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Espaços de diálogo e afirmação nas diferentes expressões artísticas

Festa da Ilustração de Setúbal, Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, exposição de Rogério Araújo na Biblioteca da NOVA FCT da Caparica e exposição de Luísa Cunha no Lumiar Cité, em Lisboa.

Obra de Ca_teter, Composición, 2015. Exposição «Ilustração do Uruguai» – Festa da Ilustração de Setúbal – Casa da Cultura, Setúbal, até 29 de dezembro<br /> 
Obra de Ca_teter, «Composición», 2015. Exposição «Ilustração do Uruguai» – Festa da Ilustração de Setúbal – Casa da Cultura, Setúbal, até 29 de dezembroCréditos / Ca_teter

A Festa da Ilustração de Setúbal, que este ano alia a comemoração do seu décimo aniversário à celebração dos 50 Anos do 25 de Abril, com exposições que decorrem em diversos equipamentos culturais do concelho, onde se exploram os valores da liberdade e da resistência e homenageiam figuras que lutaram pela democracia em Portugal. A Festa da Ilustração é organizada pelo Município de Setúbal e decorre entre os meses de outubro e dezembro de 2024. 

Nesta edição, com os curadores José Teófilo Duarte e Jorge Silva, destacou-se a participação de Catarina Sobral, vencedora do Prémio Nacional de Ilustração 2024, como convidada nacional, e de três ilustradores uruguaios, os convidados estrangeiros, além de prestar também homenagem ao ilustrador veterano João da Câmara Leme. 

A exposição coletiva «Ilustração do Uruguai» integra três galardoados na nona edição do Prémio de Ilustração do Uruguai, ca_teter, Victoria Capdepon e Alejo Schettin, decorre na Casa da Cultura, Setúbal1 e pode ser visitada até 29 de dezembro. 

Ca_Teter apresenta um trabalho autobiográfico que vai de «recordações de infância noutro país», nomeadamente «memórias de companheiros de infância na escola primária na Argentina», a uma série de ilustrações sobre pugilistas, um tema de que o pai gostava. Alejo Schettini disse que todos trabalhos apresentados não têm uma leitura linear, «são aspetos do meu percurso na vida», e revelou que o seu trabalho de animação em exposição num ecrã é composto por curtas-metragens relacionadas com pássaros. Quanto aos seus trabalhos, Victoria González revelou que os três quadros que tem expostos resultam de um fanzine que fez em 2020 e considerou que «o espaço público é o espaço privilegiado para se fazer a revisão da história».

No âmbito da Festa da Ilustração o Convento de Jesus apresenta-se ainda a exposição «A Presença das Formigas – Obra Gráfica José Afonso», aberta ao público também até 29 de dezembro, a homenagem «João da Câmara Leme: a década prodigiosa», que fica patente até 14 de dezembro na Galeria Municipal do 11, e a exposição «Ilustrar a Liberdade – a imprensa da Revolução», que fica em exibição no Museu do Trabalho Michel Giacometti até 4 de janeiro de 2025.

BF24- Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, até 19 de janeiro de 2025 Créditos

Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira é uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira desde 1989, com o objetivo de promover a divulgação da fotografia enquanto expressão artística e constituir um espaço de interação e participação cultural. A Bienal de Fotografia tem cativado, ao longo das diversas edições, os melhores nomes nesta área de expressão artística, atraindo não só o público já fidelizado a esta forma de arte, como cativando novos e diferentes públicos culturais. 

A exposição dos trabalhos selecionados da BF24- Bienal de Fotografia decorre de 30 de novembro a 19 de janeiro de 2025, no Celeiro da Patriarcal2, em Vila Franca de Xira. A seleção das candidaturas à próxima edição da Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira incidiu sobre um total de 132 candidaturas, tendo sido nomeados os artistas Alexandre de Magalhães, Bruno Parente, Catarina Cesário Jesus, Daniel Malhão, Filipe Bianchi, Gonçalo C. Silva, Jorge Vale, Marcos Duvágo, Pedro Rocha, Ricardo Moita, Rodrigo Vargas e Rui Pereira, no âmbito dos quais será posteriormente feita a atribuição dos prémios.

Esta Bienal apresenta ainda um programa curatorial, intitulado «Serpente Infinita», com curadoria de Ana Rito, onde se podem ver obras dos artistas Adriana Molder, Anna Maria Maiolino, Bárbara Fonte, Bruce Nauman, Brígida Mendes, Carla Cabanas, Damir Očko, Daniela Ângelo, Denilson Baniwa, Elisa Azevedo, Igor Jesus, Inês Moura, Irit Batsry, Paulo Arraiano, Sandra Rocha, Sr. Teste Edições (Catarina Domingues e Ricardo Ribeiro) e Tris Vonna-Michell. 

«Serpente Infinita» irá criar «zonas de contacto e de diálogo e examinando as relações entre a fotografia e a videoarte, a literatura, a performance, o cinema e o desenho, as exposições-ações são percebidas como cosmologias cruzadas de universos autorais que operam no campo aberto da fotografia», segundo o texto da curadora Ana Rito. Este projeto organiza-se em dois momentos distintos: as exposições na Fábrica das Palavras, na Galeria Paulo Nunes, no Núcleo Museológico Mártir Santo, assim como as intervenções na fachada do Museu do Neo-Realismo e no Museu Municipal, inauguraram em novembro. A exposição coletiva do programa «Serpente Infinita» no Celeiro da Patriarcal inaugura a 15 de fevereiro de 2025. Todas as exposições do programa curatorial podem ser visitadas até 23 de março de 2025.

Obra de Rogério Araújo, «Nós Outros», Óleo sobre tela, 100 cm x 80 cm. Exposição de pintura «Nós Outros», de Rogério Araújo, na Sala de Exposições da Biblioteca da NOVA FCT, Caparica, Almada, até 15 de janeiro de 2025  Créditos

A exposição de pintura «Nós Outros», de Rogério Araújo, decorre na Sala de Exposições da Biblioteca da NOVA FCT3, Caparica, Almada, e pode ser visitada até 15 de janeiro de 2025. Esta exposição integra várias expressões artísticas, como pop art, banda desenhada, pintura, design gráfico e caricatura, estabelecendo um diálogo entre as mesmas.

A exposição «Nós Outros», «demonstra bem como as fronteiras em arte e cultura se tornaram fluidas na contemporaneidade, permitindo que todas as formas de expressão sejam reconhecidas como significativas. Elementos da cultura popular, como publicidade, histórias em quadradinhos e produtos de consumo, transformam-se em arte. Ao fazer isso, elevando objetos do quotidiano e ícones mediáticos a um status artístico, os conteúdos evoluíram para incluir obras complexas e profundas, comparáveis à literatura e ao cinema», segundo José J. G. Moura, o Comissário para as Atividades Culturais no Campus.

A obra de Rogério Araújo, como refere Júlio Cesar Reis, é uma «mistura de realismo mágico e ironia pós-moderna … (de que aqui temos uma pequena mostra) constitui-se como fonte maravilhosa de um bestiário contemporâneo, ora luminoso, ora sorumbático, mas também plácido e melancólico. A lente que nos vê transfigura-nos em outros. Mas somos sempre outros. Nós outros, hermanos, irmanados na mesma situação», concluindo ainda César Reis, no texto de sala, que «a condição humana é trágica e cómica. E, por isso, um convite a rir frente ao espelho. A olhar os outros e a ver melhor.»

O espaço de exposições Lumiar Cité4, da Associação Maumaus – Centro de Contaminação Visual, apresenta a exposição «ODD», com obras da artista Luísa Cunha. A exposição decorre até 22 de dezembro.

Obra de Luísa Cunha, «P», 2005, fotografia, cor, impressão digital, 75x100 cm. Exposição «ODD» de Luísa Cunha, no espaço de exposições Lumiar Cité/Maumaus, Lisboa, até 22 de dezembro Créditos

Acerca da atividade artística de Luísa Cunha, segundo o crítico de arte Nuno Crespo, «há dois elementos comuns, a saber: a maneira como inscreve a linguagem no corpo das obras ou nos seus títulos, e uma certa ideia de absurdo que diz respeito à forma como esta artista lida (alterando, invertendo, desrespeitando) com os protocolos da experiência das obras de arte e com todas as expectativas existentes sobre o que é e o que deve dizer uma obra de arte.»5

Para esta exposição, «a artista criou novos contextos para duas peças de sua extensa obra, acompanhadas de suas possíveis leituras que derivam das características arquitetónicas desafiadoras de Lumiar Cité. Com estes combinados, Cunha ativa habilmente o local e a sua integração no bairro da Alta de Lisboa, ao mesmo tempo que a especificidade do espaço expositivo que a artista identificou confere às suas obras um significado especial. Uma nova instalação sonora produzida especialmente para a exposição centra-se no olhar da própria arte, onde o que se ouve parece competir com o que se vê ao chamar a atenção para um objeto físico, através do qual o aspeto imaterial da obra se torna indissociável da sua manifestação material.», segundo o texto da exposição. Acrescentando também este texto que «a arte de Luísa Cunha remete-se a si mesma; Entre todas as perspetivas possíveis para abordar seu trabalho, é sua autorreferencialidade "silenciosa" que permite ao espectador contemplar as circunstâncias necessárias para que a arte possa existir.»


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Casa da Cultura, Setúbal – Rua Detrás da Guarda, 28 2900-347 Setúbal. Horário: domingo a quarta-feira, das 10h às 22h; quinta-feira a sábado, das 10h às 0h.
  • 2. Celeiro da Patriarcal – Rua Luís de Camões n.º 130 Vila Franca de Xira. Horário: terça-feira a domingo, das 15h às 19h.
  • 3. Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade NOVA de Lisboa, Campus da Caparica, 2829-516 Caparica. Horário: Período letivo – segunda a sexta-feira, das 9h às 20h; Férias / Período intercalar – segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
  • 4. Lumiar Cité – Rua Tomás del Negro, 8A 1750-105 Lisboa. Horário: quarta a domingo, das 15h às 19h.
  • 5. Excerto do texto de Nuno Crespo para a exposição «A Bit of Matter and a Little Bit More», na Galeria Miguel Nabinho, em 2015.

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