«Metamorfoses – os rios transbordam e desabam», é o título da exposição de pintura de Ilda David que podemos ver na Sociedade Nacional de Belas-Artes1, até 22 julho. Ilda David é uma das artistas plásticas portuguesas, da geração dos anos 80 do século passado, que marcou uma atitude dos novos artistas num retorno à pintura da bad painting, do neoexpressionismo e da transvanguarda, procurando «intensificar tradições e valores regionalistas americanos, alemães e italianos, respetivamente».2
Ilda David tem vindo a afirmar-se num «processo de investigação formal que representa um dos mais coerentes percursos da arte portuguesa, fazendo a ponte entre a literatura e a pintura, entre o poético e o onírico» e cujo denominador comum é «a tematização da irredutível diversidade da linguagem da natureza», segundo o curador Nuno Faria.
A propósito da exposição, que decorreu na Embaixada de Portugal / Centro Cultural de Português / Camões, no Luxemburgo, em 2021, o curador observou ainda que as obras de Ilda David «constituem-se como existências atmosféricas que dialogam cosmicamente com imagens e textos de outros tempos. Oferecem-se como campos de experiência e entendimento…que supera o tempo, o espaço, todas as distinções e hierarquias entre nós (todos os seres viventes) e o mundo, entre a realidade e a perceção que temos dela. A realidade é a respiração.»
Ilda David desenvolveu a sua obra como pintora, gravadora e ilustradora, sendo esta última, a área artística com que tem sido mais referenciada, destacando a ilustração de livros portugueses e estrangeiros, desde a obra «Fausto» de Goethe e obras de Camilo Castelo Branco, Maria Velho da Costa e Manuel António Pina. Ilda David, numa entrevista à edição online do Círculo de Leitores, afirmou que quando ilustra «quer que haja uma relação muito próxima com o texto. Quando fixo uma imagem, é como se estivesse a querer escrever uma ideia para não me esquecer. Só que não a escrevo, desenho-a. Passados dias, podia fazer uma imagem diferente. O texto é tão subtil. Ainda que seja possível a discordância, ele permite fazer sempre inéditos. A sua riqueza pode representar-se de tantas formas. Por vezes, a mesma imagem explora-se em perspetivas várias. E o texto não é traído. Aproximo-me da eloquência do texto com uma mão cheia de possibilidades.»
A Casa das Artes, do Porto apresenta a Exposição «Poetas mal copiados», de Rui Aguiar, que pode ser visitada até 31 julho. Fernando Echevarría, Mário Cláudio, Mário Brochado Coelho, José Carlos Marques e Rita Moreira, com os quais o artista Rui Aguiar tem relações de amizade e de colaboração artística, são os cinco poetas que são motivo da realização desta exposição. A associação COARA, entidade responsável pela organização desta exposição, revela que este conjunto de obras foram «recuperadas do espolio de Rui Aguiar exemplares do esforço que vem fazendo na preservação de um património cultural essencial para se entender o ambiente artístico português dos últimos 50 anos, bem como dos diversos caminhos que a liberdade política do pós 25 de Abril permitiu para a conceção da cultura visual e escrita contemporâneas».
Os trabalhos de Rui Aguiar (Porto, 1944), apresentados na exposição, são do início da sua atividade artística, dos anos 80, e trabalhos recentes, entre pinturas e imagens digitais. Este artista, que começou a expor regularmente desde 1972, desenvolveu uma investigação plástica como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian (1988 e 1989), esteve ligado à atividade cultural açoriana, como um dos sócios fundadores da galeria Teia e impulsionador das galerias Degrau (Terceira) e Francisco Lacerda (S. Jorge) e está representado em diversas coleções e museus, nomeadamente na Wassenhoven Collection – Bruges, Lalit Kala Akademi – Nova Deli, Museu de Arte Contemporânea – Fundação de Serralves; Coleção da Caixa Geral de Depósitos, Centro de Arte Moderna – Fundação Calouste Gulbenkian.
