A companhia Seiva Trupe Teatro Vivo, fundada em 1973 no Porto pelos actores Júlio Cardoso, Estrela Novais e António Reis, encontra-se a viver uma situação particularmente difícil e que compromete a continuidade da sua importante actividade cultural.
Por esse motivo a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, apresentará à reunião de hoje da Câmara Municipal do Porto uma recomendação no sentido de que o município manifeste à ministra da Cultura «a preocupação com o futuro do teatro independente na cidade do Porto, designadamente da Seiva Trupe, defendendo as medidas necessárias para a sua defesa e promoção»
A proposta de recomendação lembra «o trabalho diário, constante» com que a Seiva Trupe anima, «há 47 anos», o panorama cultural portuense, através do qual tem apresentado «grandes espectáculos, com autores reconhecidos da dramaturgia universal» e «elencos de elevado mérito», aos quais junta, sempre que pode, jovens actores.
Para a temporada de 2020/2021, segundo o documento, «a companhia, actualmente dirigida por Jorge Castro Guedes, tinha em preparação a peça O Crime de Aldeia Velha, de Bernardo Santareno», e propunha-se «continuar a trabalhar textos de autores como Ibsen, James Joyce, Bernard Shaw, Shakespeare, Thomas Bernhard e António Pedro, entre outros».
A Seiva Trupe candidatou o projecto artístico a apoio pela Direcção-Geral das Artes (DGArtes) e o mesmo foi considerado elegível pelo júri com uma pontuação elevada mas «não lhe vai ser concedido qualquer apoio por escassez de verbas no recente Programa de Apoio a Projectos, o que pode por em causa o futuro da companhia», conclui o documento.
«Perda bárbara»
A crise aberta com a divulgação dos resultados do concurso de apoio às artes (Programa de Apoio a Projectos nas áreas de Criação e Edição) da Direcção-Geral das Artes (DGArtes) e a exclusão da Seiva Trupe levou à demissão do seu director.
Em declarações à Lusa, Jorge Castro Guedes, com 53 anos de teatro, 47 dos quais como profissional, admitiu que sem o financiamento da DGArtes a companhia não tinha «grandes condições para continuar».
Castro Guedes escreveu, em defesa da Seiva Trupe e do teatro, uma apaixonada Carta Aberta ao Senhor Primeiro-Ministro e à Senhora Ministra da Cultura em que critica «uma política assente na preferência pelo evento e não pela tal actividade estruturada e estruturante», uma «atomização de verbas, que anula o efeito educacional e de valor repercutivo que se esperaria do investimento na cultura» e um sistema de apoio às artes cénicas assente num sistema de júris que não tem em conta nem conhece «a actividade da maioria de quem se arrogam um direito, não escrutinado, de julgar discricionariamente sem sequer verificar da veracidade das afirmações produzidas».
Aos governantes, Castro Guedes aponta que «permitir a perda desta companhia-bandeira do Porto seria, ou será?, incontornavelmente bárbaro, como bárbaro é o destino que, assim, se aponta a várias outras estruturas».
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