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O BE em Kiev: convicção ou oportunismo?

O BE invocou os direitos humanos para não integrar uma visita do Presidente da República à China, mas integrou a delegação da Assembleia da República que visitou um parlamento amordaçado.

A delegação portuguesa que visitou a Ucrânia foi encabeçada pelo Presidente da Assemebleia da República e integrava BE, PS, IL e PSD.
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Na passada quarta-feira, na Assembleia da República, no âmbito da discussão sobre as leis de Programação Militar e das Infraestruturas Militares, uma deputada bloquista insurgia-se contra «o militarismo da NATO». Nesse mesmo dia, outra deputada do BE participava em Kiev, integrada numa delegação parlamentar portuguesa, numa iniciativa onde se teciam loas à NATO e se manifestava apoio à Ucrânia na sua tentativa de aderir à Aliança Atlântica. Isto é, o BE, ao mesmo tempo que demonizava a NATO em Lisboa branqueava-a em Kiev.

Esta delegação da Assembleia da República, chefiada por Santos Silva e integrada por deputados do PS, PSD, IL e BE, deslocou-se a Kiev a convite do parlamento ucraniano, onde participou numa sessão solene.

Acontece que, depois de ilegalizar o Partido Comunista da Ucrânia, Zelensky proibiu 11 partidos políticos, do centro à esquerda, incluindo o maior partido da oposição. A extrema-direita, por seu lado, não viu e não vê qualquer restrição à sua actividade.

Um dos partidos ilegalizados, a Plataforma de Oposição - Pela Vida, que ficou em segundo lugar nas eleições de 2019, com 13,05% dos votos e 43 deputados, denunciou publicamente a invasão da Rússia e incitou à participação nas milícias de defesa do país.

Para além da Plataforma de Oposição - Pela Vida, também os partidos Sharia, Nosso, Bloco de Oposição, Oposição de Esquerda, União das Forças de Esquerda, Estado, Partido Socialista Progressista da Ucrânia, Partido Socialista, Socialistas (em Fevereiro de 2022 festejaram a maioria absoluta de António Costa) e Bloco de Volodymyr Saldo, foram também ilegalizados.

O Bloco de Esquerda participou nesta encenação, num parlamento sem deputados da oposição, impedidos de cumprir a sua função principal numa democracia: exercer a representação política dos seus eleitores.

Este BE, que não corou de vergonha por visitar um parlamento ucraniano amordaçado, é o mesmo que não quis participar nas cerimónias oficiais com o Presidente chinês quando este visitou Portugal e se recusou a integrar a comitiva de Marcelo Rebelo de Sousa na sua visita à China, alegando a «violação dos direitos humanos». 

O mesmo partido que critica o que designa ser a cleptocracia angolana e afirma não defender «os regimes da China, Venezuela ou Cuba», não corou de vergonha ao sentar-se num parlamento onde apenas é permitido ssento aos deputados da direita e da extrema-direita.

A extrema-direita, populista, racista e xenófoba, não medra apenas no terreno das políticas que fomentam a pobreza, dos políticos que não cumprem o que prometem e da corrupção. A extrema-direita, alimenta-se também da incoerência e do oportunismo político, nomeadamente dos que, politicamente, navegam ao sabor do vento e da corrente da chamada opinião pública e publicada.

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