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MEO «defende» os direitos dos trabalhadores no Catar e ataca-os em Portugal

A hipocrisia não tem limites. A MEO solidariza-se com os trabalhadores do Catar, mas os sindicatos portugueses acusam a Altice (proprietária da MEO) de «terror laboral».

Créditos / Altice

A MEO, em conjunto com a Amnistia Internacional, protagoniza uma operação publicitária de apoio aos trabalhadores do Catar, onde se pede aos portugueses para oferecerem um euro e «por cada euro doado a MEO doa outro».

Um anúncio que passa nas televisões, certamente perante a estupefacção dos trabalhadores do grupo Altice/MEO, e não só, face a este verdadeiro exercício de hipocrisia de uma empresa que, alegadamente, se mostra solidária com os direitos dos trabalhadores do Catar, mas que, em Portugal, promove o despedimento e o «brutal ataque» aos direitos dos seus.

O grupo Altice/MEO já despediu milhares de trabalhadores, mas no referido anúncio alega que «temos de ser mais humanos», referindo-se à forma como são tratados os trabalhadores no Catar. Entretanto, milhares de trabalhadores, a maioria imigrantes, fazem o serviço técnico da PT/MEO/Altice depois dos despedimentos dos efectivos.

No início deste ano, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisuais chamava a atenção para o facto de os seis mil funcionários da Intelcia (empresa responsável pelas áreas de apoio ao cliente e apoio comercial do grupo Altice, que detém cerca de 65% do capital da empresa), não estarem abrangidos por um Acordo Colectivo de Trabalho (ACT), mas antes pela prática generalizada de pagamento de salários mínimos, mesmo para os que trabalham há mais de 20 anos no grupo. Segundo os sindicatos, houve a tentativa de incluir a Intelcia nas duas últimas negociações do ACT com a MEO, reivindicação que foi rejeitada pela administração.

Recentemente, a Frente Sindical reclamou «aumentos salarias intercalares de 50 euros para cada trabalhador e que o salário mais baixo na empresa tivesse o valor de 850 euros, com efeitos a 1 de Julho», proposta que a Altice recusou.

A estrutura denuncia, por um lado, o que considera ser «as inúmeras malfeitorias», nomeadamente a retirada de direitos, a recusa em alterar salários para valores minimamente justos, «pressão e repressão exercida sobre os trabalhadores», despedimento colectivo e «o brutal e desumano ataque aos planos de saúde». E, por outro, os baixos salários, afirmando que «uma grande parte dos salários rondam o salário mínimo», uma «dura realidade, numa empresa de alta tecnologia, em que os trabalhadores têm de ser altamente qualificados para poderem responder aos desafios profissionais».

Entretanto, os sindicatos convocaram uma acção nacional de protesto, para 9 de Dezembro, motivada pela exigência de aumentos salariais e pelo «brutal ataque» aos direitos dos trabalhadores beneficiários dos planos de saúde da Altice, considerando que a empresa se propõe impor, a partir de 1 de Janeiro de 2023, um «agravamento significativo nos copagamentos a cargo dos beneficiários» e de exclusão de variados actos médicos dos planos de saúde.

Reza o tal anúncio da parceria MEO/Amnistia Internacional: «Não nos vamos esquecer dos trabalhadores do Catar e das suas famílias.» Só é pena que o grupo Altice/MEO não se lembre dos direitos dos seus trabalhadores, que, pelos vistos, vai espezinhando.

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