|Imperialismo

20 anos depois do frasco de Powell, EUA continuam a espalhar «mentiras»

Faisal Mekad, ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, denunciou este domingo que os EUA promovem contra o seu país as mesmas mentiras que usaram há 20 anos para invadir o Iraque.

Colin Powell no Conselho de Segurança da ONU, a 5 de Fevereiro de 2003 
Créditos / Twitter

«Num dia como hoje, há 20 anos, […] o então secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, montou uma cena de manipulação e mentiras no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a posse de armas de destruição massiva pelo Iraque para justificar a sua invasão», escreveu o ministro na sua conta no Twitter.

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A guerra do Iraque começou a 20 de Março de 2003

A mão portuguesa nos 15 anos de destruição do Iraque

Há 15 anos, as bombas começaram a cair sobre o Iraque e as tropas norte-americanas e britânicas iniciam a invasão terrestre. Apesar das denúncias e do amplo movimento contra a guerra em Portugal, o governo do PSD e do CDS-PP foi cúmplice da destruição que se seguiu.

Manifestação contra a guerra do Iraque, que viria a desencadear-se pouco mais de um mês depois, em Lisboa, com a presença, ao centro, de Carlos Carvalhas e Mário Soares. 15 de Fevereiro de 2003
Créditos

As operações militares sobre o território iraquiano tiveram início a 20 de Março de 2003, depois de largos meses de preparativos, que culminaram na cimeira em que, quatro dias antes, o primeiro-ministro português, Durão Barroso, recebeu os homólogos José María Aznar (Espanha), Tony Blair (Reino Unido) e George Bush (Estados Unidos da América) na base militar que os norte-americanos ainda mantêm nas Lajes (Açores).

Mas a guerra estava já decidida há muito e prova disso são os alertas que precederam a chegada das bombas e das tropas ao terreno. Em Janeiro desse ano foi marcada a manifestação «Juntos podemos impedir a guerra», que teve lugar em várias capitais europeias, nomeadamente em Lisboa. A 15 de Fevereiro, milhares de pessoas desfilaram pela Baixa lisboeta com um propósito: travar a guerra antes que comece.

À acção, promovida pelo PCP, viriam a associar-se figuras do PS, como Mário Soares e Manuel Alegre, e do BE, como Francisco Louçã e Fernando Rosas.

Durão e Portas, agentes da guerra de agressão

A postura de subserviência do governo português perante o que se cozinhava entre os EUA e o Reino Unido – a entrada no Iraque com o pretexto que viria a ficar célebre das «armas de destruição massiva» – marcou a vida política nacional durante os primeiros meses de 2003. Durão Barroso e Paulo Portas, seu ministro da Defesa, foram dos mais fiéis acólitos do imperialismo norte-americano, subscrevendo posições que pretendiam isolar a França e a Alemanha, que se opunham às pretensões belicistas (Janeiro); acedendo ao pedido dos EUA para a deslocação de tropas para a Turquia (Fevereiro); acolhendo a cimeira da guerra (Março).

O governo do PSD e do CDS-PP foi sendo, ao longo desses meses, sucessivamente confrontado, nomeadamente na Assembleia da República, com o crime em preparação. Entre o direito internacional, o caminho da paz e a fidelidade ao aliado norte-americano, Durão Barroso e Paulo Portas escolheram o último. Viriam a enfrentar quatro moções de censura, a primeira apresentada nos dias que intermediaram a cimeira das Lajes e o início da guerra, pelo PCP. As iniciativas – do PS, do PCP, do PEV e do BE – foram todas chumbadas pela maioria de que o PSD e o CDS-PP dispunham no Parlamento e, no caso das últimas três, também de alguns deputados do PS, já a 26 de Março.

A recompensa dos lacaios

Os 15 anos que se seguiram vieram revelar de que lado da História ficaram os que então tocaram os tambores da guerra. O Iraque continua longe de recuperar dos efeitos devastadores da invasão e ocupação, e a desestabilização de toda a região levou ao recrudescimento da ofensiva israelita sobre o povo palestiniano, à destruição da Líbia e à ofensiva sobre a Síria. Da promessa de erradicação do terrorismo sobrou a proliferação de grupos como o Daesh.

Os responsáveis portugueses viriam a ser recompensados. Durão Barroso é promovido a presidente da Comissão Europeia pouco mais de um ano depois e, actualmente, encontrou abrigo na gigante da finança Goldman Sachs, atingindo o topo da hierarquia no sinistro grupo de Bilderbeg. Paulo Portas, depois de um compasso de espera, chegaria a vice-primeiro-ministro já com a troika e, tal como o antigo chefe, hoje dedica-se aos negócios.

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Mekdad acrescentou que, naquele momento, Powell apresentou gravações de áudio, imagens de satélite, testemunhos e documentos, que disse serem provas irrefutáveis e não especulação, tendo mostrado inclusive um pequeno frasco que alegadamente continha substâncias biológicas produzidas por Bagdade e que podiam matar dezenas de milhares de pessoas.

«Claro, tornou-se evidente para o mundo que tudo o que Powell apresentou eram meras mentiras sem fundamento», escreveu o diplomata sírio, recordando que, posteriormente, o próprio Powell «descreveu aquilo que disse perante o Conselho de Segurança como uma "vergonha"».

«Infelizmente, o Iraque foi invadido com base nessas mentiras, e todos sabem os resultados desastrosos deixados por essa invasão, os crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pelas forças dos EUA e seus aliados», denunciou Mekdad.

