No âmbito da paralisação nacional iniciada a 4 de Janeiro, os «provincianos» que têm andado a denunciar o golpe, a exigir a demissão de Dina Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas e uma Assembleia Constituinte vieram de regiões como Apurímac, Cusco, Huancavelica, Arequipa, Puno, Ayacucho, entre outras.
Os convocantes chamaram-lhe «Marcha de los Cuatro Suyos» até Lima, num contexto em que também a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e a Assembleia Nacional dos Povos (ANP) convocaram para esta quinta-feira uma jornada de greve e mobilização nacional.
Diversos grupos de manifestantes vindos de fora e os residentes na capital desfilaram de forma pacífica com bandeiras nacionais e indígenas, bem como com cartazes e faixas a patentear as suas exigências. [Vídeo: na Praça 2 de Maio]
A certa altura, refere a TeleSur, elementos da Polícia, que apareceram na manifestação em carros blindados, começaram a lançar bombas de gás lacrimogéneo, sem que se registasse violência ou distúrbios.
Outro facto apontado pela fonte é que o enorme dispositivo policial formava barreiras para impedir a passagem dos manifestantes, dividindo-os.
O nono dia consecutivo de greves e mobilizações ficou marcado por uma grande manifestação em Lima, detenções de dirigentes sociais em Ayacucho e a demissão do ministro do Trabalho do governo de facto. O número de vítimas mortais nos protestos subsequentes à destituição de Pedro Castillo, a 7 de Dezembro último, subiu para 48, depois de as autoridades de medicina legal terem confirmado a morte de um adolescente – atingido com uma bala na cabeça – no departamento de Puno, ontem à tarde. Também confirmaram que todas as vítimas do massacre de Juliaca, perpetrado dia 9 naquele departamento andino, faleceram com impactos de bala. Na véspera, um outro jovem faleceu nos protestos contra o governo de Boluarte, na cidade de Cusco, onde a Polícia reprimiu de forma violenta as manifestações que ali tiveram lugar. Há ainda registo de pelo menos 56 feridos e de mais de uma dezena de detenções. Ontem, houve manifestações, em ambiente de grande tensão, em vários pontos da região sul-andina, nomeadamente nos departamentos de Puno, Cusco, Moquegua, Madre de Dios, Arequipa, Apurímac, Tacna e Ayacucho. Houve ainda cortes de estradas em múltiplas províncias do país sul-americano. Até ao meio-dia, a Superintendência de Transporte Terrestre de Pessoas, Carga e Mercadorias (Sutran) registou 78 bloqueios em dez regiões. Em Ayacucho, foram detidos três dirigentes sociais, um dos quais dirigente da Frente de Defesa do Povo de Ayacucho, alertou a Coordenadora Nacional de Direitos Humanos, informando que tinham acabado de participar num acto cultural na Casa do Professor. No passado dia 4 de Janeiro, teve início no Peru uma greve por tempo indeterminado, no âmbito da qual organizações sociais e sindicais exigem a demissão de Boluarte, o encerramento do Congresso, eleições antecipadas já em 2023, uma Assembleia Constituinte, uma nova Constituição, e a libertação do ex-presidente Pedro Castillo, que se encontra detido. Esta greve dá sequência aos protestos iniciados logo que o Congresso destituiu Castillo, a 7 de Dezembro, e empossou a até então vice-presidente, Dina Boluarte, como nova presidente da República – a que os manifestantes chamam «traidora» e, mais recentemente, «assassina». Na capital do país, milhares de trabalhadores [vídeo] responderam ao apelo da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) e manifestaram-se pelo centro da cidade gritando palavras de ordem contra Boluarte. Num comunicado emitido ontem, anterior à manifestação, a CGTP não atribui qualquer crédito ao voto de confiança que o Congresso, «cúmplice dos actos criminosos do regime», deu ao «gabinete ministerial da ditadura cívico-militar-empresarial de Dina Boluarte». Reafirmando que vai continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores, a central sindical diz que «persistirá na luta democrática, juntamente com os trabalhadores e as organizações sociais de todo o país, pela demissão de Dina Boluarte, eleições antecipadas imediatas e um referendo por uma nova Constituição». Centenas de polícias, refere a TeleSur, acompanharam a mobilização, formando muralhas humanas em torno dos manifestantes, mas