Em plenários realizados na Agora CCE, no sábado, e na Universidade Central do Equador, no domingo, o movimento indígena e os demais sectores mobilizados reafirmaram que a paralisação iniciada há duas semanas vai prosseguir.
O presidente da Conaie, Leonidas Iza, agradeceu a todos os que se mantêm mobilizados nas províncias e na capital do Equador, Quito, onde muitos habitantes têm estado a apoiar os manifestantes com alimentos e outros bens.
Iza avisou que os indígenas só vão regressar às suas comunidades quando a agenda proposta pelo organismo e outros sectores populares for respeitada, porque se trata de «questões sensíveis» para a população, nomeadamente a redução do preço dos combustíveis e dos bens de primeira necessidade, maiores benefícios para os agricultores, proibição da exploração mineira em territórios de povos originários.
Reconhecendo que o governo deu alguns passos – decretos para controlar a especulação, declaração de emergência na Saúde Pública, medidas favoráveis ao sector da Educação –, sublinhou que falta o mais importante, que são as questões relacionadas com os combustíveis, a mineração e o alto custo de vida.
O 11.º dia de protestos no Equador foi um dos mais violentos, com a Polícia a responder com grande violência aos manifestantes em Quito. Registou-se pelo menos um morto. Um «mau sinal» para o diálogo. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) denunciou, esta quinta-feira, a morte de um manifestante na capital do país sul-americano – o quarto desde o início dos protestos contra as políticas do governo de Guillermo Lasso, a 13 de Junho. O falecido foi identificado como Henry Quezada e a sua morte, causada por disparos policiais, ocorreu no Parque El Arbolito, nas imediações da Assembleia Nacional. Os manifestantes dirigiram-se para ali, ontem, à espera de que o órgão legislativo se pronunciasse sobre a actual situação no país, depois de a Conaie, em conjunto com várias outras organizações, ter declarado uma paralisação nacional por tempo indeterminado, denunciando que o governo mantém uma política de linha neoliberal e que não prestou atenção, em diversas ocasiões, às questões sociais e económicas que lhe foram colocadas. «Enquanto assassinarem o povo, não existem garantias», denunciou o organismo, que reclama ao executivo que cesse a repressão, para que possa haver diálogo, e que responda positivamente à agenda com dez pontos que lhe foi apresentada, com temas prementes para os agricultores, os indígenas, os trabalhadores de diversos sectores, os estudantes e as mulheres. A Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos também denunciou a quarta morte desde o início dos protestos e pediu uma investigação urgente ao caso por parte da Procuradoria Geral. Antes da repressão de ontem em El Arbolito, a Aliança registava três falecidos, 92 feridos e 94 detenções desde 13 de Junho, refere a TeleSur. Ontem, centenas de indígenas reuniram-se na Casa da Cultura, em Quito, e seguiram depois, em marcha e de forma pacífica, até à Assembleia Nacional. Nas imediações, a Polícia anti-motim recebeu-os com gás lacrimogéneo, criando uma nuvem de gás para dispersar os manifestantes. Seguiram-se confrontos que duraram pelo menos duas horas, enquanto o presidente da Conaie, Leonidas Iza, prestava declarações à comunicação social e descrevia o que se estava a passar como um «mau sinal». Um segundo manifestante foi morto, esta terça-feira, no contexto dos protestos contra as políticas governamentais que se registam no país sul-americano desde 13 de Junho. A Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazónia Equatoriana (Confeniae) revelou, ontem, que um manifestante indígena foi morto como consequência da repressão policial na província de Pastaza. A organização indígena responsabilizou o presidente equatoriano, Guillermo Lasso, pelo facto, tendo informado que o manifestante Byron Guatatuca foi atingido com um disparo à queima-roupa. Também a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) denunciou o aumento da repressão por parte das forças policiais e do Exército, depois de o presidente do Equador ter ampliado, na segunda-feira à noite, o estado de excepção a seis províncias – Pichincha, Imbabura, Cotopaxi, Chimborazo, Tungurahua e Pastaza –, numa tentativa de conter os protestos de duram há dez dias. De acordo com a Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos, desde 13 de Junho, no contexto das mobilizações de carácter nacional e por tempo indeterminado convocadas pela Conaie, registaram-se pelo menos 90 feridos e 87 detenções, indica a TeleSur. O organismo mostrou-se preocupado com o recrudescimento da «violência militar e policial contra aqueles que exercem o seu direito ao protesto e a resistir». A Conaie afirma que as mobilizações se vão manter até que o conjunto de dez reivindicações apresentado ao governo obtenha resposta positiva, sublinhando que, ao longo de 2021, o caderno foi mostrado ao