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Carta interna da OPAQ revela relatório «deturpado» sobre «ataque químico» na Síria

Um membro da Organização para a Proibição de Armas Químicas põe em causa a versão redigida do relatório sobre um suposto ataque químico em Douma, em Abril de 2018, porque «deturpa os factos».

Defesa anti-aérea síria em acção na madrugada deste sábado
Defesa anti-aérea síria em acção, quando dos ataques «pós-Douma» das potências ocidentais, em Abril de 2018 Créditos / Twitter

No passado dia 23, o WikiLeaks divulgou o e-mail que um especialista da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) enviou a esta organização das Nações Unidas a 22 de Junho de 2018, pouco mais de dois meses e meio depois de um suposto ataque químico na cidade síria de Douma (arredores de Damasco), anunciado ao mundo pelos chamados Capacetes Brancos.

O autor da mensagem – que integrava a missão de investigação da OPAQ no terreno e cuja identidade não é revelada – dirigiu-se a Robert Fairweather, chefe de gabinete no organismo, ao seu adjunto, Aamir Shouket, e outros membros da missão.

De acordo com o autor da mensagem, a versão redigida do relatório distorce os factos que ele e os seus colegas observaram no terreno. «Muitos dos factos e observações traçados na versão completa estão ligados de forma confusa», denuncia, acrescentando que, por via «da «omissão selectiva de [factos], foi introduzido no relatório um elemento de parcialidade, que mina a sua credibilidade». Afirmou ainda que alguns elementos «cruciais» que podem ser apreciados na versão redigida «se transformaram em algo de bastante diferente por comparação com o texto original».

Divergências «particularmente preocupantes»

O «ataque a Douma» de 7 de Abril de 2018 foi quase de imediato atribuído às forças do Exército Árabe Sírio, tomando como base as informações divulgadas pelos terroristas no terreno e a organização pretensamente humanitária dos Capacetes Brancos – amplamente desmascarada pelas ligações à Al-Qaeda e às potências ocidentais.

EUA, Reino Unido e França nem sequer esperaram que a equipa de investigação das Nações Unidas chegasse ao local: decidiram que Bashar al-Assad era culpado, que os «cilindros com cloro» tinham sido atirados do ar, e lançaram vários ataques contra o país levantino uma semana depois, a 14 de Abril.

O informe redigido pela OPAQ parece apoiar estas conclusões favoráveis aos agressores à Síria, mas o autor do e-mail destaca diversos elementos «particularmente preocupantes» no documento.

Sobre a frase, incluída no relatório, de que a equipa de especialistas dispunha de «provas suficientes» de que «cloro ou outro químico que contém cloro» foi usado na zona, o autor da carta sublinhou que houve apenas provas de que as amostras recolhidas naquele território «entraram em contacto com um ou mais químicos que contêm o átomo do cloro reactivo», e afirmou que podiam ser diversas substâncias, incluindo o hipoclorito de sódio, que é «o ingrediente principal da lixívia doméstica». «Apontar propositadamente o gás de cloro como uma das possibilidades não é ingénuo», sublinhou.

A versão redigida do informe da OPAQ refere que o gás provinha provavelmente de cilindros, embora na versão original os especialistas tivessem destacado que essa era apenas uma das possibilidades e que não havia provas suficientes para a defender. «Isto é um dos maiores desvios do relatório original», escreveu o autor do e-mail.

Incoerência entre vídeos e testemunhos

Uma das «provas» do «ataque», amplamente divulgadas pelas televisões mundo afora, foi um vídeo em que, alegadamente, se podiam ver sintomas das pessoas afectadas. No entanto, destaca o autor da mensagem, há uma «incoerência» entre o que se mostra e os relatos das «testemunhas», aquilo que elas disseram ter visto naquele dia.

Esta divergência foi abordada no informe original, mas aparentemente eliminada da versão redigida pela OPAQ. «A omissão desta secção do relatório […] tem um impacto seriamente negativo no relatório, já que a secção está inextricavelmente legada ao agente químico identificado», disse.

Além disso, refere, a versão redigida não tem a parte em que se procedia à análise da localização e do estado dos cilindros que alegadamente continham o químico, bem como a «eventual inconsistência» da informação que apontava para o lançamento dos cilindros a partir do ar, tendo em conta os danos causados nas áreas circundantes.

Neste sentido, o especialista considera que, após as alterações sofridas, o relatório «já não reflecte o trabalho da equipa» e solicita a publicação da versão completa.

O especialista em temas internacionais Abu Faisal Sergio Tapia comentou a publicação do WikiLeaks, tendo afirmado que o relatório final da OPAQ «se ajusta aos interesses do Reino Unido, dos EUA e da França», que a 14 de Abril de 2018 bombardearam a Síria, refere a Prensa Latina.

Por seu lado, Damasco e Moscovo defendem que o caso de Douma foi uma «montagem» para justificar os ataques do Ocidente, num momento em que as forças do Exército Árabe Sírio e seus aliados materializavam grandes avanços e conquistas na luta contra os grupos terroristas na cidade da província damascena.

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O ministro sírio dos Negócios Estrangeiros sublinhou que, actualmente, são promovidas as mesmas manipulações, a mesma desinformação e as mesmas mentiras para atacar a Síria, com um pretexto semelhante, o da alegada posse e utilização de armas químicas.

Assim, o chefe da diplomacia síria pediu ao mundo que aprenda com o passado, de modo a não permitir que os Estados Unidos e os seus satélites França, Reino Unido e Alemanha voltem a realizar esta manipulação e para evitar que, com base em acusações frágeis, justifiquem a ingerência nos assuntos de outros países, minando a sua segurança, estabilidade e prosperidade.

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