Natal é um acontecimento social festivo universalmente praticado, pelos cristãos e não-cristãos, independentemente de qualquer credo religioso. É o «tempo» de todos os cidadãos do mundo – tanto os que o celebram, como os que não o podem celebrar –, mas no qual todos anseiam pela PAZ, CONCÓRDIA e SOLIDARIEDADE ENTRE OS SERES HUMANOS.
Foi, por isso, surpreendente e assombroso o discurso do Sr. Mark Rutte – secretário-geral da NATO, no Carnegie Europe, em Bruxelas, no dia 12.12.2024. Eis alguns chavões:
* se quisermos segurança para os nossos filhos e netos devemos adotar uma mentalidade de guerra e estar preparados para um conflito de longo prazo;
* o apelo aos cidadãos dos países que compõem a NATO para «fazer sacrifícios, envolvendo cortes nas pensões, abdicando de sistemas de saúde e de segurança social, tudo em homenagem ao princípio peregrino de ‘paz através de força»;
* o clamor emotivo de «sem segurança não há liberdade para os nossos filhos e netos, não há escolas, não há hospitais, não há negócios. Não há nada», não faltando diretrizes para o investimento, como, «instruir os bancos e fundos pensionistas para investir na indústria de defesa» – «defesa», entenda-se «guerra»;
* o lamento de alcance economicista, «a nossa indústria de defesa tem sido decapitada devido a décadas de sub-investimento e de atrofia dos interesses da indústria nacional»… «deem às nossas indústrias grandes contratos de longa duração de que necessitam para rapidamente produzir mais e melhores capacidades»;
* «Para prevenir a guerra, [a] NATO tem de gastar mais»;
* «Ele [Putin] está a esmagar a nossa liberdade e modo de vida». «[A] Rússia está a preparar uma confrontação de longa duração»;
* «A guerra é brutal e feia». «De momento não existe perigo para os nossos 32 aliados porque [a] NATO tem vindo a transformar-se para nos deixar mais seguros».
Começaríamos por indagar: Se a guerra é brutal e feia, porque adotarmos uma mentalidade de guerra em pleno século XXI? Do acima exposto, e independentemente da natureza algo contraditória que as frases comportam quando comparadas entre si, da flagrante inclinação e apelo para um forçado desenvolvimento da indústria armamentista, e de um manifesto desrespeito pelos direitos que a condição humana, urge significar o seguinte:
A NATO compõe-se de 32 nações. Em termos geográficos, o Atlântico do Norte não abrange tantos países. Significa isto que esta instituição tem vindo a expandir-se para além dos limites para que inicialmente estava prevista. Surgiu em 1949 para fazer face à expansão do comunismo e ao seu formato de economia planificada, oposta à vertente económica do capitalismo, na altura pontificado pelos EUA, dada a destruição da Europa no rescaldo da Segunda Guerra Mundial. Porém, os ventos da história determinaram a queda do regime soviético e com isto o Pacto de Varsóvia, constituído em 1955 por iniciativa da URSS, gerado precisamente para fazer face à NATO.
O desmembramento da URSS deu origem à Federação Russa e a alguns Países independentes, entre os quais se insere a Ucrânia. No plano económico aquela Federação abandonou o figurino político-económico soviético, optando pelo regime do liberalismo capitalista. Está assim por descobrir qual o alcance defensivo da NATO. Sem prejuízo da proximidade da Ucrânia com a União Europeia e da invasão de que foi vítima, está por se descobrir até que ponto o seu caso possa servir de paradigma para constituir um perigo europeu, quanto mais seja por estar reconhecido que «não existe, de momento, qualquer ameaça aos 32 países da NATO».
Sabe-se que a relação da Ucrânia com a Federação Russa é muito específica do ponto de vista histórico, como o geográfico, geopolítico e económico, aspetos que não se relacionam com qualquer país europeu, pelo menos no plano do imediato. Outra é a questão da Ucrânia desejar pertencer à UE, tema que nada tem a ver com a NATO. Está assim visto que o destino da Europa não se encontra amarrado ao da Ucrânia, menos ainda na problemática de guerra.
A «mentalidade de guerra» proposta só se perspetiva sob os seguintes prismas: i) a tentativa de arrastar a UE para uma aventura de confronto contra países que se congregam no BRICS e a China; ii) comprometer as jovens gerações europeias confinando-as a um estado de instabilidade emocional e ódio vivencial contra uma pretensa «outra» parte de humanidade, afastando-as dos valores de paz, amizade e convívio entre Nações. Se «a guerra é brutal e feia», então nada justifica que no século XXI se aliste jovens de 18 anos para a guerra. Os abusos de invasões territoriais combatem-se com a força de organizações representativas mundiais como a ONU, até que a negociação diplomática resolva a questão; iii) um apelo para o incremento maciço da indústria armamentista, de natureza ofensiva pondo em causa um equilibrado relacionamento das economias mundiais, na produção de bens que possam contribuir para o bem-estar geral da população mundial em geral e a europeia em especial; iv) estar em causa a própria credibilidade na natureza defensiva da NATO face à fuga no pagamentos de quotas de grande maioria dos países que a compõem, a ponto do seu principal patrocinador – os EUA – ameaçar com a sua retirada; v) a fragilidade da máxima «paz através da força», por uma entrega de armas para combater ser incompatível com uma organização que se diz defensiva e vi) um desrespeito pelos mais elementares direitos da condição humana, pelo apelo à renúncia do direito à pensão, de poupança e de cuidados de saúde, baseado num não comprovado estado ou ameaça de guerra.
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