento reivindicativo entregue ao primeiro-ministro no dia anterior. Baixa dos impostos sobre os produtos de primeira necessidade, baixa das reformas e e dos salários dos deputados, medidas contra os mais ricos e a favor dos trabalhadores e dos mais pobres, as reivindicações expressas têm, cada vez mais, um conteúdo popular.
O RCI (Referendo de Iniciativa Cidadã), defendido também por diversos partidos políticos, está na ordem do dia. No discurso em Paris, na Praça da Ópera, os «coletes amarelos» defenderam a utilização desta figura legislativa – que facilita a consulta directa dos cidadãos, subalterniza o papel dos deputados eleitos – para «devolver ao povo o seu papel soberano».
Os confrontos reduziram-se significativamente na capital, não só pela redução da mobilização mas, sobretudo, pela dimensão do dispositivo policial (8 mil polícias contra 3,5 mil manifestantes) e pelas medidas tomadas para desarmar, antes da sua chegada ao centro da cidade, grupos mais radicais.
Bordéus, no sul de França, foi a cidade onde o grau de mobilização se manteve igual ao da semana anterior. 4,5 mil manifestantes (mais do que em Paris) desfilaram, com poucos incidentes. Brest, na Bretanha, terá sido a segunda cidade onde os protestos tiveram maior dimensão, com cerca de 2 mil manifestantes. Em Marselha e Nantes desfilaram mil a mil e quinhentos manifestantes e nas outras cidades referidas mais acima (Toulouse, Caen, Rennes, Lyon, Estrasburgo) as presenças oscilaram entre «algumas» e «várias» centenas de manifestantes.
CGT e coletes amarelos: um mesmo combate?
Na sexta-feira, dia 14, ao apelo CGT (de tendência comunista), «coletes amarelos» juntaram-se a sindicalistas daquela central sindical mas também de centrais sindicais de tendência socialista ou católica (FSU, FO, Solidaires) e estudantes, para formar um cortejo de 15 mil manifestantes (segundo os organizadores, 6 mil segundo a polícia) que desfilou sem incidentes entre a Praça da República e a Praça da Nação.
Segundo o Le Monde, diversos sindicalistas confessaram terem tido, inicialmente reticências quanto ao protesto dos «coletes amarelos» contra o aumento dos carburantes, que consideravam estar ligado à extrema-direita, mas que, quando viram as reivindicações evoluírem em confluência com as reivindicações dos trabalhadores – aumento do salário mínimo nacional, restabelecimento do imposto sobre as fortunas, defesa dos serviços públicos, entre outras – tiveram para com o movimento um olhar mais simpático.
«Temos de traduzir esta cólera em reivindicações nas empresas» disse aos jornalistas Sébastien, da União Departamental do Val-d’Oise, que acha necessário «fazer convergir» os movimentos em vez de os opor. Stéphane, que trabalha no apoio domiciliário em Paris, conta que, no passado dia 1 de Dezembro, quando na capital decorreram manifestações simultâneas da CGT e dos «coletes amarelos», ao cruzar-se com um grupo de manifestantes e ter encetado um diálogo com eles, descobriu que se tratavam de colegas de profissão «que nos desconheciam [à CGT]», reconhecendo que «há um grande desnível entre o mundo do trabalho e os sindicatos».
Patrick reconheceu a existência, no movimento dos «coletes amarelos», de «desconfianças tanto quanto a políticos quanto a sindicatos», que dificultam uma luta comum. Já Aliénor, uma ferroviária de 25 anos filiada na CGT, participou nos protestos dos «coletes amarelos» com o seu colete laranja de feroviária. De início não foi «propriamente bem-vinda» mas, pouco a pouco, foi estabelecendo um relacionamento diferente. E se na sexta-feira, quando se dirigia para a manifestação da CGT com outros ferroviários se cruzou com «coletes amarelos» a caminho de Paris, amanhã estará na capital para lutar: «Macron anunciou migalhas», e continuou: «são sempre os mesmos que comem o bolo». A jovem sindicalista concluiu que para obter resultados é preciso «estarem todos juntos nas ruas».
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