Rejeitando o aumento do preço de dois tipos de gasolina no Equador (Extra e Ecopaís) desde a sexta-feira passada, grupos de manifestantes incendiaram pneus em vários pontos das cidades de Quito e Guayaquil e cortaram diversas vias, esta terça-feira.
Dirigentes da Unión Nacional de Educadores (Une) e da Federación de Estudiantes Universitarios del Ecuador (Feue) pronunciaram-se nas redes sociais contra a medida governamental, sublinhando que o aumento de preço prejudica a vida de todos.
«Ontem, foi o IVA, hoje são os combustíveis, amanhã serão as taxas de juro da banca. Este 4 de Julho, mobilização em todo o país», escreveu a Une no Twitter (X).
Nery Padilla, presidente de la Feue Nacional, afirmou que o aumento do IVA não serviu para combater a insegurança, tal como o governo de Noboa anunciou, uma vez que, entretanto, aumentaram as extorsões e mortes violentas.
Em seu entender, «a subida do IVA e dos preços das gasolinas é um mecanismo para empobrecer o país».
O 11.º dia de protestos no Equador foi um dos mais violentos, com a Polícia a responder com grande violência aos manifestantes em Quito. Registou-se pelo menos um morto. Um «mau sinal» para o diálogo. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) denunciou, esta quinta-feira, a morte de um manifestante na capital do país sul-americano – o quarto desde o início dos protestos contra as políticas do governo de Guillermo Lasso, a 13 de Junho. O falecido foi identificado como Henry Quezada e a sua morte, causada por disparos policiais, ocorreu no Parque El Arbolito, nas imediações da Assembleia Nacional. Os manifestantes dirigiram-se para ali, ontem, à espera de que o órgão legislativo se pronunciasse sobre a actual situação no país, depois de a Conaie, em conjunto com várias outras organizações, ter declarado uma paralisação nacional por tempo indeterminado, denunciando que o governo mantém uma política de linha neoliberal e que não prestou atenção, em diversas ocasiões, às questões sociais e económicas que lhe foram colocadas. «Enquanto assassinarem o povo, não existem garantias», denunciou o organismo, que reclama ao executivo que cesse a repressão, para que possa haver diálogo, e que responda positivamente à agenda com dez pontos que lhe foi apresentada, com temas prementes para os agricultores, os indígenas, os trabalhadores de diversos sectores, os estudantes e as mulheres. A Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos também denunciou a quarta morte desde o início dos protestos e pediu uma investigação urgente ao caso por parte da Procuradoria Geral. Antes da repressão de ontem em El Arbolito, a Aliança registava três falecidos, 92 feridos e 94 detenções desde 13 de Junho, refere a TeleSur. Ontem, centenas de indígenas reuniram-se na Casa da Cultura, em Quito, e seguiram depois, em marcha e de forma pacífica, até à Assembleia Nacional. Nas imediações, a Polícia anti-motim recebeu-os com gás lacrimogéneo, criando uma nuvem de gás para dispersar os manifestantes. Seguiram-se confrontos que duraram pelo menos duas horas, enquanto o presidente da Conaie, Leonidas Iza, prestava declarações à comunicação social e descrevia o que se estava a passar como um «mau sinal». Um segundo manifestante foi morto, esta terça-feira, no contexto dos protestos contra as políticas governamentais que se registam no país sul-americano desde 13 de Junho. A Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazónia Equatoriana (Confeniae) revelou, ontem, que um manifestante indígena foi morto como consequência da repressão policial na província de Pastaza. A organização indígena responsabilizou o presidente equatoriano, Guillermo Lasso, pelo facto, tendo informado que o manifestante Byron Guatatuca foi atingido com um disparo à queima-roupa. Também a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) denunciou o aumento da repressão por parte das forças policiais e do Exército, depois de o presidente do Equador ter ampliado, na segunda-feira à noite, o estado de excepção a seis províncias – Pichincha, Imbabura, Cotopaxi, Chimborazo, Tungurahua e Pastaza –, numa tentativa de conter os protestos de duram há dez dias. De acordo com a Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos, desde 13 de Junho, no contexto das mobilizações de carácter nacional e por tempo indeterminado convocadas pela Conaie, registaram-se pelo menos 90 feridos e 87 detenções, indica a TeleSur. O organismo mostrou-se preocupado com o recrudescimento da «violência militar e policial contra aqueles que exercem o seu direito ao protesto e a resistir». A Conaie afirma que as mobilizações se vão manter até que o conjunto de dez reivindicações apresentado ao governo obtenha resposta positiva, sublinhando que, ao longo de 2021, o caderno foi mostrado ao executivo em três ocasiões, sem ter obtido a atenção desejada. A exigência de mais verbas para a Educação e a Saúde, a criação de empregos, a redução do preço dos combustíveis, o controlo dos preços, mais apoios à agricultura, a não privatização de sectores estratégicos da economia, impedir a flexibilidade laboral, entre outras questões, mantêm os indígenas e outras camadas da população nas ruas, também na capital, Quito. O chefe de Estado afirma que já respondeu de forma positiva a uma série de reivindicações e acusa os promotores da paralisação de quererem tirá-lo do poder e instalar o caos no país. O ministro da Defesa, Luis Lara, dirigiu-se à imprensa no mesmo sentido, afirmando que «as Forças Armadas não permitirão que se tente romper a ordem constitucional ou qualquer acção contra a democracia e as leis da República». Em conferência de imprensa, ontem, a organização mais destacada na organização do protesto que hoje entra no décimo dia mostrou-se disposta a dialogar com o governo equatoriano, depois de Guillermo Lasso lhes ter enviado uma missiva expressando a disponibilidade para participar numa mesa de diálogo. Leonidas Iza, presidente da Conaie, afirmou que os protestos são realizados por quem sente uma profunda crise desde a Covid-19 e actualmente não tem condições de vida. Lembrou que o diálogo falhou nos espaços onde devia ter prevalecido, mas que a Conaie e as outras organizações que participam nos protestos estão dispostas a abrir um espaço de discussão para encontrar soluções para as condições adversas em que vive a população e lhe restituir os direitos sociais espezinhados pela política económica. Para esse efeito, pediu garantias. Neste sentido, Iza pediu ao governo que acabe com as acções de repressão e revogue o estado de excepção decretado, lembrando que, desde o início das mobilizações, a estratégia do governo se baseou quase exclusivamente no uso da força e na escalada do discurso de ódio e estigmatização do movimento indígena. