O presidente do Santander Totta, em entrevista ao Dinheiro Vivo, publicada no sábado, revelou a expectativa de que a filial do gigante da finança espanhol se torne no maior banco privado português em 2018, após a integração da filial do também espanhol Banco Popular.
Mas, para entender como o Santander se tornou num gigante da banca também em Portugal, é preciso recuar ao início do século. No final da década de 1990, a presença no nosso país era residual. O crescimento deu-se, num primeiro momento, através da compra do Totta & Açores e do Crédito Predial Português a António Champalimaud, privatizados pelo governo de Cavaco Silva.
Um presente chamado Banif
Na entrevista, António Vieira Monteiro afirmou: «Crescemos, sem qualquer ajuda estatal, apresentamos os melhores resultados, os melhores rácios e os melhores ratings. Mesmo durante a crise, apresentámos sempre lucros.»
No entanto, a tese de um ausência de ajuda estatal não bate certo com a realidade. A segunda fase de crescimento acelerado do (entretanto rebaptizado) Santander Totta surge nos últimos anos, com um contributo precioso do Estado português. No final de 2015, o banco recebe o Banif, de capitais quase totalmente públicos, a troco de 150 milhões de euros. O preço da operação foi recuperado no ano seguinte apenas com o crescimento dos lucros do banco.
O Banif foi sofrendo injecções sucessivas de capital público e garantias de Estado, num valor total superior a 1,6 mil milhões de euros, pelo governo do PSD e do CDS-PP. O anterior executivo deixou a conclusão do processo para o actual Governo do PS, para não sujar a «saída limpa da troika» e o período eleitoral de 2015. No final desse ano, o PSD dava as mãos ao PS e ambos aprovavam um orçamento rectificativo (o nono em apenas quatro anos) para permitir a operação de entrega.
Pelo caminho, o banco encaixou muitos milhões através dos ruinosos contratos swap que conseguiu vender a empresas públicas do sector dos transportes. O Estado ainda tentou anular os contratos, mas sem sucesso. Quem negociou em nome das empresas públicas (nomeadamente a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque) permitiu que a litigância fosse feita obrigatoriamente em Londres, onde as decisões são, habitualmente, mais favoráveis à especulação financeira do que em Portugal.
Um novo presente chamado Popular – e mais despedimentos
O crescimento do Santander em 2018 não se circunscreve a Portugal. A absorção do Banco Popular, que ainda aguarda autorização dos reguladores, deve tornar o gigante espanhol no segundo maior banco europeu, apenas atrás do franco-belga BNP Paribas. O grupo Popular foi comprado, já este ano, pelo Santander a troco de um euro, numa operação patrocinada pelas autoridades espanholas e da União Europeia, em linha com o processo de consolidação bancária europeia em torno de alguns mega-bancos.
O grupo Santander anunciou hoje a saída de 1100 trabalhadores em Espanha no próximo ano, após a integração do Popular. Isto representa mais de 10% do total de trabalhadores do Popular no país vizinho, que, no último ano, já forçou a saída de cerca de 2200 trabalhadores.
Em Portugal ainda não foram anunciados números, mas o Dinheiro Vivo avança que o banco vai continuar a «ajustar o número de trabalhadores». A experiência da integração do Banif sinaliza o que se pode seguir: desde o final de 2015, foram mais de 400 os trabalhadores que saíram. A filial portuguesa do Banco Popular tinha, no final de Junho, 898 trabalhadores, depois de uma redução de mais de 20% num ano.
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