Intervindo, ontem à noite, nas cerimónias do 39.º aniversário da constituição da Força Aérea da Nicarágua, o chefe de Estado, Daniel Ortega, sublinhou os dias de «terror» vividos no país desde 18 de Abril, em que vários compatriotas seus «foram queimados vivos», incluindo polícias. É «terrorismo, não há outra palavra», disse.
Afirmando que o seu país foi alvo da desestabilização «financiada por grupos extremistas norte-americanos e organizações desse país», Ortega lembrou que os grupos desestabilizadores e o plano golpista não surgiram do nada, como «por arte de magia».
O presidente nicaraguense referiu-se à presença de grupos armados nas zonas rurais do país desde que a Frente Sandinista regressou ao poder, em 2007, e recordou a «feroz campanha» de manipulação em torno do projecto do Canal Interoceânico, fazendo crer às populações da região do canal que lhes iam ser roubadas as suas terras, «mentindo-lhes, organizando marchas com elas, para provocar levantamentos armados», disse.
«[O plano golpista] não é novo, vinha a desenvolver-se, a crescer e procurar formas de se expandir em diferentes direcções, até que encontrou a oportunidade de se concretizar a partir de 18 de Abril último», frisou, citado pela Prensa Latina.
A reforma da Segurança Social, posteriormente retirada, foi a janela de oportunidade que os grupos de desestabilização encontraram.
No entanto, Ortega fez questão de sublinhar que não foram os pensionistas e os trabalhadores que vieram para as ruas, mas os dirigentes de ONG, «que de imediato se transformaram em grandes defensores dos reformados».
Financiados em Miami ou na Costa Rica, os «grupos de delinquentes ligados ao narcotráfico» dependem de organizações cuja agenda visa «desgastar o governo». Agora, fizeram-no «atacando esquadras da Polícia e o Exército», provocando «mortos entre a Polícia, assassinando agricultores e famílias inteiras», denunciou.
Justiça para as vítimas do terrorismo golpista
Falando na mesma cerimónia, a vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, exigiu justiça e reparação para as vítimas do terrorismo golpista.
«Pedimos castigo, não vingança», disse Murillo ao denunciar os sequestros, as torturas, as violações e as ameaças sofridos pelas famílias nicaraguenses ao longo dos três meses da crise sociopolítica que abalou o país.
A vice-presidente afirmou que há «autores intelectuais e materiais, bem como agentes internos e externos que financiaram todas as acções contra o povo, provocando o derramamento de sangue». Neste contexto, salientou, exigir justiça não é «espalhar o terror, mas pedir que os golpistas paguem pela destruição que provocaram, pois tanta barbárie terrorista não pode ficar impune», indica a Prensa Latina.
Polícia anuncia a detenção de centenas de «delinquentes»
A Polícia nicaraguense informou esta terça-feira que deteve 97 indivíduos por práticas de crimes perpetrados no contexto escalada de violência que abalou o país centro-americano nos últimos três meses.
Esta informação segue-se à que dá conta da detenção de centenas de «delinquentes» – entre os quais se incluem membros de grupos criminosos salvadorenhos –, no âmbito das acções para reestabelecer a segurança e tranquilidade no país.
A Polícia disse ainda ter desarticulado vários grupos, qualificados como «terroristas», pela sua participação em diversas acções violentas: assassinatos, tortura, violações, sequestros e destruição de propriedade pública e privada.
Avançam trabalhos de reconstrução
De acordo com o Instituto Nicaraguense de Fomento Municipal (Inifom), cerca de 90% do comércio local já regressou à normalidade. As melhorias são também patentes na área do turismo, em locais como San Juan del Sur, Masaya e Granada, onde os visitantes estão a regressar.
Em declarações à Prensa Latina, Guiomar Irías, presidente executiva do Inifom, confirmou o início da reparação de infra-estruturas municipais que foram destruídas, incendiadas e saqueadas por elementos ligados ao «terrorismo golpista», bem como a reabilitação de 70% das vias rodoviárias do país.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui