Já muitos espaços abriram as suas portas e voltaram à programação das artes plásticas, e nós, por aqui, vamos continuar a divulgar os diversos espaços culturais que existem por todo o país, onde se realizam regularmente exposições de artes plásticas, algumas delas inicialmente agendadas para Março e Abril e agora reagendadas a partir de 18 de Maio ou no mês de Junho, assim como surgiram outras actividades que resultaram da criação artística durante o período da quarentena. Para voltar às artes, como público, apenas é necessário levar a máscara, cumprir as regras sanitárias e de distanciamento e estar atento à programação existente em todos os espaços que já aqui foram divulgados. Quanto aos profissionais das artes vamos continuar a exigir um apoio social extraordinário destinado a todos os que não tiveram acesso a outros mecanismos de protecção social durante a pandemia, e nas artes plásticas foram muitos os que ficaram de fora, como por já diversas vezes foi denunciado e exigido em manifestos e protestos destes profissionais e entidades representativas do sector artístico e cultural.
O Solar dos Zagallos1 é um equipamento municipal, situado na Sobreda (Almada), onde se desenvolve uma programação regular de exposições de artes plásticas, referindo o acolhimento de propostas para exposições individuais. É o local onde se têm realizado as exposições da Bienal de Desenho de Almada, que se apresenta neste espaço desde 2016, e possui um excelente equipamento de criação artística, a Oficina de Olaria. O Solar dos Zagallos é também um espaço muito visitado pela sua programação, que valoriza o património material e imaterial, através da preservação das tradições locais, e pelo seu valor patrimonial histórico em arquitectura, com elementos do barroco, rococó, pombalino neoclássico e do modernismo, em azulejaria do século XVIII e jardins. O edifício do solar resulta de várias intervenções ocorridas desde a criação do morgado, em 1745, até ao século XX. O solar foi construído no século XVII, pertenceu à família Zagallo até 1908, em 1921 foi adquirido pela família Piano e em 1982 passou para as mãos da Câmara Municipal de Almada, que depois de obras de recuperação, remodelação e restauro, mantém o Solar dos Zagallos – onde também está sediada a Academia de Música de Almada – e os jardins circundantes abertos ao público.
Da sua actual programação constam três exposições que foram reagendadas e poderão agora ser visitadas até 5 de Julho: a colectiva de fotografia «A Caminho Dos Mestres», «De Cais em Cais», pintura de Pedro Fernandes e «Doca'13», fotografias de Pedro Fernandes.
«A Caminho Dos Mestres» é uma exposição colectiva de trabalhos desenvolvidos pelos alunos da Escola de Fotografia Luz do Deserto, uma escola de fotografia que ministra aulas de iniciação e especialização fotográfica, que existe em Belém (Lisboa) desde 1994 e que, além das aulas de orientação educativa e pedagógica na área de fotografia de autor, desenvolve também projectos fotográficos, concursos de fotografia, exposições fotográficas e bolsas de estudo. Participam nesta exposição Adalberto Santos, Alexandra Ferreira, Ana Braz, Ana Verde, Beatriz Neto, Carlos M Moreira, Cláudia Pinheiro, Elisabeth Pereira, Gabriela Urbano, Isabel Monteiro, João Torrado, José Caldas, Nuno Bragança, Patrícia Vasconcelos, Raquel Martins e Tiago Gomes.
«De Cais em Cais» é uma exposição de pintura onde Pedro Fernandes apresenta trabalhos realizados maioritariamente nos últimos dois anos e sobre uma das facetas mais presentes na sua pintura – a temática náutica. No texto de apresentação da exposição refere-se que o «autor considera que o tema desta exposição poderá certamente harmonizar-se com a vivência, memórias e expectativas dos potenciais visitantes, habitantes de Almada», atendendo às ligações que a população desta cidade sempre teve com a indústria naval. Pedro Fernandes (n. 1963) tem o curso de Design de Interiores e Equipamento Geral no IADE-Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, onde também estudou desenho e pintura nas «Oficinas Livres».
A exposição «Doca'13» revisita a Lisnave através da fotografia. Paulo Martins tem fortes ligações afectivas à Lisnave através do pai, que foi um dos gruístas na Doca 13, e pretende «revisitar a LISNAVE através da sua fotografia», sendo também «uma possibilidade de reescrever a narrativa deste espaço e das suas memórias». No texto da exposição, Cristiana Amaro propõe-nos olhar para este projecto de fotografia por dois momentos, «num primeiro conjunto de imagens há um enquadramento fílmico que abre com um plano geral, uma imagem cuja amplitude nos remete para um sentimento de partida, de viagem, de odisseia, como se esta primeira foto, que abre a exposição, representasse o sonho e devaneio onírico. Para depois sermos surpreendidos por planos cada vez mais apertados que terminam com um close-up que reduz o campo visual, em que o olhar é impedido de espreitar. Num segundo conjunto de imagens temos um registo em que a cor se dilui e a luz a sombra e os reflexos, se assumem numa mise-en-scène do espaço, compondo uma dramaturgia do abandono e do esquecimento.» Paulo Martins (n. 1971), é natural de Alverca do Ribatejo, tem uma licenciatura em História, desenvolve fotografia como autodidacta, tendo obtido o 1.º Prémio no Concurso da 4.ª Edição do Mês da Fotografia do Barreiro, com o projecto «Sombras na Luz», em 2017.
