|conflito israelo-palestiniano

Exigências de Israel forçam adiamento das negociações de paz

O impasse negocial prende-se com novas e inaceitáveis exigências israelitas, o que representa um retrocesso relativamente aos acordos alcançados a 2 de Julho, que os palestinianos estariam dispostos a aceitar.

Palestinianos fogem dos campos de deslocados perante o avanço do exército israelita a oeste da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 28 de Junho de 2024. De acordo com a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), desde o dia 7 de Outubro de 2023 mais de 75% da população passou a estar deslocada por toda a Faixa de Gaza, em busca de segurança. No enclave palestiniano há já 2,15 milhões a passar fome, o que corresponde a 96% da população da região.  
Palestinianos fogem dos campos de refugiados de Rafah após ataques israelitas, em Junho de 2024 CréditosHaitham Imad / EPA

A resistência palestiniana, representada pelo Hamas, não marcou presença nas negociações em Doha, no Catar, limitando-se a manter contactos com alguns mediadores, ao contrário da ideia que Israel e os EUA pretendem fazer passar, de que o Hamas estaria a participar no processo de negociação, mas se manteria irredutível em alguns aspectos. No fundo, procurando responsabilizar a resistência palestiniana pelo fracasso das negociações.

As negociações no Catar assumiram-se, assim, como um retrocesso em relação aos acordos alcançados no início de Julho, e que a parte palestiniana se preparava para aceitar. Israel, por um lado, recusou várias propostas do Catar e do Egipto e, por outro, retomou questões inaceitáveis para os palestinianos, nomeadamente a pretensão de retomar os ataques militares e de permanecer no chamado corredor de Filadélfia, que liga o Egipto a Gaza, e em Netzarim, dividindo em duas partes o território palestiniano.

Trata-se, portanto, de uma posição irredutível de Israel que, uma vez mais, impede a concretização de um cessar-fogo e que conta com a cumplicidade e o apoio dos EUA, sustentado, por exemplo, no anúncio feito pelo Pentágono, no dia 13 de Agosto, vésperas das negociações, relativo a mais um fornecimento de armamento a Israel no valor de 20 mil milhões de dólares. Depois, os ataques a Teerão e a Beirute, que mataram o líder do Hamas e dois dos principais dirigentes militares do Hezbollah, ou ao Iémen e à Síria, não seriam feitos sem o conhecimento dos Estados Unidos da América.

Por outro lado, a reunião realizada esta segunda-feira entre o secretário de Estado dos EUA, Blinken, e o primeiro-ministro israelita, Netanyahu, teve lugar em Jerusalém, o que não pode deixar de representar uma provocação à parte palestiniana. Em 2018, Trump mudou a embaixada norte-americana para Jerusalém, mas Biden não só manteve a decisão, como agora a utiliza, alegadamente, para reuniões de paz. Uma realidade que mostra como são ténues as diferenças entre democratas e republicanos, pelo menos na política externa.

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