A Livraria Barata - Lugar de Cultura3 apresenta a exposição de desenho «17 + 17» de Filipa Morgado, até 31 de julho. Para Filipa Morgado, esta exposição é «um desfio ao tempo», é também «um lugar de consciência e agradecimento» e «propõe uma imersão no processo de matar a morte da sua memória, que está, até agora, sistematizado em três momentos: A tentativa de um possível descanso sobre o passado…», como segundo momento propõe «a indisciplina como existência transversal ao ser…» e por último propõe «a indisciplina como existência transversal ao ser…».
Filipa Morgado (1988) termina o mestrado integrado em Arquitectura pela FAUTL em 2014, estuda em Buenos Aires, vai viver e trabalhar na Cidade do México, frequentou uma oficina de joalharia, encontra a pintura, viaja pelo Canadá e Estados Unidos, volta a Portugal e estuda Cerâmica Criativa nas Caldas da Rainha. Os seus desenhos e as suas esculturas são o reflexo de um mundo complexo que a habita.
O espaço Banhos Velhos4, em Caldas das Taipas, Guimarães, no âmbito da sua 12.ª edição, acolhe a exposição «A-76 Exposição de Finalistas Artes Visuais» da Licenciatura em Artes Visuais da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho, decorrendo até 15 de julho. Participam nesta exposição Ana Bastos, Andresa Salazar, Bárbara Rombert, Carlota Neves, Cláudia Barbosa, Cláudia Monteiro, Concha Carvalho, Ianesis, Jéssica Costa, Laura Gonçalves, Margarida Lopes, Maria Venceslau, Pedro Costa, Rouxinol, S. Ara Ara. Újo, Tanya Rosewood.
Carla Cruz informa-nos no texto «Transformações», que o título foi inspirado no icebergue A-76, uma jangada de gelo que vai derretendo, chamando a atenção para o grande impacto que vai provocar nos ecossistemas oceânicos. Refere que «a água transforma e nós somos água. Pertencemos, como diz Astrida Neimandis, ao hidrocomum, "em que os nossos corpos de água se entrelaçam com outros corpos de água nos quais nos banhamos, dos quais bebemos, nos quais excretamos, que enfeitam os nossos jardins e constituem as nossas numerosas espécies companheiras."»
Carla Cruz, acrescenta ainda, que por analogia, «este grupo de estudantes de artes visuais, em exposição no Banhos Velhos, está em transformação, como o A-76 está a descolar-se da plataforma mãe, a Universidade do Minho, a Escola de Arquitetura, Arte e Design. Como um rizoma, aponta para direções diversificadas, como um icebergue, terá impacto no ecossistema artístico local, nacional e internacional.»
«Os Banhos Velhos são uma marca identitária e histórica na vila das Caldas das Taipas, no concelho de Guimarães. De origem romana, este espaço foi explorado, enquanto balneário termal, desde 1753 e essa sua atividade durou até meados da década de 70, seguindo-se um abandono de praticamente 30 anos. Apesar desse fator, este sítio nunca deixou de possuir um enorme simbolismo para a população local e a restauração, quase imperativa, deste edifício ocorreu, então, no ano de 2010, transformando-o num espaço de cultura e lazer, com programação na primavera e verão», segundo o historial deste espaço onde se apresentam concertos de música, exposições, workshops, tertúlias, cinema, teatro e ateliês infantis, entre muitas outras atividades.
- 1. Sociedade Nacional de Belas-Artes - Rua Barata Salgueiro nº36, Lisboa. Horário: segunda a sexta, das 12h às 19h, sábado, das 14h às 19h.
- 2. Rui Mário Gonçalves, Arte Portuguesa do Século XX, Círculo de Leitores. Lisboa. 1998, pg. 116.
- 3. Livraria Barata - Lugar de Cultura - Avenida de Roma, 11, Piso 1, Lisboa. Horário: Segunda a sábado: 10h-20h; Domingo e feriados: 10h-19h.
- 4. Banhos Velhos - Largo das Termas, 4805-079 Caldas das Taipas, Guimarães. Horário: sextas das 15h às 19h, sábados das 10h às 13h e das 15h às 19h (com exceção do sábado, dia 15 de julho em que estará aberta apenas no período da tarde).
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