os episódios de repressão, ao contrário de outras ocasiões, foram esporádicos. Neste contexto, a Federação Sindical Mundial fez um apelo à solidariedade com o povo e os trabalhadores do Peru, lembrando o papel assumido pela direita no país sul-americano, a grande mobilização popular em defesa da democracia e condenando «a criminosa política neoliberal» pela «forte repressão e violência». Confrontado com protestos que teimam em não parar, o primeiro-ministro, Alberto Otárola, afirmou que a presidente do governo de facto – que tem o apoio da Embaixada dos EUA em Lima – não se vai demitir, e defendeu a forma de actuar da Polícia e das Forças Armadas nas manifestações, dizendo que as mortes são da responsabilidade de quem atacou o Estado. Quem deixou de alinhar com esta versão foi o ministro do Trabalho, Eduardo García, ao assumir a impopularidade do Congresso, que as eleições não podem ser só em 2024 e que as mortes dos «irmãos» na região sul-andina são uma «tragédia», indica a Prensa Latina. É o terceiro ministro a abandonar o executivo golpista. Entretanto, um grupo de juristas revelou que está juntar provas para fundamentar uma queixa contra a presidente Boluarte, que apontam como principal responsável pelo «assassinato» de quase meia centena de manifestantes desde o início dos protestos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Protestos generalizados contra o governo golpista no Peru
Grande manifestação em Lima
Primeiro-ministro defende a «mão-de-ferro»
Contribui para uma boa ideia
Com a passagem do dia, alguns grupos conseguiram juntar-se, formando uma enorme multidão a que também se uniu a marcha do movimento sindical, convocada pela CGTP e as organizações que integram a ANP – que classificaram como «contundente» a adesão à paralisação nacional esta quinta-feira.
Entretanto, encurralados pelas barreiras policiais e pelo gás lacrimogéneo, alguns grupos atiraram pedras à Polícia, e o centro de Lima tornou-se o cenário de uma «batalha campal», refere a Prensa Latina.
No resto do país, ontem multiplicaram-se as mobilizações de protesto e as greves, e o número de bloqueios nas estradas chegou a 127, em 44 províncias.
Entretanto, os responsáveis da Saúde do governo regional de Arequipa confirmaram que, esta quinta-feira, uma pessoa foi morta a tiro, quando um grupo de manifestantes tentava tomar de assalto o aeroporto local.
O número de pessoas mortas pelas forças de segurança desde o início dos protestos no Peru, a 7 de Dezembro de 2022, sobe para 44, de acordo com os dados da Provedoria de Justiça.
A estes, juntam-se outros nove em acções ou incidentes ligados aos protestos, pelo que se registam pelo menos 53 mortes durante as manifestações contra o Congresso e a presidente da República, Dina Boluarte, que assumiu o cargo quando o Parlamento destituiu Pedro Castillo.
Boluarte volta a acusar os manifestantes
Respondendo na TV à grande mobilização, que quebrou pela força, a presidente de facto do Peru reafirmou que não se vai demitir, disse que o seu governo está unido e voltou a catalogar as manifestações como acções de vandalismo e de delinquência, responsáveis pela agitação social no país sul-americano.
Disse ainda que é preciso diálogo e, em simultâneo, ameaçou os manifestantes com «todo o peso da Lei» em todo o país.
Os apoios e os interesses norte-americanos
Do que Boluarte não falou foi do forte apoio que a embaixadora norte-americana no país, a ex-CIA Lisa Kenna, deu ao golpe e ao governo golpista.
O jornalista Ben Norton, no portal geopoliticaleconomy.com, lembra que o Peru tem largas reservas de cobre, ouro, zinco, prata, chumbo, ferro e gás natural, e que Kenna se tem reunido regularmente com figuras de proa do governo de facto peruano.
No passado dia 18, teve uma reunião com o ministro da Energia e Minas, tendo discutido oportunidades de «investimento» e planos para «desenvolver» e «expandir» as indústrias extractivas.
Além dos EUA, recorda o jornalista norte-americano, a Europa também tem muito interesse nos recursos peruanos, estando a importar, nomeadamente, gás natural liquefeito para substituir o gás russo, no contexto do boicote imposto pela UE à importação de energia russa por causa da guerra entre a NATO e a Rússia na Ucrânia.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui