|Energia

Nos lucros dos oligopólios não se mexe

Face à subida dos preços, onde agora entra o argumento das sanções à Rússia, Bruxelas deu luz verde a apoios estatais dirigidos a empresas e indústrias com uso intensivo de energia. 

CréditosMPD01605 / CC BY-SA 2.0

A medida aprovada hoje pela Comissão Europeia deve vigorar até ao final do ano e prevê que os governos possam apoiar os grandes consumidores de energia até dois milhões de euros, limite que pode ser ultrapassado e chegar aos 50 milhões de euros no caso das indústrias electro-intensivas, como as produtoras de alumínio, pasta de papel, hidrogénio e produtos químicos, havendo ainda um tecto de 25 milhões para outros sectores. 

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Lucros e dividendos em alta em tempos de pandemia

A pandemia não travou os lucros da EDP, que aumentaram em 56% em 2020. A empresa vai distribuir aos accionistas 755 milhões de euros, um novo máximo em dividendos.

Logotipo da EDP (foto de arquivo)
CréditosAntónio Cotrim / LUSA

Durante o ano de 2020, marcado pela pandemia do novo coronavírus, a Energias de Portugal (EDP) teve um lucro de 801 milhões de euros, que representou um crescimento de 56% relativamente ao exercício anterior, anunciou a empresa em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), reportado pela Lusa.

O Conselho de Administração Executivo vai propor à assembleia-geral de accionistas a distribuição de um dividendo de 19 cêntimos por acção, igual ao que vem atribuindo de 2019. No entanto, o Jornal de Negócios faz notar que, em virtude do aumento de capital realizado no ano passado, o valor de dividendos a distribuir aos accionistas será por isso de 755 milhões de euros e consome 94% dos lucros do exercício.

A distribuição o ano passado, no mês de Abril, de dividendos no valor de 695 milhões de euros, representando 134% dos lucros obtidos pela EDP, ao mesmo tempo que a empresa mantinha congeladas as negociações com os sindicatos de uma nova tabela salarial, deu origem a uma forte pressão dos trabalhadores e influiu no estabelecimento de um acordo no mês seguinte.


Este ano, depois de uma reunião realizada no passado dia 17 de Fevereiro entre representantes dos trabalhadores e a administração da empresa, esta, segundo a Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas e Eléctricas (Fiequimetal/CGTP-IN), voltou a não dar quaisquer «sinais de querer valorizar os salários e os trabalhadores», apesar de serem estes a garantir o «funcionamento normal das empresas» do grupo, «ainda por cima no contexto da Covid-19».

A federação sindical apela à participação de todos os trabalhadores nas reuniões e plenários que estão a ser marcados, tendo como objectivo «discutir as medidas a tomar para contestar e rejeitar» a «postura inaceitável» da administração.

Também os trabalhadores que prestam serviço à EDP nos centros de contacto de Elvas, Lisboa e Seia estão em luta: esta terça-feira fizeram greve contra a precariedade a que estão sujeitos e por melhores condições de trabalho (ver caixa).

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Depois das ajudas estatais no âmbito da Covid-19, e que também beneficiaram sobretudo as grandes empresas, o objectivo passa agora por compensar as empresas pela subida dos preços do gás e da electricidade, até 30% dos custos elegíveis. 

Enquanto isso, as empresas de energia, que desde a liberalização do sector têm aumentado os preços a seu bel-prazer (e voltam a fazê-lo no próximo mês), têm agora maior margem de manobra para continuar a fazê-lo, mantendo os seus lucros intactos. 

Assim, ao mesmo tempo que o dinheiro público contribui para engordar grandes grupos económicos, não é dada prioridade a medidas que travem o galopante aumento do custo de vida que tanto penaliza as famílias, que irão continuar a despender uma fatia considerável do seu orçamento para suportar os preços cobrados pelas empresas de energia.

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