AbrilAbril – 33 anos depois o que é que diferencia este festival?
António Matos – O festival é, desde a primeira hora, uma mostra do que se faz em Portugal. Desde as primeiras edições procurou ser representativo de algumas dramaturgias de vários países. Consolidou esse formato e essa característica de ser um festival que traz a Almada e ao país, as mais diversas propostas cénicas e os grandes textos da dramaturgia mundial, mas que também possibilita a apresentação pública de ensaios, de pesquisas, de um teatro de «nicho» e apresenta um painel representativo dos novíssimos teatros europeus. Esta edição traz, por exemplo, o teatro italiano. Portanto, a diferenciação é esta. É o festival da diversidade estética, da diversidade de propostas dramatúrgicas, representativo dos vários teatros internacionais. É, sintetizando, o teatro do mundo. Só nesta edição estão presentes, além de Portugal, 13 países.
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A forte componente de espectáculos de rua pressupõe uma aposta na democratização do acesso à cultura. No processo de elaboração do programa é tida em conta a opinião do público?
Sim, fazem-se estudos de opinião. Ao longo do festival pergunta-se às pessoas qual o espectáculo de que gostaram mais e aquele que gostaram menos, informação para ter em conta nos festivais seguintes. Aquele que, por votação do público, for considerado o melhor, será o convidado de honra no festival do ano seguinte. Este modelo costuma ser um grande sucesso.
O que é que esta iniciativa representa para a autarquia em termos de investimento?
Para além do investimento logístico de vária natureza, nomeadamente em termos de recursos humanos, a Câmara Municipal de Almada atribui ao festival uma verba de 200 mil euros. Apesar da crise que conduziu à diminuição do investimento na cultura em todas as áreas, tanto a nível central como ao nível dos municípios, em Almada, por opção política temos mantido este nível de financiamento e foi essa a verba que já há alguns meses foi colocada à disposição da Companhia de Teatro de Almada (CTA). A cidade tem um público com um grande conhecimento de teatro, diria mesmo que está acima da média nacional, e para tal contribui também esta festa.
A crise afectou a atribuição do apoio ao festival?
O montante veio a crescer até há três ou quatro anos. Desde então tem-se consolidado nos 200 mil euros.
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Qual tem sido o retorno? O que é que o festival devolve à cidade de Almada?
Desde logo significa a possibilidade de os cidadãos do nosso concelho contactarem, a preços reduzidos, com o melhor teatro que se faz em Portugal e com propostas diversas e avançadas a nível europeu. Significa também a possibilidade de a cidade oferecer bom teatro e receber gente da cultura, profissionais do espectáculo. Naturalmente, não só as companhias que nos visitam e que ficam alguns dias na cidade, mas também actores, criadores e encenadores, do país e do estrangeiro, que fazem de Almada a sua terra, durante duas semanas. E isso muito ajuda a gente da cultura de Almada nas trocas de opiniões, partilhas e encontros que levam ao desenvolvimento cultural. Do ponto de vista económico também significa retorno financeiro. Quero, porém, sublinhar que não é esse o objectivo do município, mas também conta. Durante 15 dias, alguns milhares de pessoas ficam alojados em Almada, visitam a cidade, procuram os seus museus, as suas praias e à noite participam nos espectáculos. Há muitas pessoas que tiram as suas férias para estar em Almada.
Qual é o orçamento anual da autarquia para o sector da cultura?
Habitualmente fala-se que quando se atinge um 1% para a cultura seria muito bom já que Portugal tem menos do que isso. Almada atribui à volta de 6% do seu orçamento para a cultura. Um dado suficientemente elucidativo é que a Câmara de Almada atribui à área do teatro em geral, isto é, no apoio à CTA, no apoio à Companhia Extremo – que faz teatro para a infância e que ocupa o outro teatro municipal existente, e no apoio às várias companhias de teatro amador, só na actividade e não em obras, 1 milhão e 200 mil euros. É o valor que a câmara municipal atribui a toda a área do teatro, só para a produção, criação, programação e acolhimento. Não estão aqui em causa as obras e o que custou o Teatro Municipal Joaquim Benite, que tem dez anos e que custou 12 milhões de euros, para o qual o município apenas recebeu do Estado 2 milhões e 500 mil euros. Assim como o outro teatro que foi recuperado há três anos, o teatro António Assunção.
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