Rodolfo Nin Novoa denunciou a tentativa de José Serra de «comprar o voto do Uruguai», em troca de futuros acordos comerciais, para que não se concretizasse a transferência temporária da presidência do Mercosul para a Venezuela.
No início de Julho, o ministro interino brasileiro dos Negócios Estrangeiros, acompanhado pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, visitou o Uruguai, tendo-se reunido, no dia 5, com o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, e com Nin Novoa.
Numa conferência de imprensa, o ministro brasileiro afirmou que o seu país pretendia fazer uma «grande ofensiva» comercial em África e no Irão, e que queria que o Uruguai – entre todos os países do Mercosul – participasse nela como «sócio». Para tal, o Uruguai teria de suspender a transferência da presidência rotativa do Mercosul para a Venezuela, informam o Brasil de Fato e a Opera Mundi.
Mal-estar uruguaio
«Não gostámos muito que o ministro Serra viesse ao Uruguai para nos dizer – e fez isso publicamente, por isso o digo – que vinham com a pretensão de que fosse suspensa a transferência e que, ademais, se a suspendêssemos, nos levariam nas suas negociações com outros países, querendo comprar o voto uruguaio», disse Nin Novoa numa Comissão de Assuntos Internacionais de Deputados que teve lugar no passado dia 10 de Agosto, no Parlamento uruguaio, e cuja transcrição foi publicada ontem no jornal El País, de Montevideu.
Nin Novoa disse que a atitude de Serra o incomodou muito a ele e ao presidente do país, tendo este último respondido de forma «clara e contundente» que o Uruguai iria cumprir as normas e passar à Venezuela a presidência do Mercosul.
Bullying contra a legítima ocupante
O ministro uruguaio também denunciou que, no decorrer de uma reunião realizada no Rio de Janeiro entre os presidentes da Argentina, do Brasil e do Paraguai, à margem dos Jogos Olímpicos e que tinha como propósito limitar os poderes da Venezuela no bloco regional, o embaixador brasileiro Paulo Estivallet de Mesquita pediu que nenhum representante fosse às reuniões convocadas pelo país caribenho.
Na sua intervenção na comissão, Nin Novoa deixou claro que, para o seu país, a «Venezuela é a legítima ocupante da presidência temporária e, como tal, quando convocar uma reunião, o governo uruguaio participará».
Acusando o Brasil, a Argentina e o Paraguai – que não reconheceram a Venezuela à frente do Mercosul – de lidarem com uma argumentação «eminentemente política» e que tem por objectivo prejudicar a presidência do país das Caraíbas, Novoa afirmou: «Digo com todas as letras. Esquecem o jurídico, que é este livro que estou mostrando, que contém o corpo normativo, e criam razões que não estão aqui. Querem evitar, corroer, fazer bullying com a presidência da Venezuela. Essa é a pura verdade.»
Brasil exige esclarecimentos
Em resposta, o Ministério brasileiro dos Negócios Estrangeiros emitiu um comunicado em que manifesta o «profundo descontentamento e a surpresa» com que o governo brasileiro «recebeu as declarações do chanceler Novoa». O seu teor «não é compatível com a excelência das relações entre o Brasil e o Uruguai», lê-se no texto.
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