Com o tema «Coronavírus Não Destrói A Criatividade», os Artistas de Gaia-Cooperativa Cultural desafiam os artistas nacionais e estrangeiros a participar com obras nas áreas da pintura, desenho, escultura ou fotografia criadas durante o período da pandemia no concurso integrado na «Onda Bienal 2020», obras estas que serão seleccionadas para integrar uma das exposições da 4.ª Bienal Internacional de Arte Gaia 2021. Para este efeito os artistas deverão enviar a imagem do seu trabalho (uma obra por artista, não devendo ultrapassar as medidas 150cm x 150cm), de 8 a 15 de Julho de 2020, para o e-mail [email protected].
A Fundação de Serralves2 é uma instituição cultural do Porto, abriu as suas portas em 1989, tem como principal foco estimular o interesse e o conhecimento de diferentes públicos pela Arte Contemporânea, pela Arquitectura, pela Paisagem e por temas críticos, compreendendo diversos espaços como o Museu de Arte Contemporânea, um projecto do arquitecto Álvaro Siza, a Casa de Serralves, de arquitectura Art Déco, o Parque, desenhado pelo arquitecto francês Jacques Gréber, e a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, também de autoria do arquitecto Álvaro Siza. A Fundação de Serralves tem uma colecção que integra perto de 5000 obras, da fundação e provenientes de diversas coleções privadas e públicas em depósito e inclui ainda cerca de 5000 livros e edições de artistas.
No Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio, Serralves reabriu as suas portas com a exposição «A Vida Como Ela É», de Lourdes Castro (Funchal, 1930), uma das artistas plásticas mais relevantes na arte contemporânea portuguesa, que poderá ser visitada até 18 de Outubro. Nesta exposição poderemos encontrar trabalhos de Lourdes Castro, apenas seus ou em colaboração com outros artistas, produzidos desde a década de 1960, edições, desenho, bordados, plexiglass, que sublinham a relação entre arte e quotidiano.
Lourdes Castro frequenta o curso de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e em 1972 e 1979 foi artista residente na DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst). Em 1957 parte para Berlim, depois Paris (1958-1963), onde esteve ligada inicialmente ao movimento francês nouveau réalisme (década de 60), em que os artistas utilizavam materiais do quotidiano urbano, reciclados e acumulados de modo a criar novos significados, novas formas de perceber e apreender o real. Posteriormente «construirá ao longo do seu percurso uma obra irredutivelmente singular, ligada às silhuetas e às sombras»3. Em 1960 participa na exposição do KWY4 na SNBA-Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, uma das exposições que marca a contemporaneidade no panorama artístico nacional. O conceito de sombra irá tornar-se central em praticamente toda a sua produção posterior, «sombras recortadas ou projetadas, teatros de sombras, sombras bordadas sobre lençóis fugazes, vários foram os modos e registos de que a artista se socorreu para relacionar essa perceção do imaterial com a necessária materialidade do espaço plástico»5. Nesta exposição poderemos também ver, materiais do grupo artístico KWY, do qual a artista faz parte, com colagens e assemblages, cartazes para divulgação de exposições e teatros de sombras.
- 1. Solar Dos Zagallos, Largo António Piano Júnior, Sobreda. Horário: quarta-feira a sábado, das 10h às 17h; domingo, das 14h às 17h.
- 2. Fundação Serralves, Rua D. João de Castro, n.º 210, Porto. Horário de Verão (1 de Abril a 30 de Setembro): segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 19h; sábado e domingo, das 10h às 20h.
- 3. Texto da Exposição «A Vida Como Ela É», de Lourdes Castro, na Fundação de Serralves, Porto.
- 4. Grupo de artistas KWY (Paris, 1958–1963), constituído pelos artistas portugueses Lourdes Castro, René Bértholo, António Costa Pinheiro, João Vieira, José Escada e Gonçalo Duarte, pelo búlgaro Christo e pelo alemão Jan Voss.
- 5. Almeida, Bernardo Pinto de – «Os anos sessenta, ou o princípio do fim do processo da modernidade». In: A.A.V.V. (coordenação Fernando Pernes) – Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Fundação de Serralves; Campo de Letras, 1999, p. 217.
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