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Comissão mista apela ao fim da violência da Nicarágua

A vontade de dialogar ficou patente esta segunda-feira na declaração da comissão mista (governo e oposição), apesar de certos grupos da oposição continuarem a espalhar a violência e o caos nas ruas.

A comissão mista, integrada por três elementos do governo e três da oposição, fez um apelo ao fim imediato da violência na Nicarágua
Créditos / noticiasvenezuela.org

Ao cabo de mais de seis horas de negociações à porta fechada, a comissão mista (composta por três representantes do governo e três da Aliança Cívica) mostrou-se disposta a retomar as conversações para reconduzir o país a um caminho de paz.

A comissão tem como missão definir uma agenda de debate na mesa de diálogo entre os nicaraguenses, que foi convocada por Daniel Ortega e a que a Conferência Episcopal pôs fim, na passada quarta-feira, por falta de consenso. A Igreja nicaraguense sugeriu então a formação dessa comissão, composta por três elementos de cada uma das partes.

No dia seguinte, representantes do governo sandinista deram uma conferência de imprensa para sublinhar que a agenda deve passar, antes de mais, pelo desmantelamento das guarimbas e pela garantia de circulação pessoas e bens.

Por seu lado, a Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia (oposição) já tinha deixado claro que a agenda de debate deveria girar em torno da criação de uma nova Lei Quadro para o país, da antecipação de eleições e o impedimento da reeleição do presidente, entre outras questões.

Ontem, após longas horas de negociação, a comissão veio a público anunciar que os representantes do governo e os da oposição chegaram a acordo sobre vários pontos com vista à continuidade do diálogo e, numa declaração, fez um apelo ao fim imediato de «toda a violência», segundo informam a Prensa Latina e a TeleSur.

Também apelou ao fim das agressões contra qualquer órgão de comunicação e exortou a imprensa a deixar de propagar notícias falsas e que instigam a violência, ao mesmo tempo que condenou os ataques contra a Universidade Nacional de Engenharia e a emissora Tu Nueva Radio Ya, que ontem foram perpetrados.

A oposição envolvida no diálogo «reafirmou o seu compromisso de juntar esforços e enviar uma mensagem para flexibilizar os bloqueios de estradas».

Oposição dividida

Apesar deste sinal, fontes próximas das conversações revelaram que os opositores aos governo nicaraguense estão divididos, havendo quem defenda a continuidade do diálogo e uma saída por via de eleições, dentro do actual quadro constitucional, e quem queira uma ruptura e exija a renúncia imediata do governo, indica a Prensa Latina.

As mesmas fontes referem que os grupos mais «radicais» estão a pressionar fortemente os empresários para que rompam o diálogo e paralisem o país – algo a que o sector empresarial tem resistido, alegadamente pelas consequências económicas que tal passo teria.

Segunda-feira de grande violência

Manágua, a capital do país, viveu ontem um dia de grande violência, sobretudo das imediações da Universidade Nacional de Engenharia e nas instalações da Tu Nueva Radio Ya, que foi incendiada.

Um agente da Polícia nicaraguense morreu ao ser atingido por uma bala na cabeça e vários outros agentes foram feridos a tiro por «grupos de delinquentes» que assaltaram a universidade referida e «atacaram com pedras, morteiros, cocktails Molotov e disparos» as instalações da rádio, de acordo com El 19 Digital.

No sábado, um grupo da «direita golpista» atacou e queimou uma casa comunal da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) em Altagracia, no departamento de Rivas. Feriram ainda 16 pessoas, incluindo o pároco da localidade e algumas mulheres que tentaram impedir a destruição do espaço, atacando-os à pedrada.

Os protestos violentos na Nicarágua começaram a 18 de Abril e parecem ter sido desencadeados pela reforma da Segurança Social aprovada pelo governo nicaraguenese dois dias antes. Então, o executivo acusou grupos de «delinquentes» de usarem essa reforma para, «instigados» por determinados sectores da direita, «procurarem obter benefícios políticos».

A 22 de Abril, a reforma foi revogada, com o propósito declarado de facilitar o diálogo e ajudar a reestabelecer a paz no país. No entanto, os actos de vandalismo prosseguiram, levando o governo a defender que a reforma da Segurança Social serviu apenas de desculpa para pôr em marcha um «plano de desestabilização» e espalhar «o caos e a instabilidade» na Nicarágua, com determinados propósitos políticos – leia-se: «derrubar o governo sandinista».

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