Com mais de 2 milhões de votos obtidos, os partidos que conformam o chamado bloco a favor da independência da Catalunha conseguiram ver reforçada a sua votação nas eleições autonómicas que ontem se celebraram no território e manter a maioria absoluta no Parlament, ficando com 70 dos 135 assentos parlamentares.
A formação conservadora Juntos pela Catalunha (JuntsxCat), do destituído e exilado Carles Puigdemont, foi, neste bloco, a mais votada, tendo obtido 34 deputados. Por seu lado, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, de centro-esquerda), do preso Oriol Junqueras, alcançou 32 deputados, enquanto a Candidatura de Unidade Popular (esquerda) registou uma forte queda em número de votos e eleitos relativamente a Setembro de 2015 (passou de dez para quatro).
Como o bloco nacionalista espanhol, juntamente com a filial do Podemos na Catalunha, obtiveram 65 deputados, em casos de aprovação de diplomas por maioria simples o JuntsxCat e a ERC, com os seus 66 deputados, já não precisam da CUP.
Salta à vista que o bloco pró-independência tenha obtido estes resultados num contexto francamente adverso, após a aplicação do artigo 155.º pelo governo de Mariano Rajoy, a destituição do governo autonómico, a dissolução do Parlamento regional, o controlo da «autonomia» pelo governo central, com a figura «conservadora» de Soraya Sáenz Santamaría a assumir a presidência da Generalitat.
As eleições de ontem decorreram igualmente num contexto de chantagem económica, de ameaças físicas e de franca ofensiva mediática contra o «separatismo», ao mesmo tempo que figuras ligadas ao nacionalismo espanhol, nomeadamente Inés Arrimadas (Ciudadanos), foram amplamente projectadas pela comunicação social dominante – a que alguns chamaram «do regime».
Elevada participação, vitória do Ciudadanos
Outros dados que saltam à vista são a elevada participação (cerca de 82%) e a clara vitória do Ciudadanos (com mais de 1 100 000 votos e a eleição de 37 deputados). Não deixa de ser curioso que um partido sem uma única autarquia na Catalunha vá constituir o maior grupo parlamentar na próxima legislatura e que a sua candidata à presidência da Generalitat tenha poucas hipóteses de o ser.
No bloco unionista, o Partido dos Socialistas da Catalunha mostrou pouca capacidade de crescimento – apesar de, na campanha, a imprensa muito o ter badalado –, obtendo mais um deputado (17) que em 2015. O Partido Popular, o do artigo 155.º e da Lei da Mordaça, que governa em Espanha, afundou-se na Catalunha, onde foi o menos votado e obteve três deputados (tinha 11).
A filial do Podemos (Catalunya en Comú), que ora está para cá, ora está para lá, perdeu cerca de 40 mil votos e três deputados, ficando com oito.
Novas acusações
Entretanto, ontem, precisamente ontem, a imprensa trazia a público que, a 15 de Setembro último, a Guarda Civil enviou a um juiz do Supremo Tribunal espanhol dados que permitem incriminar mais seis pessoas ligadas ao independentismo, por crimes de «rebelião, sedição e suspeitas de corrupção».
Segundo o inquérito da Guarda Civil, estas seis pessoas participaram «no processo de ruptura» da Catalunha e juntam-se às mais de duas dezenas de indiciados por ligação ao processo soberanista no território.
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