O antigo Albergue da Mendicidade da Mitra de Lisboa era a instituição onde a polícia da ditadura prendia, sem condenação nem recurso, quem queria fazer desaparecer das ruas. A partir de «histórias de homens, mulheres e crianças agrilhoadas pela condição social, orientação sexual ou pela fragilidade da saúde mental», o TEF – Teatro Estúdio Fontenova construiu uma peça para «desmistificar o que foi realmente o albergue», escreve a companhia na apresentação da peça.
A criação, com texto original de Luísa Monteiro e encenação de José Maria Dias, responsável também pelo espaço cénico, põe em cena «um círculo vicioso de segredos» e denuncia um dos capítulos mais negros e menos conhecidos da ditadura portuguesa, em que «era prática comum branquear para não se questionar e alimentar uma rotina de felicidade obedecida e calada».
Oficialmente extinto com o fim da ditadura, o Albergue da Mendicidade de Lisboa, ou Mitra, localizado nos armazéns de uma antiga fábrica de cortiça, em Lisboa, foi o depósito de mais de 20 mil adultos e crianças, entre pedintes, sem-abrigo, deficientes, doentes mentais e prostitutas, que, controlados pela PSP, foram escondidos do olhar do público, muitos por vários anos.
O TEF revela agora «segredos ocultos, a partir de estórias tímidas, outras sem filtro, ora sussurradas, ora gritadas».
Qual Estado da Nação?, trabalho interpretado por Graziela Dias, Patrícia Paixão e Sara Túbio Costa, está em cena no Fórum Municipal Luísa Todi até 24 de Novembro, com sessões diárias às 21h, com excepção do dia 17, em que é apresentada às 17h.
A peça tem música original de João M. Mota e voz de Cátia Mazari Oliveira (cantautora conhecida pelo nome artístico «A Garota Não») na canção final.
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