executivo em três ocasiões, sem ter obtido a atenção desejada. A exigência de mais verbas para a Educação e a Saúde, a criação de empregos, a redução do preço dos combustíveis, o controlo dos preços, mais apoios à agricultura, a não privatização de sectores estratégicos da economia, impedir a flexibilidade laboral, entre outras questões, mantêm os indígenas e outras camadas da população nas ruas, também na capital, Quito. O chefe de Estado afirma que já respondeu de forma positiva a uma série de reivindicações e acusa os promotores da paralisação de quererem tirá-lo do poder e instalar o caos no país. O ministro da Defesa, Luis Lara, dirigiu-se à imprensa no mesmo sentido, afirmando que «as Forças Armadas não permitirão que se tente romper a ordem constitucional ou qualquer acção contra a democracia e as leis da República». Em conferência de imprensa, ontem, a organização mais destacada na organização do protesto que hoje entra no décimo dia mostrou-se disposta a dialogar com o governo equatoriano, depois de Guillermo Lasso lhes ter enviado uma missiva expressando a disponibilidade para participar numa mesa de diálogo. Leonidas Iza, presidente da Conaie, afirmou que os protestos são realizados por quem sente uma profunda crise desde a Covid-19 e actualmente não tem condições de vida. Lembrou que o diálogo falhou nos espaços onde devia ter prevalecido, mas que a Conaie e as outras organizações que participam nos protestos estão dispostas a abrir um espaço de discussão para encontrar soluções para as condições adversas em que vive a população e lhe restituir os direitos sociais espezinhados pela política económica. Para esse efeito, pediu garantias. Neste sentido, Iza pediu ao governo que acabe com as acções de repressão e revogue o estado de excepção decretado, lembrando que, desde o início das mobilizações, a estratégia do governo se baseou quase exclusivamente no uso da força e na escalada do discurso de ódio e estigmatização do movimento indígena. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Dirigindo-se aos manifestantes, pediu-lhes que regressassem à Casa da Cultura. «Esta marcha foi pacífica. Não deixemos que seja infiltrada por gente que está a causar estragos a esta luta, que está a causar danos a esta marcha», disse, citado pela Prensa Latina. Fora da capital, realizaram-se mobilizações e cortes de estrada em múltiplas províncias, sem registo de grandes incidentes e num clima de expectativa quanto à resposta do governo sobre as garantias solicitadas pela Conaie, para que as parte se possam sentar à mesa e negociar. Essa perspectiva parece agora mais distante, mas a Conaie insiste que o diálogo é possível desde que o governo garanta o fim das acções de repressão e de criminalização dos manifestantes, a revogação do estado de excepção declarado, e que não existam pontos «inviáveis», à partida, na discussão. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Equador: resposta de Lasso a pedidos de garantias foi mais repressão
Manifestação pacífica reprimida de forma violenta
Internacional|
Aumenta a repressão no Equador, mas também há perspectiva de diálogo
Conaie aceita dialogar, mas com garantias
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Neste sentido, pediu que se mantenha a «solidariedade entre todos». «Arriscámos a vida e a liberdade, mas vamos continuar nesta luta pelos dez pontos da agenda», clamou perante os manifestantes reunidos na capital.
«Não se confundam, se regressarmos, será com benefício para o povo. Se não houver isso, não nos vamos embora de Quito», insistiu, citado pela Prensa Latina.
Nos últimos dois dias, as jornadas de mobilização foram mais tranquilas, depois de 12 dias consecutivos de forte repressão policial e do Exército, bem como de acções violentas de elementos infiltrados nas manifestações.
Na sua conta de Twitter, a Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazónia Equatoriana (Confeniae) informou que até ontem, às 14h30, se registaram cinco mortos, oito desaparecidos, 280 feridos e 158 detenções, no âmbito da paralisação nacional e por tempo indeterminado, iniciada no passado dia 13.
Apelo à criação de corredores humanitários
Ontem, ao fim do dia, os movimentos indígenas pediram aos manifestantes mobilizados que contribuam para a criação de corredores humanitários, de modo que alimentos, ambulâncias e tudo o que for emergência possam chegar às pessoas.
«Esta luta continua pela nossa dignidade, pelos resultados, mas também pedimos, da maneira mais solidária, que garantam os corredores logísticos humanitários», disse Leonidas Iza, via vídeo.
O pedido foi feito pouco depois de uma conferência de imprensa em que o director do Sistema Integrado de Segurança ECU 911, Juan Zapata, falou de desabastecimento de alimentos e combustíveis em várias províncias, bem como da necessidade urgente de fazer chegar oxigénio hospitalar à cidade de Cuenca.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui