Sim, leu bem, a Câmara Municipal de Almada, no ano da pandemia que vai marcar a vida das actuais gerações, fez, nos últimos dias de 2020, um depósito na Banca de 20 milhões de euros, cerca de 1/5 do seu orçamento anual, à taxa de 0%.
Depois de nos últimos três anos ter tido baixíssimas taxas de execução do seus Planos de Actividade e Orçamentos – em média investiu nestes anos menos de metade daquilo que aprovou anualmente – acabou o ano de 2020 fazendo aquilo que é inédito no poder local, depositou na Banca 20 milhões de euros, não recebendo por isso nem um cêntimo.
Digo que é inédito porque uma rápida visita aos Anuários Municipais desde 2005 permite constatar que nunca um município fez uma aplicação financeira de tamanha dimensão e, para além disso, à taxa de juro nula.
Para termos uma ideia da irracionalidade desta operação diga-se que, neste mesmo ano de 2020, Lisboa, com um orçamento dez vezes superior ao de Almada, fez uma aplicação deste tipo no valor de 704 mil euros (menos de 0,1% do seu orçamento) e que outros grandes municípios da Área Metropolitana de Lisboa, como Cascais, Oeiras e Sintra, aplicaram montantes ainda mais irrisórios.
Num ano em que mais do que nunca era exigido aos municípios o cumprimento integral das suas competências e responsabilidades, no apoio ao movimento associativo, recreativo e cultural, no apoio às Associações Humanitárias de Bombeiros, no apoio às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), no apoio às famílias e em particular à população em situação mais vulnerável, no apoio às escolas e no apoio às diferentes actividades económicas, nomeadamente aos micro, pequenos e médios empresários, a Câmara Municipal de Almada, agora gerida pelo PS com o PSD, vira-lhes as costas e aproveita para fazer poupanças.
Enquanto grande parte da população do concelho sofre os impactos desta pandemia, empurrados para o desemprego – só em Janeiro os desempregados inscritos no Centro de Emprego de Almada ultrapassam os 6 mil, mais 25% do que em Janeiro do ano passado – , forçados a recorrer a apoio alimentar, forçados a recorrer a moratórias para pagarem o empréstimo à habitação ou o empréstimo à actividade económica, a sua Câmara Municipal, indiferente a todo este drama social e económico, faz poupanças e entrega à Banca 20 milhões para ela fazer o que quiser com esse dinheiro, não lhe cobrando nem um cêntimo por isso.
Faltam as palavras para classificar esta forma de fazer política!
Felizmente, Outubro vem já aí!
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