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Dirigindo-se aos manifestantes, pediu-lhes que regressassem à Casa da Cultura. «Esta marcha foi pacífica. Não deixemos que seja infiltrada por gente que está a causar estragos a esta luta, que está a causar danos a esta marcha», disse, citado pela Prensa Latina. Fora da capital, realizaram-se mobilizações e cortes de estrada em múltiplas províncias, sem registo de grandes incidentes e num clima de expectativa quanto à resposta do governo sobre as garantias solicitadas pela Conaie, para que as parte se possam sentar à mesa e negociar. Essa perspectiva parece agora mais distante, mas a Conaie insiste que o diálogo é possível desde que o governo garanta o fim das acções de repressão e de criminalização dos manifestantes, a revogação do estado de excepção declarado, e que não existam pontos «inviáveis», à partida, na discussão. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Equador: resposta de Lasso a pedidos de garantias foi mais repressão
Manifestação pacífica reprimida de forma violenta
Internacional|
Aumenta a repressão no Equador, mas também há perspectiva de diálogo
Conaie aceita dialogar, mas com garantias
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Por seu lado, o presidente da Une, Andrés Quishpe, afirmou que o aumento do preço da gasolina responde a acordos firmados com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e implica aumentar o custo de vida, bem como condenar mais equatorianos à pobreza.
O FMI ordena, o governo de Noboa cumpre e corta verbas na saúde e educação, entre outros sectores, frisou Quishpe, em alusão a um acordo entre o organismo e o governo em troca de um empréstimo, refere o portal almaplus.tv.
Quishpe disse ainda que os protestos realizados esta terça-feira são só um «aquecimento» para a «grande mobilização nacional» de amanhã, com protestos nas 24 províncias do país sul-americano.
Segundo refere a almaplus.tv, as gasolinas Extra e Ecopaís passaram de 2,46 para 2,72 dólares, depois de o governo ter eliminado os subsídios. A partir de 11 de Julho, o preço poderá aumentar no máximo 5% ou descer no máximo 10% por mês, consoante a variação do preço internacional do petróleo e dos combustíveis.
O presidente do Equador, Lenín Moreno, decretou esta quinta-feira o estado de excepção, face às mobilizações em todo o território nacional contra as medidas económicas aprovadas pelo executivo. As paralisações desta quinta-feira fizeram-se sentir sobretudo no sector dos Transportes, já que uma das medidas incluídas no «pacote neoliberal» que Moreno anunciou no passado dia 1 – bastante criticada pela população – diz respeito à eliminação do subsídio estatal à gasolina especial e ao gasóleo. Assim, taxistas, condutores de empresas de transporte urbano e provincial, de autocarros escolares e de camiões pararam as suas actividades e participaram em mobilizações, a que se associaram organizações sociais, sindicatos, trabalhadores de diversos sectores e estudantes, na capital, Quito, e noutras cidades do país andino, informa a Prensa Latina. O pacote anunciado por Moreno, que se enquadra num conjunto de medidas económicas acordadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), prevê ainda o corte de 20% em remunerações em contratos temporários renovados, a redução do número de dias de férias para os funcionários públicos e a imposição, aos trabalhadores de empresas públicas, do desconto de um dia de salário mensal, refere a mesma fonte. Este pacote ao gosto do FMI, que o executivo equatoriano caracteriza como «para bem da economia» e com o qual pretende «poupar» 1400 milhões de dólares por ano, teve como resposta uma onda de mobilizações. Além de transportes parados e escolas encerradas, registaram-se inúmeros bloqueios de estradas com pneus queimados em vários pontos do país, houve cargas policiais em Quito e foram destacados militares para a sede do governo, o Palácio de Carondelet. Perante este cenário, o presidente equatoriano decretou o estado de excepção, alegando que, com tal medida, pretende «salvaguardar a segurança dos cidadãos e evitar o caos». Antes de o decreto da situação de excepcionalidade, a nível nacional, ser anunciado, vários ministros reafirmaram, em declarações à comunicação social, que as medidas do «paquetazo» não irão ser alteradas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Fortes protestos no Equador contra o «paquetazo» neoliberal de Moreno
Contribui para uma boa ideia
O executivo de Noboa atribuiu uma compensação económica a donos de táxis e proprietários de outras viaturas de transporte público para evitar o aumento do preço das tarifas, mas a medida é vista como insuficiente para evitar um efeito dominó no custo de vida.
Recorde-se que organizações sindicais, sociais, estudantis, de indígenas e diversos sectores se manifestaram nas ruas do país em Outubro de 2019 e Junho de 2022, com paralisações prolongadas em protesto contra a agenda neoliberal dos então presidentes Lenín Moreno e Guillermo Lasso, que também pretendiam eliminar os subsídios dos combustíveis.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui