Os resultados finais deram a vitória ao «não» à reforma constitucional proposta pelo primeiro-ministro, Matteo Renzi, e pela ministra da Reforma Constitucional, Maria Boschi, com 59,1% dos quase 33 milhões de italianos que votaram ontem.
Apesar da dramatização levada a cabo por Renzi, a sua tese de que uma participação acima dos 60% dos eleitores italianos garantiria a vitória ao «sim» saiu também derrotada, com uma afluência de 65%, a mais alta em referendos dos últimos 20 anos.
Em conferência de imprensa no Palácio Chigi, o primeiro-ministro assumiu a derrota e anunciou que irá levar ao presidente da República a sua renúncia ao cargo ainda hoje, após a última reunião do Conselho de Ministros presidida por si, esta tarde.
O presidente, Sergio Mattarella, deverá então designar um novo chefe do executivo oriundo do Partido Democrático, que tem a maioria dos deputados na câmara baixa, mas não no Senado, ou iniciar um novo processo eleitoral.
«O povo italiano escolheu a Constituição nascida da Resistência contra a Constituição liberal de Renzi»
Paolo Ferrero, Partido da Refundação Comunista
Alguns dos partidos que contestaram a reforma que visava integrar no texto constitucional o sistema eleitoral que dá ao partido mais votado uma maioria na Câmara dos Deputados actualmente em vigor já vieram pedir eleições antecipadas no imediato. A expectativa é que possam capitalizar o resultado do referendo para garantirem uma maioria parlamentar, ainda que não consigam alcançar uma maioria eleitoral.
Na sede do Comité pelo Não, foi lembrado que só um sistema eleitoral proporcional está de acordo com a Constituição italiana, agora que a reforma de Renzi e Boschi foi derrotada nas urnas. «Se [Renzi] quer uma lei eleitoral, tem uma lei aprovada com o nome do presidente [Mattarella]», afirmou Paolo Ferrero, dirigente do Partido da Refundação Comunista, na noite passada, referindo-se à lei eleitoral da autoria do actual presidente e aprovada em referendo em 1993, noticia a edição italiana do Huffington Post.
A lei Mattarella esteve em vigor até 2005 e regulou os processos eleitorais de 1994, 1996 e 2001. Desde então, o partido mais votado passou a ter garantidos 340 dos 617 deputados na câmara baixa, independentemente do apoio eleitoral. Foi o que aconteceu nas últimas eleições, em 2013, em que a coligação liderada pelo Partido Democrático elegeu a maioria dos deputados com menos de 30% dos votos. O partido de Matteo Renzi recebeu menos 7,76% dos votos, em comparação com as eleições de 2008, mas ganhou mais 81 deputados.
«O povo italiano escolheu a Constituição nascida da Resistência contra a Constituição liberal de Renzi. Agora é preciso aplicá-la», referiu Ferrero, depois de conhecidos os resultados, em declarações ao diário digital affaritaliani.it.
Itália tem a segunda maior dívida pública da zona euro, a seguir à Grécia, e tem vindo a acumular anos de crescimento anémico. A este cenário económico somam-se problemas que se vêm arrastando no sector financeiro.
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